quarta-feira, 28 de abril de 2010

Talvez seja isso, e não o que você imaginou.

O despreparo foi automático. Enquanto eu mergulhava na vida sem grandes expectativas ele aconteceu. Foi em uma noite turbulenta, dessas que vira dia sem que a gente se dê por conta. E quando era o dia depois de amanhã ele me atropelou sem soar alarme nenhum. Que fique esclarecido aqui que isso não é uma reclamação. Aquela brisa de final de tarde trouxe consigo uma fórmula nova pra minha matemática. Era misteriosa, aventureira, guerreira. Tantos adjetivos unidos em uma coisa só. Quase inacreditável também. Passou tão pouco tempo, como podia chegar assim? Derrubando barreiras que eu tinha prometido pra mim que seriam sólidas o suficiente pra aguentar a pior ventania, a mais forte tempestade e evitar que eu me entregasse novamente. Era sempre a mesma coisa, isso não cansa? Fazer perguntas, pensar o tempo todo, se recriar em estruturas leves e bancar um sentimento invisível querendo ser o que não pode mais. O era uma vez desse conto tinha encontrado um cliché final diferente, e a superação era mais importante. Como depois de toda ressaca você quer ver o dia brilhar de novo, e ele brilhou. Mas foi ofuscante, foi forte demais, e o concreto virou pó. Aquilo tudo virou um grito seco preso na garganta que ficara travada depois da última noite que se fantasiou de dia. Sentia que podia falar e escrever o quanto fosse, nada sairia daquele jeito específico de sentir exatamente o que latejava lá dentro. Depois de horas do inesperado veio uma calma tranqüila que na contradição era feita de adrenalina. O pouco que fora desvendado do mistério era uma delícia que sentia nos lábios na ausência da fórmula. Ela tinha o início do problema, era só desenvolver o raciocínio. Mas, em meio à tudo aquilo, tudo que não conseguia seguir era a sua razão.