segunda-feira, 22 de outubro de 2012

21.10.12

A manhã desse domingo começou diferente. Eu ainda não sabia que você tinha ido. Foi um começo de domingo normal, como qualquer outro. Como tantos que você viveu, e tenho certeza que ainda se lembra. Aquela preguiça enrolada no lençol, aquela vontade de ir pegar um sol e ver o mar. Mas nesse domingo, não foi assim pra você. A manhã se tornou noite talvez antes mesmo do sol nascer. O brilho e a luz que você viu, não pertenciam ao sol. Era um farol quebrado, e depois, mais nada. Calmaria. Paz. Silêncio. Uma brancura de doer os olhos, eu imagino.
Essa foi a diferença, a desse domingo, quero dizer. Ele não começou pra você, como o fez por vinte e cinco anos. Um número pequeno, levando em conta a ausência, a presença, a saudade, e o tanto de coisas que sequer tiveram tempo de virar saudade. Aliás, - tempo- você teve? Fico aqui me perguntando se aquele tempo doado a você, pelos tais vinte e cinco anos foram suficientes para completar todos os seus sonhos - além de ir a Califórnia, que você conseguiu - todos aqueles sonhados no escuro da noite, todos aqueles confidenciados em conversas, todos aqueles omitidos de gestos. Tiveste tempo de ser? Não pode ser assim, não, ô senhor tempo. Com quem devo reclamar? Tiram dela a vida, assim, em um estalo, e o que resta dela fica aqui, nesse limbo, querendo entender, buscar uma explicação concreta que fale mais alto do que a dor e do que a indignação do peito, e dos constantes "por quês" que não param de atravessar a nossa mente.
E no final, de que adianta? Chegaremos todos na mesma luz cega que ela chegou, nessa manhã diferente de domingo. Se vai ser no início da semana, no caminho do trabalho, em casa dormindo - isso, ninguém sabe. O tempo, esse nosso mestre senhor, gosta assim, de surpresas. Mas a desse domingo diferente, não foi uma surpresa boa. Não foi porque não parece justo, a nós, meros humanos mortais, que pecam por não ter o conhecimento geral dos fatos e da vida. Ela era boa, sabe. Não cabe dentro da definição de "certo" um acidente desse nível acontecer e assim, em um piscar de olhos, sem dor, ela ser levada embora - ser arrancada daqui, do lado.
De que adianta toda essa depressão que procede o choque. De que adianta toda essa vida, vivida em vinte e cinco anos, toda essa definição de vida, todas essas imposições, todas essas regras se quando tem que ser - é de qualquer jeito.

Um comentário:

  1. - É hora de ir!
    - Mas, calma, eu nem tive tempo de... Além disso, não terminei aquele... E também não consegui reunir a coragem para... Sequer disse o que queria a... Não cheguei a ouvir que...
    - É hora de ir.

    Quanto tempo a gente perde! Ou melhor, quanta vida a gente perde.

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