quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Ao contrário

Liguei o rádio em busca de uma música calma e acendi o cigarro, aquele que ontem te fez reclamar. Com as cinzas caindo no papel, tentei me desfazer da indignação que brotou nessa noite, pela falta de compreensão. Inacreditavelmente, sou fácil assim. Ando desgovernada dizendo que sou dona de mim, quando na verdade é só isso que me falta ser. Em poucas horas eu consegui me perder em um labirinto escuro. Medo do escuro. Você me disse isso, é uma das poucas coisas que sei de você. Pouco tempo, pouca coisa. Explica então, como toda essa falta de coisas pode ter esse tamanho enorme? Eu busco ter calma, ser leve. Sempre tropeço em mim mesma, atropelo tudo e falo demais. Parei de me questionar tanto. Ajuda, aprendi que nem tudo precisa de uma explicação, e tenho vivido bem com isso. O céu as vezes sorri pra mim de graça, e eu dou um sorriso torto de volta. Nesse vôo noturno eu experimentei a insegurança com um gosto doce. E quis estar ali até o amanhecer. Limbo estranho mas conhecido. A minha indignação era comigo, como você podia saber?
Que grande confusão os novos dias de liberdade me trouxe.
É forte, puxa.
E mais uma vez eu não consigo ficar parada.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Fields


- Será possível plantar morangos aqui? Ou se não aqui, procurar algum lugar em outro lugar? Frescos morangos vivos vermelhos.
Achava que sim.
Que sim.
Sim.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

She's losing it


E daí que a gente tinha se separado. Você escolheu ir pro outro lado. Enquanto eu observava você ir embora, senti desespero em pensar que o que eu perdia naquele momento era muito maior do que havia perdido antes. Não adiantava explicar porque, você não ia entender. Eu passei meses tentando convencer você disso, e ainda não tenho certeza de que consegui.
Cada passo que você dava, foi conforme o passar dos dias, um automático ligado em alta velocidade, onde a semana seguinte acabou antes de começar, e eu nem sei por onde ela fugiu. Me escapou como você, assim, de uma hora pra outra. Eu confesso meu despreparo pra ficar sozinha. A solidão nem sempre é bem vinda, e a expressão "sem chão" teve todo sentido do mundo quando você bateu a porta do carro.
A gente não desistiu. Não, nós somos fortes, nós temos uma à outra. E não precisamos de mais nada além disso.
Mas você vê, é que eu sou assim. Eu sinto a flor da pele todas essas coisas bonitas que tento colocar em palavras, textos dramáticos, lágrimas perdidas, vontades caladas. Mas eu não posso me entregar à esses sentimentos fortes e pesados como me entreguei à você. Porque se eu fizer isso e não vou conseguir. E eu não quero, não espero, não preciso dessa derrota baseada em coisas lindas e perfeitas que tive com você. Lembra? A gente combinou um monte de coisas, teve sonhos realizados, coisa nossa. E na minha cabeça, isso nunca ia morrer. O laço, aquela corrente invisível que me liga a você até hoje, você sente ela? É, presa na cintura, quase inquebrável. E eu pedi muito pra ela ser tão imortal quanto os deuses, tão forte quanto Zeus e tão bela quanto Vênus. Ela foi tudo isso pra mim. Mas amor, eu não posso. A minha natureza romântica que tantas vezes te vez rir e chorar um pouquinho com cartas enfeitadas, ela não me deixa cair assim. Nunca deixou.
E aí, eu acabo indo embora aos poucos. Eu vejo teu sofrimento como um espelho do meu, por mais tempo que demore. Eu já disse, pudera eu pegar tua angústia e embrulhá-la, jogar bem longe, e proteger você de toda essa dor que você tá conhecendo agora, e que dói. Como dói.
Sabe teu cheiro de alecrim? Junto com hortelã, eu sinto ele todo dia de manhã. E a primeira coisa que quero fazer é ouvir tua voz me dando bom dia. Mas é como você disse, entende, amor, satisfação agora não é obrigação. Não é dever. E esse desapego que veio pra ficar, arranca de mim um pouco de dor, de angústia, de calafrios.
Digo, não sinto da mesma forma. E acho que nem você.
Sentir o que?
Ah,
você.

