sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Riscado

Os dias riscados do calendário anunciavam a sua chegada. Digo chegada tentando afastar o pessimismo da despedida de mais um ano que terminava, para manter as novas chances debaixo de um holofote imaginário que existia na minha cabeça. Me esforço a cada dia para manter a sede da vida, dos acontecimentos e das novas chegadas.
Me sinto presa por uma força invisível, que me abraça e me mantém caótica, submersa em contagens regressivas, alucinada por um amanhã tranquilo. Me acostumei com teu jeito, nunca satisfeito. E mesmo prometendo e tentando evitar, fica impossível de não citar você. Seja em um verso, em um sonho ou qualquer frase banal na conversa do jantar.
Sigo uma luta travada de mim comigo mesma, aquela que eu insisto em dizer que ninguém entende, porque nem eu consigo alcançar isso. Esse entendimento, essa clareza de sentimentos e de seus indubitáveis porquês, intermináveis em essência.
Uma confusão atrás da outra. Dentro e fora.
Falta um dia só. Só. Eu estou assim agora. Sozinha em quarto, paredes e espelhos. As músicas que soam atrás dessa fantasia me abordam com seus significados profundos e a fumaça continua a me subornar.
Ser livre!
Não do mundo, mas para ele. Ser só, não dos outros mas com eles.
Ter calma com o medo a espreita, e brilhar com o sol nas noites frias.
A certeza daquele amanhã que nunca chega, ser concreta no sonho da noite eterna.
A problemática da vida, o significado da existência, a crença do ser, a fé da vontade.
O amor que transforma, que melhora e que mata.
São tantas vertentes, tantos fantasmas, tantas condições.
Tudo em excesso. Frases não terminadas e pensamentos assombrados de uma liberdade sua, de uma mente problemática, confusa e ao mesmo tempo tão exposta à clareza.
A tranquilidade de um dia terminado, menos um vivido, mais um pra contar a história.
Menos um na contagem regressiva, mais um na bagagem da vida. Último, penúltimo, antes.
A constante necessidade do tempo preciso, que acaba aos poucos, e aos poucos volta ao começo.
Uma retrospectiva alucinante, desastres e vitórias, lágrimas e sorrisos memoráveis.
Meditação trazendo questionamento e o relógio tiquetaqueando.
Sempre mais, sempre diferente. Sempre mudando.
O último dia riscado do calendário.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Palavras Gastas

Quanto tempo fazia que eu não olhava as palavras - ultimamente ditas ou digitadas em mensagens rápidas - tão de perto assim, em tinta.
Acontece que o tempo passa, os ventos trazem mudanças, enchentes e tempestades. Mas sinto aqui, nesse início, que deve ficar nítido meu por que.
De que?
Meu porque de ter essa segurança tola. De mais uma vez, dentro de tantas incontáveis que já se foram - e muitas tantas outras que ainda virão - de me despedaçar aos poucos por você, em uma roubada.
Digo roubada porque esse é meu porque de definição. Minha característica de agora, perdura entre o momento primeiro do teu olhar e a imensidão que se afoga no imprevisível.
Paro e penso que não existe mais razão. Existem metáforas que preenchem o nosso cotidiano, comparando sentimentos letais à coisas tão banais que vimos ontem.
Garota, eu queria te dizer - sim, mais uma vez. Penso que jamais ficarei satisfeita de cartas por tua causa - dizer que te amo.
Olhando para trás você vê a mesma coisa que eu. Uma estrada clara, aberta, com árvores pelas laterais bem podadas, jogadas ao chão. Não foi fácil chegar até aqui.
A facilidade, esta eu encontro em você. O apocalipse - meu, particular - está em perder você. O resto, se faz possível apenas com seu olhar.
Nossa história ainda tem páginas em branco, com sede de tinta - assim como eu, ao te escrever isto aqui.
A distância que se faz presente - essa palavra insuportável de pronunciar. Sinto um peso só de pensar. Distância. - se mantém à forma física, e assim sempre será.
Digo isso porque em mim você já tá gravada. Tinta, brasa, cicatriz. Tudo na pele. E essas marcas, mesmo que o coração falhe, me fazem te lembrar.
Calma, garota.
Não sabe que final feliz quando é de verdade, demora pra chegar?
Não esquece.
A graça é o desejo,
depois realizar.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Carta. Sua.

