sábado, 26 de dezembro de 2009

Desabafo

Por lá era tudo mais calmo. Do outro lado. Quando se ultrapassava as fronteiras, não se ouvia mais nenhum ruído. Era uma surdez agradável, que cuidava de afastar toda a turbulência das palavras e dos pensamentos. Fazia frio, e a pele sensível tinha os pelos eriçados para proteção do corpo. Mas a temperatura interna era maior do que a do dia mais quente do verão. Ela andava incandescente, com o fogo consumindo tudo que tentava se manter erguido, inclusive as promessas. Era uma completa devastação. A contagem regressiva que insistia em lembrá-la da hora, não deixava que se entregasse por completa. As suposições eram controladoras, e ela se entregava contra sua vontade, que era de se libertar. Deixa ser. Como vier. Como for. Um dia vai acontecer. Eu vou lembrar de você. Mas, só posso lembrar se um dia eu esquecer. As conectividades do mundo são tantas, que a memória é esquecida dentro da correnteza de acontecimentos que ficaram para trás. A partir daí, é preciso coragem pra concretizar as vontades. O tempo traz isso. O tempo traz o que é preciso para sobreviver. O tempo me traz você?

domingo, 20 de dezembro de 2009

Tá Bom

Tenho uma nova identidade. É, mudei de personagem. Aquela ficou pra trás. Ela me cansou com suas paranóias, seus exageros e sua boa vontade. Ela era reinventada enquanto mudava a cor do seu cabelo. Eu que via nela o meu "eu" mudei o que estava fora pra entender a bagunça infernal que já não mais cabia no vácuo do peito. Essa insatisfação estava pela hora da morte. A impaciencia, a irritação, a preocupação, tudo isso havia consumido a menina antes mesmo que se notasse sem um pedaço. E o que faltava era a novidade. A rotina tinha devorado sua luz, e a normalidade mudado de rumo. Abre a porta. Atrás dela você vai me ver, fora do castelo que eu mesma construí. Diz, o que foi? Eu cerquei tudo ao redor, e me esqueci. Esqueci de você. O passado era ignorado, mas a culpa que era do tempo, ainda persistia em aparecer. Hoje, o universo se expande, e aqui de dentro a porta se abre. A beleza e a catástrofe da nova liberdade. Adeus você. Eu hoje to do outro lado. Não deixo nem um pedaço. Não deixo, pra não causar lágrimas. Talvez a dúvida da existência se torne na imaginação de um sonho bom, e o sofrimento seja esquecido e substituído. Cuida de você, mantenha-se em paz. O tempo provou o contrário do que a gente esperava. Mas agora devemos seguir adiante. Seu choro não me faz desistir, e seu riso não me traz de volta. Antes não era assim. Não tem mistério, é só seu coração. O sentimento passa algum dia. Ele te abandona como eu to fazendo agora. Quem sabe eu não levo ele comigo? É. Levo e escondo. Porque depois dessa, e das outras, não dá mais não. A partir de então, serão só coisas casuais. Se sofrer não é amar demais, eu não sofro. Amo. Mas amo de uma forma nova. Amo da forma livre, deixo assim. Livre, sustentado pelo desapego. Mas é amor, ora. Com todo cuidado eu me guio por aí, perdida. O agora, já é o amanhã. Tanto faz. O que já foi, não é. Eu sei que não vou voltar, mas eu, quem será?

sábado, 12 de dezembro de 2009

Ordinário

Enfim, de volta. Demorei tanto pra aparecer aqui e derramar algumas palavras que nem sei como começar. Hoje não vou quebrar a cabeça para a filosofia nem para complexidade. Hoje, é dia do comum, do simples. O que ficar aqui, é o que é. O que vai ser. Assim mesmo. De tal forma que poderia falar de inúmeros assuntos, mas acho que no final das contas, vai ficar o escrito pelo desentendido. Ontem vi um filme, "Purple Violets", que em português foi bizarramente traduzido para "Segunda Chance para o Amor". E confesso, ele me fez pensar. (como se os outros não fizessem..) É um filme básico, sobre o reencontro do primeiro amor, das mudanças, do tempo que precisamos pra nós, pra cuidarmos de si, e depois escolher o que será com os outros. Me fez pensar nessa segunda chance, se é que ela existe. Mas ficava tão nítido que o amor não tinha acabado. Houve separação, sofrimento, mágoas. Mas o amor, ele não foi embora por nem um segundo. Depois, veio o casamento com outro homem. É, tinha paixão. E nos 7 anos seguintes, a paixão cedeu, sumiu, e os dois se perderam em traições, pessoas, trabalho, monotonia e masturbações. Que ironia.. se começa um contrato social jurando a eterna felicidade e o companheirismo. Na alegria e na tristeza. Como? Eu entendo, você acredita. Eu acredito, seria bem hipócrita inclusive se negasse. Mas, o que eu não consigo negar é a lógica do raciocínio. Um ciclo vicioso, de paixão, tesão, carinho, alegria mútua, amor, reciprocidade. E depois? Uma eternidade desses complementos é a exceção da regra, e todos sabemos disso. Além disso, o mais bonito, interessante, ou burro, é que todos acreditam que aquele, é o momento do pra sempre. Que o eterno dele, vai dar certo. Quando hoje em dia, não se engana nem os instintos. É natural. É carnal. É irracional. Vai além do entendimento. E o amor? Ah, se alguém um dia entender, escreve pra mim e explica. Porque com o pouco tempo de vida e de relacionamentos meus, eu ainda me fascino incrivelmente pelo paradoxo do sentimento e da obviedade do ciclo social vitalício, que não nos deixa na mão em dia nenhum.