segunda-feira, 31 de maio de 2010

Limite Blanc


Não queria estar de volta. Se pudesse, teria ficado lá. É, no alto, a setenta quilômetros de distância de tudo que existe por aqui. Foi um impulso seguir a ideia que apareceu de um sonho, mas a fuga deu certo. Tinha conseguido tudo que precisava naquele dia. Dotada de certa liberdade, capaz de arrumar a mala e sair pela porta, sem despedidas ou maiores explicações. A hora que batia no relógio não dizia nada além do que queria ouvir: "Vamos, anda!" ele disse. "É só disso que precisas agora, não perca mais tempo."

A lua cheia brilhava forte no breu da noite e a estrada era iluminada por vaga-lumes. As conversas, os sorrisos e as músicas eram os guias da aventura de última hora que prometia corresponder às necessidades de exílio. Álcool, fumaça, filmes. Uma madrugada acordada do jeito que tinha que ser. Todo o resto ficou esquecido, como se por vinte e quatro horas só existissem as quatro paredes e aquela cidade pequena e nostálgica. Era um cenário cult, gostoso de viver. Personagens fizeram dele mais interessante, e o desejo gritou e foi saciado. Talvez não por completo. Mas o marcador não é o talvez, o se, o porque. É que foi exatamente como queria que fosse. Não foi pensado, mas percebido depois, que era aquilo mesmo. Como em um encaixe sincronizado a loucura e o cansaço foram substituídos pelos sonhos, falas, gestos, contato.

Agitada pensava ainda demais. Pensava porque sentia, e apesar de ter ido e esquecido, a volta foi inevitável. Queria ir embora. Talvez não voltasse da próxima vez. Mas isso, fica para depois. Quando o ponteiro falar alto novamente, deixa que grite, deixa que guie. O que tem agora, vale mais do que o planejado.

sábado, 29 de maio de 2010

Just call out my name


If you're alone, I'll be your shadow. If you want to cry, I'll be your shoulder. If you want a hug, I'll be your pillow. If you need to be happy, I'll be your smile... But anytime you need a friend, I'll just be me.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Pratododia

Embora soubesse que o superficial as vezes podia significar mais, tinha para si que o tempo era a certeza. Se afastava de ideias concretas no desejo da surpresa infantil. A existência não bastava, era preciso viver. Buscar novos caminhos que não fossem construídos de dúvidas mas sim de renovação. Amanhã é tudo de novo, mas fazer o tudo ser novo e não repetido, era o que queria dizer com aquelas cartas. Jogar fora a monotonia e saber abrir os olhos para encarar aquele sorriso da madrugada que fez tudo colorido. Quando olhava para o mar sentia a espinha estremecer. A lua cheia tinha o brilho do que era dela. Dentro. Fora. Areia e um bocado de vento na cara deixava ser a loucura distraída que tinha chegado para ficar. Não tinha pretensão de convencer. Suportava as horas com um objetivo novo, uma vontade tensa e um olhar diferente. O caminho mais fácil nem sempre é melhor que o da dor. Queria dar uma chance para a vida mostrar um jeito menos doloroso de se despedir, mas não queria nunca partir. Ficar ali, congelando olhares, pensamentos, dividindo insônias e carências. Aquilo tinha que ficar, pensava. Que tolice.

terça-feira, 25 de maio de 2010

O dia insiste em nascer


Embora foi outro dia. Se despediu faz tempo, se concretiza no inconsciente. Através do vidro embassado da janela o azul noturno muda de cor e aos poucos se quebra. Mais uma madrugada em claro, com os olhos bem abertos, os pensamentos correndo, os sentimentos pedindo e o sangue pulsando. Enquanto cresço pela vida consigo escutar o vento. As ondas do mar batem forte e a areia é serena, fria. Desejava seu despertar em meio ao oceano, livre de tudo, perdida no nada.



Sabia que o dia tinha hora marcada, mas o relógio não tinha virado a meia noite, ela sim. Hoje, ainda era ontem, podia reviver quanto quisesse. E apesar de não ser o dia seguinte, a manhã desse dia inventado era colorida, diferente das outras. Tinha verde, azul, amarelo e laranja.