Oh, no


Era uma vez. É, começa assim porque quer dizer que já aconteceu, ficou pra trás. Um dia existiu uma coisa linda, um sentimento forte e que hoje não é mais assim.
Então,
era uma vez.

sábado, 2 de outubro de 2010

Sobre aceitação


Um dia te fiz prometer a eterna permanência. Tentei arrancar de você certezas que nem mesmo eu tinha. Fui cruel sem perceber e tentei aprisionar um pouco tua liberdade, que tão singular, as vezes roubava meu espaço. Quis ter sob meu controle os meus sentimentos e os seus também. Alinhavar em mim o teu pulso, a tua frequência. Como me doía as vezes que você ia embora sem declarações. Eu precisei tanto da tua palavra, da tua vontade estampada, do teu desejo. Costumo conseguir tudo e quebrar limites e padrões. Eu consegui com você, e fiz nascer um desconhecido afetado, que foi mais forte do que a gente.
Escrevo sobre nós, pelos tantos pensamentos que me cercam dia e noite. Essa inconstância amorosa, presença sedentária, sentimento incubado. Mas escrevo mais para você. Para te dar certeza do que já foi dito. Amor, acabou. Eu mais do que você me entrego à nostalgia pensante dos bons momentos e gargalhadas que tivemos, dos vinhos da serra, das músicas escritas por nós debaixo daquele céu estrelado que sempre nos acompanhou. Aquele sonho de criança, a gente fez verdade. Então, amor, quando a dor falar alto, e o aperto bater, pensa no melhor de nós. Esquece a frieza, o medo e a insegurança do vácuo que dá quando a gente olha pro lado, e percebe que está só. Eu hoje sou sua melhor amiga, e não abro mão desse meu lugar em você. O sentimento não sumiu, evoluiu. E com ele, a gente ainda vai aprender muita coisa. Se eu pudesse, protegeria você de todo sofrimento intrínseco, roubava tua dor e sentia tudo sozinha.
Eu vou embora, mas não de você. Vou daquele nó que criamos, fantasiamos, e não deu certo. Quando digo que me lembro de tudo, todos os dias, não minto. Você ultrapassou expectativas, e sabes muito bem, que chegou a lugares em mim que ninguém conhecia. Te deixei entrar aos poucos, mas a porta sempre esteve escancarada. Falo pra ti, pra que tenha certeza, de que nada vai me tirar de você. Eu fui sua, e continuo sendo. E se na despedida eu choro, é porque a dor é muito forte. Mas nós, somos mais.

Eu te quero bem. Amor.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Hora de Voltar

Hoje o dia estava com a minha cara. Aquelas nuvens carregadas desfilavam no céu, e o vento carregava o que ficasse no meio do caminho. Tive que insistir pra sair da cama, porque a vontade era de ficar lá, jogada, perdida. Mas existe um compromisso chato com o trabalho, e se a gente não dá as caras eles logo reclamam. São até piores do que você, quando demoro pra responder uma mensagem. Não toleram abandono.
Então eu fui, naquele automático enganado, cheio de vontade mas sem força pra dar mais um passo. Isso tudo cansa. Dá vontade de fugir, correr, deixar pra trás. Qualquer coisa que seja obrigatória, esquece.
Fazer da vida um filme com uma incrível trilha sonora. E só viver, pular as cenas desagradáveis, não deixar sentimentos pesados tomarem conta do roteiro, porque você busca um final feliz.
Ficar assim, nesse balanço, cheio de vai e vem, que gera um frio na barriga as vezes bom, as vezes pelo medo da altura. Sabe? Isso não é vida. Nem aqueles dramas chatos que a gente via no cinema são assim. Tudo tem um caminho, um trecho, uma fala. Uma direção, entende?
E eu que adoro um labirinto, me perdi em vários pelos anos. Agora chegou aquele dia que tem que ser você no espelho. Só com a sua imagem, e mais ninguém. Porque a estrada tá aí, olha pra frente. Você vê?

E não, não dá mais tempo de voltar.