11/07/2011
Eu sigo digitando em letras minúsculas o tamanho da vontade que sinto em sentir você.
Chego aos poucos em consenso, coisas que deixo passar, outras de que preciso.
Preciso disso. Eu no plural.
As coisas e a vida, hoje, na primeira pessoa não fazem mais sentido.
Quero conjugações completas, complexas, conforme me grita a voz da alma.
Alma que está em sua mão. Sugada pelo gosto da pele, se entregou.
Digo alma porque todo resto, meros argumentos mortais, já não se fazem mais suficientes para descrever minhas declarações estúpidas.
Inclusive o tudo que antes me soterrava, me fazia correr do mundo e buscar um breu parado para escapar, agora já não é mais nada.
Você não sabe. Sei que sente, é muito delicado.
Mas não pode saber.Justifico sentimentos como quem se condena. Eu estou condenada. Completamente ao seu toque, ao seu beijo, ao seu pedido, à sua dor.
Me perco em memórias de um futuro já construído todo dia. Imagino situações avessas e diversas.
Temos tanto uma na outra, em pouco tempo. Tempo pouco, esse, que quando eu olho a janela entra por ela a certeza de um enorme destino recheado de coisas para se viver. Todas com você.
A minha opção hoje, amanhã e depois vai continuar sendo você.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Roda Gigante


-Me leva com você?
-Na roda gigante?
-Na vida inteira.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Me ensina o paraíso


- Não sinto seu amor.

Ela diria.

- Não o sinto a toda esquina.
Preciso da tua mão na minha. Te sentir perto constantemente.

Meu problema estava em lhe fazer enxergar o incompreensível. Não se pode exigir de um dragão uma postura de um coelho. Uma submissão esguia, calma. Tranquilidade não nasce com um dragão.

- Todo dia é um novo medo. Uma nova diretriz. Me mostra a certeza de que você tanto diz.

Coisas abstratas retratam o cotidiano. Minha capacidade de baixar a guarda e deixar flores nascerem no jardim era visível. Mas elas estavam cercadas de alecrim. Conheces? É uma cor forte, um verde escuro. Talvez tão escuro quanto eu. Com um cheiro dominante, relativo ao meu jeito inconstante.

- Busco em você uma estabilidade. Peço que o tempo passe na esperança da saudade. Como quero compreender todas as cinzas que se fazem de sorrisos gastos.

Da natureza e essência, um dragão cospe fogo pra se proteger. E imagine só, até mesmo em sua felicidade. O paradoxo da mutação era invariável. Difícil mesmo qualquer aceitação. Nem os de sua comum natureza, semelhantes, porque você sabe, um dragão nunca é igual à outro, nem eles mesmos compreendem.

- Não desisto. Tenho vontade de você. Te quero como nunca quis um outro alguém, seja ele seco ou incendiado.
Então, meu bem. A floresta há de crescer e eu de te proteger. O fogo que vai sair daqui será só para apagar a dor. Fica, que com meu jeito desastrado de queimar livros e inventar histórias, não quero ser devorado por mim mesmo.
Só por você.

domingo, 11 de setembro de 2011

Inquebrável


Você já teve essa sensação? Quando algum momento parece perfeito demais, ou o seu estado de felicidade está tão constantemente pleno que tem medo de que se quebre em alguns segundos? Seja ele calmo, agitado, sozinho ou acompanhado. É uma tranquilidade fortalecida que te faz ameno por alguns instantes, te faz sorrir um sorriso sincero e transparente e te faz querer que aquilo não te deixe nunca mais.
Hoje eu senti isso. Não tenho muitos momentos assim na minha gaveta, então sei destacar bem quando eles acontecem. Esteja chovendo ou debaixo de sol, são momentos quentes, intensos. Mas muitas vezes, são também rápidos.
Me apego a eles e tento reviver sempre que posso. Uma despedida, um olhar, um diálogo, uma música. Eles costumam ser um bocado frágeis, esses momentos.
E se você for como eu, você sente a mesma vontade que eu de eternizar essa sensação. Porque falemos da vontade de viver que ela traz a tona, como nenhuma outra sabe fazer.
A sobrevivência permite destacar a indecência da vida de nos tirar momentos assim com o piscar das horas. Adversa, eu, prefiro lembrar deles de forma a repeti-los cada vez mais, e tornar constante e abrangente o desejo de vida que eles têm.
Os momentos.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Sugestões Para Atravessar Agosto