Dentro dessa aquarela não faltava sentido. Fingia.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

O Essencial


"Foi então que apareceu a raposa:
—Bom dia, disse a raposa.— Bom dia, respondeu polidamente o principezinho.— Quem és tu? Tu és bem bonita...— Sou uma raposa, disse a raposa.— Vem brincar comigo, propôs o principezinho. Estou tão triste.
— Eu não posso brincar contigo, disse ela. Não me cativaram ainda
—Que quer dizer "cativar" ?— É uma coisa muito esquecida, disse a raposa. Significa "criar laços..."— Criar laços ?
—Tu és ainda para mim um garoto igual a cem mil outros garotos.E eu não tenho necessidade de ti. E tu não tens também necessidade de mim.Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas setu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim ÚNICO no mundo. E eu serei para ti única no mundo...E a raposa continuou:— Minha vida é monótona. Mas se tu me cativas, minha vida será como que cheia de sol. Conhecerei um barulho de passos que será diferente dos outros.
Os outros passos me fazem entrar debaixo da terra.O teu me chamará para fora da toca, como se fosse música.
E depois, olha!
Vês, lá longe, os campos de trigo? Eu não como pão. O trigo para mim é inútil.
Os campos de trigo não me lembram coisa alguma. E isso é triste!
Mas tu tens cabelos cor de ouro. Então será maravilhoso quando me tiveres cativado.
O trigo, que é dourado, fará lembrar-me de ti.
E eu amarei o barulho do vento no trigo...
— Por favor... cativa-me! - disse a raposa.
— Bem quisera, disse o principezinho. Mas tenho pouco tempo
e amigos a descobrir e coisas a conhecer.
— A gente só conhece bem as coisas que cativou, disse a raposa.
Os homens não têm mais tempo de conhecer coisa alguma.
Compram tudo pronto na lojas.
Mas como não existem lojas de amigos, eles não têm mais amigos.
Se tu queres um amigo, cativa-me !
— Que é preciso fazer ?
— É preciso ser paciente. Sentarás primeiro longe. Eu te olharei e tu não dirás nada.
A linguagem é fonte de mal-entendidos.
Mas cada dia sentarás mais perto... E virás sempre na mesma hora.
Se tu vens às 4, desde às 3 eu começarei a ser feliz.
Quanto mais a hora for chegando, mais eu me sentirei feliz.
Às 4 horas, então, eu estarei inquieta e agitada:
descobrirei o preço da felicidade.
Mas se tu vens a qualquer momento, nunca saberei a hora de
preparar o coração...
Assim, o principezinho cativou a raposa.
Mas, quando chegou a hora da partida, a raposa disse:
— Ah! Eu vou chorar.
— A culpa é tua, disse o principezinho. Eu não queria te fazer mal,
mas tu quiseste que eu te cativasse...
— Quis.
— Mas tu vais chorar !
— Vou.
—Então não sais lucrando nada!
—Eu lucro, por causa da cor do trigo.
—Vais rever as rosas e volta. Tu compreenderás que a tua é ÚNICA no mundo.
E ele disse às rosas:
— Vós não sois iguais à minha rosa, vós não sois nada.
— Ninguém vos cativou e nem cativastes ninguém.
—Sois como era a minha raposa, mas eu fiz dela um amigo.
—Agora ela é ÚNICA no mundo.
—Sois belas, mas vazias... A minha rosa sozinha é mais importante que vós todas.
—Foi dela que eu cuidei, ela é a minha rosa!
—Adeus, disse ele.
— Adeus, disse a raposa.
—Eis o meu segredo: Só se vê bem com o coração. O essencial é invisível aos olhos. Foi o
tempo que perdeste com tua rosa que a fez tão importante.
Os homens esqueceram essa verdade, mas tu não a deves esquecer.
Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas.
Tu és responsável pela rosa...
— Sou responsável pela minha rosa...repetiu ele a fim de se lembrar...
Tú te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas..."

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Mesmo sem compreender, quero continuar aqui onde está constantemente amanhecendo


Fico tão cansada às vezes, e digo pra mim mesma que está errado, que não é assim, que não é este o tempo, que não é este o lugar, que não é esta a vida. E fumo, e fico horas sem pensar absolutamente nada: Claro, é preciso julgar a si próprio com o máximo de rigidez, mas não sei se você concorda, as coisas por natureza já são tão duras para mim que não me acho no direito de endurecê-las ainda mais.

Eu vou embora sozinha. Eu tenho um sonho, eu tenho um destino, e se bater o carro e arrebentar a cara toda saindo daqui. continua tudo certo. Fora da roda, montada na minha loucura. Dá minha jaqueta, boy, que faz um puta frio lá fora e quando chega essa hora da noite eu me desencanto. Viro outra vez aquilo que sou todo dia, fechada sozinha perdida no meu quarto, longe da roda e de tudo: uma criança assustada.
[Caio]

terça-feira, 18 de maio de 2010

The weakness in me


Slow down, you crazy child. You're so ambitious for a juvenile. But then if you're so smart, tell me why are you still so afraid? Where's the fire? What's the hurry about? You better cool it off before you burn it out. You got so much to do and only so many hours in a day. Don't you know that when the truth is told that you can get what you want or you can just get old? You're gonna kick off before you even get halfway through.

