Aquilo que está sujeito a perecer, a extinguir-se.
Uma coisa que tem prazo de validade.
Seria essa a melhor forma de começar o desabafo? Através de um diálogo, talvez, faria-se mais fácil a compreensão. Mas não, não posso, só consigo falar comigo mesmo - pelo menos sobre isso. Pelo menos por enquanto. Loucos aqueles que se atrevem a acreditar no eterno remando fortemente contra a maré do tempo. Loucos os outros, dos quais já fiz parte. Loucos aqueles que acreditam em happy ending nos mundos atuais, ou que justificam o fim do mesmo pela juventude moderna e postituída.
Acho que o quero dizer, aqui, é que não sinto mais. Chega um ponto em que você sente porque está acostumado. Como o café, na manhã. Você sente falta porque ele te encontra todos os dias lá, na mesma xícara, com o mesmo cheiro, com o mesmo gosto, acompanhando seu primeiro cigarro, com a fumaça que te faz abrir os pulmões e fingir, mesmo que por um curto espaço de tempo - o das cinzas dominarem o físico - que sim, está tudo bem. Ou se não está, vai ficar, um dia, uma tarde de primavera quem sabe, uma noite quente de verão - chegará de volta o dia em que tudo se encaixa, tudo volta pro lugar. Volta mesmo? Ou encontra um novo. E se existe um novo, é porque ele deve ser melhor do que o tudo bem que existia antes, mesmo que antes, desse novo, pensasse o contrário de agora. Entendo agora porque não posso tornar isso um diálogo. Digo que loucos são os que exigem o perecível, mas louco de verdade sou eu. Descobri isso ao longo desse perecível tempo, que chega ao final toda tarde, que me devora todo dia, que me consome toda noite e que não sei - agora - o que mais é de mim, o que já foi e principalmente o que vai ser. As palavras machucam conforme ensaiam sair da minha boca e ferir, ferir, ferir. Digo que não sei assumindo uma culpa eterna de exigências pessoais do maior nível de críticas que se pode ter como parâmetro. Sou meu, e de mim preciso saber. Mas e se digo que não sei, que agora nem sei mais se quero saber. E se antes sabia, com que certeza pude acreditar nisso, se essa crença, também perecível, já não existe mais? Então ela concreta em forma e espaço também nunca foi de todo verdade. Só posso esperar, e esperar de novo. Que a loucura, meu Deus, seja também, eterna perecível.
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