segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Céu de Diamantes

Brilha demais com um brilho que ofusca que perde a respiração que deixa você tonto deixa você paralisado deixa perdido inquieto intrigado insaciável.
Vontades redigidas sem pontos nem separação porque havia tudo menos isso menos essa divisão menos essa distância porque isso era tudo que não se queria.
Queria-se demais o brilho que ofuscasse e que cegasse por completo os desejos intermináveis e contínuos que lutavam e lutavam e lutavam assim sem parar.
Música clássica não conseguia mais descrever a sensação agora só o que podia chegar perto de tudo que se sentia era uma bateria pesada de um rock n roll de garagem com o baixo bem estridente e com a guitarra fazendo solos incompletos porque falta falta falta.
Energia dissipada de pensamentos canalizados pra sonhos onde o inconsciente me manda fazer tudo que eu não faço quando acordado mas que quero tanto que me perco em todas as vontades ininterruptas de mim mesmo e me vejo afundando em um abismo infinito em que não posso nem consigo agora nesse momento simplesmente parar ou retroceder ao início porque já tem gritaria demais e vontade demais e loucura demais porque é óbvio, você não vê?
Também é tarde demais.

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Quando não se tem o que se vê (quer)

Pessoa hoje me acordou com palavras doces. Dicas de um sábio desfalecido que após inúmeras tentativas de explicar ou se apaixonar, morreu amando todo o amor que sentiu.
Pessoa hoje me acordou falando, "sossega coração". Eu prometo que tento, Fernando. As adversidades estão aí, emplacando nossas contradições e nos levando a direções tortuosas quando nem ao mesmo se sabe onde quer chegar.
Pessoa hoje me acordou tentando me alertar, "quem quer dizer quanto sente fica sem alma nem fala", mas já era tarde. Não me vejo com posse de nenhuma delas, armadilhas astutas que me consumiram. Me acabaram. Isso é revelado, desvendado, como a retina de mim que reflete todo o caos, impossível de não se ver.
Pessoa hoje me acordou falando de morte, "O próprio viver é morrer, porque não temos um dia a mais na nossa vida que não tenhamos, nisso, um dia a menos nela.". Ele já sabia quando falava dela, que a cada ganho significa também uma perda enorme. A perda, que muitas vezes, me soa como uma exímia solução dos meus quereres e confusões, amortecidas pelo viver, a-morte-cidas.
Pessoa hoje me acordou explicando que o ser humano é imperfeito. E que nisso, existe uma incessante busca pelo entedimento inalcançável por natureza. E que por isso, carregamos um sofrimento tenro de não chegar onde supostamente devemos. E onde é exatamente?
Pessoa hoje me acordou, quase implorando, "Sossega, coração, contudo! Dorme! O sossego não quer razão nem causa. Quer só a noite plácida e enorme. A grande, universal, solente pausa. Antes que tudo em tudo se transforme."
Ah, Fernando. Se eu conseguisse sossegar.

O Amor

O amor, quando se revela,
Não se sabe revelar.
Sabe bem olhar p'ra ela,
Mas não lhe sabe falar.

Quem quer dizer o que sente
Não sabe o que há de *dizer.
Fala: parece que mente
Cala: parece esquecer

Ah, mas se ela adivinhasse,
Se pudesse ouvir o olhar,
E se um olhar lhe bastasse
Pr'a saber que a estão a amar!

Mas quem sente muito, cala;
Quem quer dizer quanto sente
Fica sem alma nem fala,
Fica só, inteiramente!

Mas se isto puder contar-lhe
O que não lhe ouso contar,
Já não terei que falar-lhe
Porque lhe estou a falar..

F. Pessoa

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Toma um café, que o mundo acabou faz tempo


Pálpebras de Neblina

Fim de tarde. Dia banal, terça, quarta-feira. Eu estava me sentindo muito triste. Você pode dizer que isso tem sido freqüente demais, ou até um pouco (ou muito) chato. Mas, que se há de fazer, se eu estava mesmo muito triste? Tristeza-garoa, fininha, cortante, persistente, com alguns relâmpagos de catástrofe futura. Projeções: e amanhã, e depois? e trabalho, amor, moradia? o que vai acontecer? Típico pensamento-nada-a-ver: sossega, o que vai acontecer acontecerá. Relaxa, baby, e flui: barquinho na correnteza, Deus dará. Essas coisas meio piegas, meio burras, eu vinha pensando naquele dia. Resolvi andar. Andar e olhar. Sem pensar, só olhar: caras, fachadas, vitrinas, automóveis, nuvens, anjos bandidos, fadas piradas, descargas de monóxido de carbono. Da praça Roosevelt, fui subindo pela Augusta, enquanto lembrava uns versos de Cecília Meireles, dos Cânticos: "Não digas 'Eu sofro'. Que é que dentro de ti és tu? / Que foi que te ensinaram/ que era sofrer ?".

Caio F. (Sempre Teu)