"Para atravessar agosto é preciso, antes de tudo, paciência e fé. Paciência para cruzar os dias sem se deixar esmagar por eles, mesmo que nada aconteça de mau; fé para estar seguro, o tempo todo, que chegará setembro – e também certa não-fé, para não ligar a mínima às negras lendas deste mês de cachorro louco. É preciso quem sabe ficar-se distraído, inconsciente de que é agosto, e só lembrar disso no momento de, por exemplo, assinar um cheque e precisar da data. Então dizer mentalmente ah! Escrever tanto de tanto de mil novecentos e tanto e ir em frente. Este é um ponto importante: ir, sobretudo, em frente.

Para atravessar agosto também é necessário reaprender a dormir, dormir muito, com gosto, sem comprimidos, de preferência também sem sonhos. São incontroláveis os sonhos de agosto: se bons, deixam a vontade impossível de morar neles, se maus, fica a suspeita de sinistros augúrios, premonições. Armazenar víveres, como às vésperas de um furacão anunciado, mas víveres espirituais, intelectuais, e sem muito critério de qualidade. Muitos vídeos de chanchadas da Atlântida a Bergman; muitos CDs, de Mozart a Sula Miranda; muitos livros, de Nietzche a Sidney Sheldon. Controle remoto na mão e dezenas de canais a cabo ajudam bem: qualquer problema, real ou não, dê um zap na telinha e filosoficamente considere, vagamente onipotente, que isso também passará. Zaps mentais, emocionais, psicológicos, não só eletrônicos, são fundamentais para atravessar agostos. Claro que falo em agostos burgueses, de médio ou alto poder aquisitivo. Não me critiquem por isso, angústias agostianas são mesmo coisa de gente assim, meio fresca que nem nós. Para quem toma trem de subúrbio às cinco da manhã todo dia, pouca diferença faz abril, dezembro ou, justamente, agosto. Angústia agostiana é coisa cultural, sim. E econômica. Mas pobres ou ricos, há conselhos – ou precauções-úteis a todos. O mais difícil: evitar a cara de Fernando Henrique Cardoso em foto ou vídeo, sobretudo se estiver se pavoneando com um daqueles chapéus de desfile a fantasia categoria originalidade…Esquecê-lo tão completamente quanto possível (santo ZAP): FHC agrava agosto, e isso é tão grave que vou mudar de assunto já.

Para atravessar agosto ter um amor seria importante, mas se você não conseguiu, se a vida não deu, ou ele partiu – sem o menor pudor, invente um. Pode ser Natália Lage, Antonio Banderas, Sharon Stone, Robocop, o carteiro, a caixa do banco, o seu dentista. Remoto ou acessível, que você possa pensar nesse amor nas noites de agosto, viajar por ilhas do Pacífico Sul, Grécia, Cancún ou Miami, ao gosto do freguês. Que se possa sonhar, isso é que conta, com mãos dadas, suspiros, juras, projetos, abraços no convés à lua cheia, brilhos na costa ao longe. E beijos, muitos. Bem molhados.

Não lembrar dos que se foram, não desejar o que não se tem e talvez nem se terá, não discutir, nem vingar-se, e temperar tudo isso com chás, de preferência ingleses, cristais de gengibre, gotas de codeína, se a barra pesar, vinhos, conhaques – tudo isso ajuda a atravessar agosto. Controlar o excesso de informações para que as desgraças sociais ou pessoais não dêem a impressão de serem maiores do que são. Esquecer o Zaire, a ex-Iugoslávia, passar por cima das páginas policiais. Aprender decoração, jardinagem, ikebana, a arte das bandejas de asas de borboletas – coisas assim são eficientíssimas, pouco me importa ser acusado de alienação. É isso mesmo, evasão, escapismos, explícitos.

Mas para atravessar agosto, pensei agora, é preciso principalmente não se deter de mais no tema. Mudar de assunto, digitar rápido o ponto final, sinto muito perdoe o mau jeito, assim, veja, bruto e seco."

Caio.