Slow down, you're doing fine. You can't be everything you wanna be before your time, although it's so romantic on the borderline tonight. Too bad, but it's the life you lead, you're so ahead of yourself that you forgot what you need. Though you can see when you're wrong, you know, you can't always see when you're right. You've got your passion. You've got your pride, but don't you know that only fools are satisfied? Dream on, but don't imagine they'll all come true.

Slow down, you crazy child. Take the phone off the hook and disappear for a while. It's all right you can afford to lose a day or two.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Só se sente nos ouvidos o próprio coração


Agora preciso de tua mão, não para que eu não tenha medo,
mas para que tu não tenhas medo.
Sei que acreditar em tudo isso será, no começo, a tua grande solidão.
Mas chegará o instante em que me darás a mão, não mais por solidão,
mas como eu agora:
Por amor.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Eco do Silêncio


Eu não costumava escrever assim. Sentada, em algum lugar que não fosse à minha cadeira. Mas o agora abriu a cabeça, e ultimamente tem saído bastante coisa de lá. São certas inspirações que por meio de estímulo ou de contrário me dominaram. Eu estou entregue a esse momento, sendo criativa, vivida, infantil. O dom das palavras me parece tão mais ameno, mais gentil. E aí eu me entrego e coloco devaneios e vontades por escrito, através desse branco fosco que me cega e desse borrão vermelho que insiste em gritar. Talvez possa confessar alguma coisa que seja mais interessante do que toda essa complexidade narcisa. De uns tempos pra cá, com tudo e com todos, com as fases, as viagens, as descobertas, eu me perdi. Mas não fiquei sem rumo. Foi uma perca boa. Eu me perdi de mim, mas só em alguns aspectos. Aqueles chatos que eram responsáveis por me fazerem planejar tudo e aspirar meu lado triplo virginiano. Onde tudo deve ser estrategicamente montado, com data e hora estabelecida. Eu me deixei pra trás com aquelas partes que não fazem mais parte do todo. Me reinventei. É, passei a borracha, escrevi de novo. Eu tive medo de não dar certo. Minha compulsividade pela certeza sempre foi majoritária. Mas de algum modo eu consegui me desfazer dessa força que me sugou por tempo demais. Aprendi a amar o incerto, a não planejar tudo e a deixar a maré me acordar como quisesse. Abracei a vontade de vida, o brilho do sol e dos olhos que cruzaram minhas noites. Joguei a preocupação pra longe, e agora longe de mim fiquei eu. Desse jeito básico e transparente, sem deixar minha complexidade de lado, sentindo tudo que espero, e mais ainda o que descubro novo sem prever nada. Então eu saio por aí, tentando entender as diferenças, o tempo, os sentidos. Através do espelho eu me guio querendo ser amanhã o que ainda não fui hoje. E aí, eu descubro quando chegar lá.

terça-feira, 11 de maio de 2010

De se entregar e sentir.

É tão difícil falar e dizer coisas que não podem ser ditas. É tão silencioso. Como traduzir o silêncio do encontro real entre nós dois? Dificílimo contar. Olhei pra você fixamente por instantes. Tais momentos são meu segredo. Houve o que se chama de comunhão perfeita. Eu chamo isto de estado agudo de felicidade.

domingo, 9 de maio de 2010

Do Lado de Dentro


Talvez não conseguisse expressar tudo que queria. Era uma nuvem turbulenta e não era fácil colocar aquilo a entendimento racional. Não esperava ser compreendida nem sequer admirada. Queria estar sempre perto, sempre disponível, e nisso possuía seu sucesso. Era mais complicado se expor apesar de sua transparência. Tanta auto crítica era consumida em pensamentos diários e nem assim conseguia descansar. Levava sempre consigo tudo que era dela, assim mesmo, sem disfarce. O personagem que escolhia quando levantava da cama era o que iria com ela até o fim. Até o fim do dia, provavelmente. Sua inconstância era tão perceptível, assim como seu sorriso, seu mistério, sua lágrima. Olha lá dentro, olha no fundo. Pode se perder, sem ter por que, sem ter razão. E assim, segue adiante. Como não entende de ser valente, as vezes fica por um fio no mundo hostil. O jeito sem defeito era pura pretensão. Olha ali o sorriso, se exibe pra solidão com toda sua indecisão. Mas não solta, não vai embora. Briga, grita, tudo assim, no exagero. Mas aos poucos, aprende a controlar todo aquele domínio que por vezes tirou da estrada todo o resto. Todo aquele mar sem fim. Mas no final, assim calado, podia ser coroado o rei. Daquele mundo paralelo, daquela loucura a flor da pele, daquela complexidade latente, daquela calma que vinha com o tempo. Não tem mistério não, é só o coração. Espera, que eu não terminei.

