Ontem eu voltei pra casa por outro caminho. Atravessei a rua e fui pros lados de lá. A música era boa e contemplava os reflexos do momento. Pensei que devesse deixar aquilo vivo por mais tempo.
Esqueci as horas e fui, pé ante pé em busca de nada.
A vista dos passos estavam sombras perdidas, assim como eu.
Sombras conhecidas.
Umas antigas,
outras nem tanto.
Foi então que tirei os fones pretos e pesados que me ausentavam do espaço e resolvi conversar com elas. É, assim mesmo, em alto som.
Perguntei porque elas existiam ainda. Porque depois de tanto tempo, se prendiam a uma coisa velha, acabada. Ela respondeu:
"Ninguém se prende a nada ou à ninguém sozinho."
Me virei de costas e encarei a outra, que era mais devagar e estava quase sumindo.
Disse a ela que não tinha medo algum, e que ela precisava falar algo que fizesse sentido. Explicar a razão, inventar a ausência ou brincar no sol. Mas não podia simplesmente ficar parada, seguindo as outras.
Ela então continuou quieta, e chegou mais pra trás.
Respirei.
Falei com a terceira sombra, a mais escura de todas elas e a que estava mais próxima, sempre.
"Se pensas que sabe de tudo, me conta então. Conta esse tudo que carregas contigo e que prendes à mim com tamanha indiferença. Se não queres estar aqui peço que suma de uma vez."
Ela deu um sorriso torto. Estranho, nunca a tinha visto assim. Expressiva.
"Me conta você. Você que me trouxe aqui. Você que me deve uma explicação."
Nenhum comentário:
Postar um comentário