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Palavras

A você,

Eu tenho coisas para confessar. Coisas bonitas, claras. E tem as outras.
Meu mundo agora, tem cor. Encontrei de novo o que chamam de amor.
Amor esse com forma e gosto doce, imprevisível como eu, insuportável como você.
Eu acho que te disse, dia desses, como eu tava despreparada pra amar.
Como me iludi com letras e músicas e como com elas me fiz desapegar.
É, te falei. Mas como tantas outras vezes, você só quis falar.
Falou pra mim como tudo isso era lindo. Como tudo isso tinha um futuro montado.
No começo eu tive medo. Aquela insegurança que bate quando você percebe que seu coração não pertence mais só a você mesmo.
E como eu disse que isso ia mudar.
A dependência do amor. Por textos me diluí, me quebrei em fragmentos poéticos e tentei me convencer de que aquilo, não era mais pra mim.
Sofrer de sorriso estampado, sentir cicatrizar com uma caneca em mãos, um cigarro aceso e uma madrugada aberta.
Por vezes você me pergunta, quer entender.
E eu digo, esquece, baby. Entender aqui não é sempre. E sempre aqui, não é todo dia.
Eu te ofereço o mundo, te ofereço um sorriso doce, um café quente e um amor novo.
Novidade.
Você surgiu em mim não mais que de repente. Vezenquando ainda me questiono.
Destino.
Ora essa. Você foi feita pra mim. A igualdade não nega o desentendimento.
Então fica mais um pouco.
Deixa a porta fechada, abre a janela que o coração já tá no lugar.
No seu lugar.

Afogada

Tantas formas de falar, tantos jeitos de mostrar, tanta vontade. Uma intensidade que eu não sei mais controlar. Uma força que não sou mais capaz de vencer. Como em um rio perdido em afluentes, me deixo levar pela correnteza sem nenhum medo de me afogar.
Gosto de margens largas, oceanos profundos e piscinas grandes. O suficiente não é o necessário. Os desejos crescem com falta de proporção, debaixo das águas turbulentas me afogo e quero mais.
Encontro você, perdida em alto relevo. Estabilidade grosseira que preciso quebrar.
Nadei até aqui para te achar. Achado perdido. No meio do mar.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

De dentro

As folhas do inverno faziam barulho enquanto eu caminhava no frio, secas. Se despedaçavam aos poucos com os passos acelerados, passos de quem quer muito chegar, mesmo sem saber o lugar. As noites são meu refúgio, a lua minha segurança e o silêncio do escuro é a paz que falta. Porque sempre falta alguma coisa.
Não tinha certezas. Como um andarilho de sentimentos, me encaixava talvez nesse perfil. Alguém. Eu era alguém tão perdido quanto encontrado. Alguém tão desesperado quanto pacificado. Alguém tão apaixonado quanto desapegado. Tão in quanto out.
Minhas fugas ainda existiam, e eram frequentes. Talvez o que faltasse, fosse aceitação do estado eterno de insatisfação.
Como uma doença crônica. Doença essa que é viciada em eternidade, apavorada de solidão e inconpreensivelmente insatisfatória. Que não se cura por harmonia, se sustenta pelo caos e quer sempre ser mais doce. Meu paraíso é o conflito.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Lentidão parcial


Efêmero.
Hoje o dia me transpassa devagar. Me trouxe um cansaço quase físico de querer e admirar coisas pequenas. Muita percepção, muito desejo de palavra, de cheiro, de carne.
Ontem aconteceu. Me apaixonei. Sem muito tempo, sem muita razão.
Desse jeito, sigo escutando músicas românticas, lentas e outros rocks pesados que me fazem gritar e rodopiar no quarto, acordando sempre a filha da vizinha.
Acordei hoje com vontade de flores. Bem coloridas, cheias de vida e reluzentes. Para enfeitar o dia e trazer calmaria pra casa.
A lua me enfeitiça todo dia, e a noite me devora aos poucos. Enquanto os outros dormem eu aprecio a respiração calma, o silêncio da madrugada e o vento gelado que vem do mar. Cheiro de dama da noite, cheiro gelado e fresco que corta a janela.
Tudo tem uma beleza a mais do que eu percebia. Como se em uma meditação, havia uma rotação mais lenta pros acontecimentos. O dia vai terminando e a hora de ir embora chega.
Mas eu quero ficar aqui,
só aqui.