Brotherhood

Foi tanta coisa dentro do nada. Aquele tempo todo que sempre sumia havia sido preenchido por uma correnteza diagonal que fazia seu rumo em uma direção perdida. Nada diferente, tanta mudança. Aquele dia teve falecimento, aviso prévio, ameaça, indiferença, surpresa, sorriso, esperança, agonia, beijo, toque, despedida, batata frita. Uma lista de variáveis que implicaram no resultado do final. O final que era o começo do depois. E que acabava logo que o amanhã começava, porque já era o depois do antes. Talvez você se lembre de mim. Com todas as confusões e risadas infantis, todos os sonhos e vontades adolescentes, impulsos e sabedorias. Era de certa forma impressionante como 24 horas podiam salvar pequenas descobertas, revelações, sensações. Aquele egocentrismo que não tinha tamanho, com o "EU" sendo a primeira palavra de cada frase sua me tirava do sério. Me preocupava. Cada minuto que precisou do meu ouvido e dos conselhos eles nunca falharam a te acompanhar. E tenta me assustar com chantagens baratas, jogando as cartas como quem sabe o que faz sem saber que você sabe tudo, menos do que tem que saber. Não enxerga? Ainda tem tanta coisa pela frente. Essa obsessão, compulsão, invenção. Isso só piora. Só cresce. Você não é capaz de se separar, de ser você de novo, sem isso. Virou um apoio, uma necessidade, quando era pra ser uma coisa boa, divertida, passageira. Eu tenho tanto medo de você. Um medo sem tamanho, principalmente de te perder. Não digo em termos físicos, porque esse na verdade você sabe que é o que menos importa pra gente. Digo em espírito, em alma, em outra dimensão. Esse peso de importância, fardo árduo que carregas sob papel que ganhaste quando entrou aqui, é tudo culpa dele. Talvez como nós já pensamos um dia, quando o coração fica a dez mil léguas submarinas isso não exista, e as coisas sejam mais fáceis. Mas não, a superfície é aqui, ela traz ventania, traz obstáculo, traz mistério. Mas encara, eu to aqui. Eu te seguro, te abraço, te levo comigo. Por que ter todo esse medo, toda essa insegurança quando na vida tudo que salva a loucura é o sentir. Que por ironia do destino, é muitas vezes o responsável por encaminhar a ela também. Mas a promessa que posso fazer, e o pedido que tenho aqui é que não vá embora. Que não se curve, batalha. Fica. Pensa. Sente. E acima de tudo, abaixa a cabeça, escuta. E aprende.

terça-feira, 4 de maio de 2010

All About (L)

Você cresceu em mim de um jeito completamente insuspeitado, assim como se você fosse apenas uma semente e eu plantasse você esperando ver uma plantinha qualquer, pequena, rala, uma avenca, talvez samambaia, no máximo uma roseira, é, não estou sendo agressivo não, esperava de você apenas coisas assim, avenca, samambaia, roseira, mas nunca, em nenhum momento essa coisa enorme que me obrigou a abrir todas as janelas, e depois as portas, e pouco a pouco derrubar todas as paredes e arrancar o telhado para que você crescesse livremente.
E então, no fim destes dias encontrar você que me sorri, que me abre os braços, que me abençoa e passa a mão na minha cara marcada, na minha cabeça confusa, que me olha no olho e me permite mergulhar no fundo quente da curva do teu ombro. Mergulho no cheiro que não defino, você me embala dentro dos seus braços e você me beija e você me aperta e você me aquieta repetindo que está tudo bem, tudo, tudo bem.
CF.

domingo, 2 de maio de 2010

As Horas

Eu perco o sono e choro, sei que quase desespero mas não sei por que. A noite é muito longa e eu sou capaz de certas coisas que eu não quis fazer. Será que alguma coisa nisso tudo faz sentido? A vida é sempre um risco, eu tenho medo. O mundo é muito injusto, eu to contando os meus problemas que eu quero esquecer. Será que existe alguém ou algum motivo importante que justifique a vida ou pelo menos esse instante? Eu vou contando as horas e fico ouvindo passos. Quem sabe o fim da história de mil e uma noites de suspense no meu quarto.