Escreveria à você tarde da noite, para pedir, ou dizer que eu esperava que entendesse meus becos e poços escuros - os quais, muitas vezes, me fazem mergulhar em silêncios ás vezes longos.
Dentro deles eu me perdia, ás vezes sem psicologia, ás vezes com certa ou pequena motivação. A de hoje, não chegou a ser especial, só mais uma terça-feira entediante de trabalho, mais um dia bonito que passou e que não pude ir sentir a areia, nem embarcar no vôo das quinze horas e fugir pra qualquer outro lugar - que não aqui.
Então é o que tenho agora, tarde da noite enquanto escrevo ainda pensando em você, para te tranquilizar de certa forma, e tentar responder à sua doce preocupação pelo meu olhar melancólico que durou uma eternidade, presa dentro de vinte e quatro horas que vêm se arrastando pelos ponteiros desde que pisamos fora da cama.
Durante esse dia gasto, busquei certas referências que pudessem explicar, ou ao menos me fazer aceitar - mesmo que sem entender - qualquer que fosse a origem dessa instabilidade que me deixa anti-social, anti-comida, anti-pessoal, anti-solitude. São os silêncios, aqueles dos quais falei antes. Longos, por sua vez, me tornam, como mamãe mesma me definiu: "insuportável".
São dias assim que me fazem ouvir e re-ouvir a mesma música dezenas de vezes em sequência. Algo como Caetano, Cazuza, Cássia. Ler e re-ler amores como Caio, Clarice. Talvez seja muito "se" pra uma pessoa.
Agora tento adivinhar quantos maços ainda serão necessários para que os longos se tornem curtos, e possam finalmente se dissipar.
É um sentimento de estagnação e perda de tempo. Quando se quer tanto ás vezes se perde o pouco que se tem. E como uma boa virginiana com lua também em virgem, eu quero o estrago, o amor, as aventuras e o mundo. O mesmo de sempre cansa rápido, me disseram hoje, e claro, me vi em cada letra.
Então, em meio a palavras também longas - assim como esses meus silêncios - tento te responder de uma maneira torta, assim como eu - que o que queria era pegar sua mão e fugir, pra bem, bem longe daqui.
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