Carta - O começo e o retorno


As pessoas e aquela mania implicante de buscar incessantemente uma explicação. Como se precisassem de uma direção concreta e sem falsos pretextos para seguir em frente, planos e certezas que nem as maiores promessas podem fornecer. Comecei a escrever por isso.
Digo, quando entendi que eu não tinha, e nem queria explicação nenhuma. Que justamente essa falta era o que mais importava dentro desse novo sentimento que aparecera naquela tarde. Da forma mais simples, em sua pura existência, nasceu em mim uma flor colorida. Novidade.
Meu sorriso agora, constante. Minha vontade, toda sua. E o cheiro doce me seguindo em todos os ares.
Era curioso. O que mais me atingia era como aquilo, ao mesmo tempo que me despertava de mim e fazia minha cabeça não querer parar, me fazia ficar sem reação.
Sem palavras. Eu parecia um gago, com palavras a serem ditas que se engasgavam na garganta, precisando de tempo pra respirar, deixar o frio na barriga passar e conseguir organizar os pensamentos.
Mas esses, eram ligados a uma coisa só. Você.
Eu não te contei na semana passada, mas tem tanto tempo. Um tempo enorme que faz, da distância desse sentimento. Desse estado apaixonante, dessa vontade embriagada, desse sono profundo e desse beijo molhado.
Não quis te dopar com histórias nostálgicas nem falar de depressões amorosas e desesperanças. Mas só não o fiz pra não perder preciosos minutos ao seu lado, falando de algo que agora não tem importância. Agora, eu quero você.
De um dia pro outro a minha ideia de apego e carinho mudou da água pro vinho. Quase que literalmente. A água, agora roxa, me deixa com uma sede cada vez maior, e eu vejo toda minha teoria de unidade sendo levada ralo abaixo.
Podia ser qualquer um, mas dessa vez tinha que ser você. Com um jeito indomável e carinhoso, você conseguiu me prender. Me prender nos pensamentos, nos sonhos e até mesmo nos planos estúpidos que nos trazem uma ideia forçada de certezas futuras.
A única certeza que eu tenho por agora, é que eu quero você.
E quero de um jeito bobo, delicado, forte, apaixonado. Quero me perder no seu abraço, quero ouvir suas histórias, dormir embrulhada em você. Você me dá uma coisa, que eu tambem esqueci de falar dia desses. Me sinto segura ao teu lado. Quando longe, vezenquando pensando na saudade, consigo sentir que você pensa de volta.
Doce. Sente?

domingo, 22 de maio de 2011

Inlight


Tinha madrugadas assim. Passavam como uma xícara de café na manhã, complementavam. Outras, por sua vez, persistiam mais que o próprio dia, como uma polaroid instantânea, com durabilidade indefinida. Só podia ser corroída pelo tempo, escurecendo aos poucos e deixando gravado somente o que já era parte do passado.
Tinha manhãs coloridas, dias cheios, sonhos perdidos, sorrisos estampados, lágrimas engasgadas, coração mole, mudanças derretidas e amor. Amor sempre há, mesmo quando não se espera.
Tinha noites longas, passageiras, repetitivas.
Tinha vontades.
E não eram poucas.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

So let me help you remember


Outra vez comecei com o silêncio. Enquanto traçava passos na rua consegui formular parâmetros que explicassem o meu contexto. Realizei após uma breve intervenção de assuntos, como eu estava pra dentro de mim, mais do que esperava. Além de vozes e braços, que as vezes se faziam desejados nos sentimentos, o preferido agora era o outro lado. O lado vazio, sem nada.
Curiosa essa fase, eu pensei comigo. Por tantos anos que já foram embora, palavras tortas e sonhos pesados me traziam de volta antes do confronto. Olhava ao redor misteriosa, como quem busca um detalhe jogado na confusão. Encontrei uma beleza pura de alma branca que se conectou em alta energia e trouxe turbulência pra raiz.
Que faz você com todo esse desânimo, criança. Sempre que olha pro horizonte se vê. Passou da hora de você chegar lá, mas dessa vez o destino é você.

terça-feira, 29 de março de 2011

Névoa


"Era domingo. Se fumasse, acenderia agora um cigarro para ficar com ar de pessoa distraída. Mas assim tão sem vícios e portanto sem ter sobre o que derramar a distração que desejava, ai - assim ficava tão solta. Perdi até o sono, suspirou, como se o sono fosse a sua última reserva de segurança. E estou com preguiça de trabalhar e tenho vontade de falar uma palavrão, que merda também."
CF

domingo, 27 de março de 2011

Mais

Mais uma vez. Mais uma vez. Mais uma vez.
Essa foi a frase que eu repeti dentro de mim incontáveis vezes. Me percorria um arrepio frio, uma dor no estômago, uma vista nublada.
Nublado na verdade estavam meus pensamentos. Pensamentos não, estes eram quase transparentes em toda sua verdade. Venho conversando muito comigo mesma, em silêncio. Me escuto o dia inteiro e vezenquando concluo coisas certas.
O que estava fora da linha eram os sentimentos. Eu sei, não é a primeira e talvez nem seja a última vez que isso vá acontecer. De qualquer forma, eu termino nas palavras para não terminar nas lágrimas. As vezes nas duas. As vezes sozinha mesmo.
Eu gritava um canto quieto. Melodia dramática cheia de romantismo. Ouvia no rádio, lembrava de você. O que eu tava tentando fazer era entender. Saber qual era a magia negra que existia aqui pra me manter assim, dispersa. Dispersa do mundo. Porque disso eu não me desligava.
E quando digo sentimento, talvez esteja errada. Porque eu sabia do sentimento. Eu entendia a sua mudança, eu aceitava, eu sentia ele. Mas não era possível! Até quando esse "mais uma vez" vai falar no meu ouvido?
Eu aguento. E as vezes, eu mesma falo pra mim. Sabe, coisa automática. Você, tão acostumada... já sabe o que tem que fazer. E era aí que meu racional estava estagnado.
Se você enxerga isso como pode continuar andando nessa estrada cheia de buracos com curvas tortuosas e alagada por uma tempestade?
Era tão mais bonito quando o sol estava lá. E ele já esteve por tanto tempo.
Eu pedia a mim mesma que controlasse essa loucura, não aguentava mais a boca seca.
Como se houvesse um espelho, e meu problema fosse na verdade com ele.
Aceita, oras! As coisas terminam. E sabe, não terminou. Não assim, como a morte.
É coisa que tem jeito, tem cheiro, tem vida. E o que você quer, é a felicidade.
Cogitei tratamentos de choque. Ou desses que todos se submetem por estarem tristes ou com o coração partido. Talvez, a maluca mesmo seja eu.
Por todo tempo essa certeza eu mantive.
Agora cultivo outras certezas também. Preciso deixar de acreditar tanto. É, mesmo quando não existe mentira, as verdades também machucam.
Parar de sentir tudo tão forte. Construir aquelas cercas de que tantas músicas e poemas falam, em volta do coração, da cabeça, de qualquer romance.
A gente aprende com o tempo, eu sei. Já ouvi isso, e acredito sim.
Acredito porque eu aprendi. Mas ficou difícil de um jeito que nunca foi. E meu medo é ainda ter que descobrir outra dor, vinda ela de qualquer lugar, outro amor.
Fico me martirizando com você. Comigo.
Olho pro céu e lembro que a estrela me disse umas coisas. Espero esse tempo com a mesma ansiedade que a criança espera o presente. A liberdade que sempre foi sua, vai chegar pra mim.
Nunca quis que cicatrizes evitassem outros tombos. Sempre achei que uma coisa não justifica a ausência da outra. Mas agora, talvez essa seja uma nova certeza pra mim.
Amor, amor, amor. Demais.
Mais uma vez.

domingo, 20 de março de 2011

Vocês sou eu também

Vou começar por onde tudo começou. Uma perda. Um sofrimento chegou e tomou conta dela. Ela não era a pessoa mais forte nem a mais certa, mas era sem dúvida a mais bonita. Aos poucos ela foi se entregando a dor que sentia, e não conseguiu mais acordar na hora, nem lembrar de fazer compras. Aquele limbo foi virando a realidade, e a fase virou algo constante. O constante virou uma doença.
Do outro lado, um homem capaz, guerreiro, auto confiante e sonhador. Com toda sua juba em desfiles monumentais esperava do mundo um reconhecimento da mesma forma que esperava uma piscada do espelho. Como um bom leão, não possuía apenas a vaidade mas também uma humildade e um carinho sem tamanho. Durão de dar medo, com seus gritos e imposições, julgava ser o dono da verdade. Por vezes era. Outras, nem tanto.
O que houve foi que o caminho dessas duas criaturas era cruzado em um ponto místico. Colocava em prática a teoria de atração dos opostos e fazia qualquer casal sentir um pingo de ciúmes da bela história que concluíam juntos, aos poucos.
Eu sempre acreditei em final feliz. Coisas cliché que se aprende vendo romances e lendo livros adolescentes. E eles alcançaram o felizes, mas ainda não tinham chegado ao final.
Com todo aquele sofrimento, desencadeou uma crise permanente de rejeições, brigas e desentendimentos. Por vezes achei que fosse falta de amor. Por outras, julguei falta de compreensão. E até hoje, não sei dizer ao certo o que houve.
Olhando para trás, encontrei alguns detalhes cruciais. Coisas relacionadas a sentimentos, aqueles bem intensos, e à decepções e chateações ligadas a expectativas frustradas.
Coisa complicada. Parecia uma teia, quando achava que o fio chegara ao fim, começava um outro.
De tanta informação, aquele leão bravo quase se deu por vencido uma vez. Ficara desequilibrado. Perdido. Sem ter direção, como nunca tinha acontecido antes.
A menina, bela e delicada em sua ousadia e esperteza, havia se entregado aos desgastes da vida, como uma maçã que apodrece ao pé. Uma história de beleza de repente virou uma tragédia.
Eu pensava que tudo um dia se resolveria. Por mais estagnados que fiquemos, o destino e o tempo nunca são mesmo a favor dessa inércia. Existe sempre algum fato pra corromper as situações frágeis. E o que eu fazia agora, era esperar por ela.
Eu ouvia tantas coisas, dos dois. E quando parava pra pensar em como eu ainda estava ali, como terceiro elemento sobrevivendo e lutando ao lado dos dois, sendo fonte de coragem e causa de segurança, as vezes nem acreditava.
Não acreditava como tudo chegara a esse ponto crítico. Não conseguia achar uma pessoa só, nem um motivo. Nada vinha à minha cabeça rotulada com culpa. Foram tantas coisas, tantos medos, tantas palavras engasgadas nos anos perdidos.
Tanta felicidade jogada fora e agora tantas flores mortas no jardim.
Pedia calma. Rezava. As vezes tudo fugia do controle. O mundo inteiro não parecia ser suficiente nem interessante mediante a dor e as lágrimas geradas pelo caos.
Força. Fé. Felicidade.
Eram coisas que eu tinha, sem saber por que, nem de onde elas vinham.
Mantinha tudo de bom por perto. Pedia que eles enxergassem um pouco com meus olhos de criança sonhadora, e que sonhassem um pouco mais.
Não se deixem levar pela tristeza, eu pedia.
Nada dura pra sempre. Nem eu, nem vocês. Então me dá a mão, faz isso acabar e volta pra mim. Queria que você soubesse tanta coisa. Pensei em escrever cartas aos dois, dizendo tudo que me passava pela cabeça nas madrugadas que não tive sono, e nas aulas que não prestei atenção pois era tomada pela insegurança.
Mas nunca escrevi.
Tudo é um aprendizado. Tudo não é por acaso.
Acredita. Vai ficar tudo bem.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Lua e Estrela

Era de se esperar que ela soubesse. Soubesse o caminho, o jeito, o cheiro. E principalmente o sentimento. Tão grande, tão bonita. Grande no coração, bonita na alma.
Mas ela não sabia. Não acreditava, talvez. Preenchida de sonhos e exaltações, aceitava o talvez como quem aceita a chuva. Como se não houvesse meios de mudar tudo aquilo que guardava dentro de si.
Tolice, eu dizia. Mas essa é mais uma das coisas que só enxergamos quando chega a hora certa. E eu já sabia disso. E sabia também que ela ia chegar lá. E torcia. Torcia como ninguém mais imaginava, como ninguém mais o fazia.
Eu queria ela pra mim. Queria.
Não sei se pela fragilidade. Pelo cuidado. Sei que sim, pelo cheiro.
Nenhum outro cheiro era tão doce quanto aquele.
Se fez malicioso, delicado, dormente.
Dia sim dia não, fizesse muito ou pouco tempo, eu sempre sentia saudade.
Ela não acreditava nisso também. Era assim, tão maleável quanto as ondas, e tão dura quanto o chão. Parecia que evitava. Ela queria não acreditar. E em suas falhas, se entregava.
A porta abriu. Voa, amor. Você sabe pra onde deve ir. Deixa o medo, quantas vezes te disse, eu tô aqui. Estica a mão, me prende e não deixa mais ir. Não vai. Só vem.
Vem.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Carta


Hoje recebi uma visita. A insônia apareceu como que sem motivo. Tive uma noite agradável, troquei palavras com ombros amigos e me senti um pouco mais completa. É, que como você sabe depois da separação eu tenho buscado isso. Me sentir inteira novamente, regenerar o pedaço morto que ficou pra trás. Um pouco exagerado falar assim, sei que você sempre fala pra eu não ver dessa forma que tudo vale a pena. De fato valeu. Mas você também me conhece e sabe que eu preciso de pouco tempo pra me remontar e correr pra outro abraço. Se é ponto final que eles chamam, é por um bom motivo.
Então depois dessa noite eu resolvi te escrever. É que foram conversas tranquilas as da noite, e pensei em você. Adoraria estar lá para dar palpites e conselhos sobre as filosofias de vida e romances bobos que tiram o nosso sono.
Não sei se já falei isso vezes o suficiente, mas sabe que me conforta um bocado a certeza de você? É. Essa coisa toda de eu te escrever e saber que você tá me lendo, assim, com toda delicadeza da vírgula e a ênfase do parágrafo.
Explorar as coisas foi uma coisa que você me ensinou. Ir até o fundo e não sossegar enquanto não conseguir. Pois é. Acho que isso eu aprendi tão bem, que agora nada que é pouco ou parece superficial me satisfaz. Culpa sua.
Nessas últimas noites eu tenho ido dormir meio calma. Até hoje. Isso tava faltando, lembro bem de você avisando isso. Como a falta de calma poderia me deixar desequilibrada. E não é que deixou?
Enquanto eu tava na rua nessa noite entrei em uma livraria. Vi tantas palavras. Senti texturas e vi rostos diferentes que buscam a mesma direção.
Nessa noite de fumaça e muito matte, porque eu ainda sou viciada em matte como você lembra, eu aprendi tanta coisa. Concretizei sentimentos que estavam quase certos mas não maduros ainda para serem desamparados pela insegurança.
É sempre bom quando você tem alguém pra ouvir. Alguém pra falar. Dividir essas coisas bobas da vida, como livros favoritos, últimos atos ou até física quântica.
E eu tenho, tenho você. E sempre que penso nisso vem uma onda de calor. Calor quente, morno, tranquilo. Mas já falei de tranquilidade hoje.
Amanhã eu te escrevo de novo.
Porque tem coisas que eu pensei hoje mas acho que ainda não estou preparada pra falar.
Passei em lugares que me fizeram lembrar. E deu uma saudade.
Já era pr'eu ter aprendido, eu sei. Imagino agora você fazendo aquela cara sua com os olhos virados pra cima. Mas não quero. Não quero endurecer e parar de acreditar.
Isso vocâ também me ensinou, lembra?

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Vista Cansada


Linhas paralelas. Uma correndo ao lado da outra querendo chegar onde não se vê. A vida absorvendo todo dia um pouco além do que consegue suportar. Até onde pode, entrega.
Idas e vindas driblando o destino de forma ríspida e singular.
Uma escuridão perdida que toma conta quando estamos sozinhos.
Sente medo?
A solidão derruba a porta quando não se espera. Invade, provoca e ameaça.
As pessoas são assim.
Solitárias, você quer dizer?
Não, medrosas.
A cada vírgula de mudança elas se deparam com a falta de reação. Tão mais fácil não levantar da cama. Não encarar o mundo, o sentimento, a derrota, a perda.
Ficar inerte em um estado constante de segurança, onde você pode ser ou pensar o que quiser. A única pessoa que vai saber disso tudo é você, mais ninguém.
Até quando?
Por que você pensa, ou eles dizem, que é mais seguro isso tudo? Um esconderijo padrão que a sociedade inventou para calar os medos escandalosos que seguem um sentimento calado, uma boca rachada e uma vista embaçada.
Quantas vezes eu tenho que te tirar desse buraco?
Sorte, que nada. O espelho tá quebrado mas você ainda pode se ver.
Larga essas pessoas. Esquece essa mania de ter que ter. Você nao tem que ter nada. Precisa só de você. E do espelho, pra te lembrar isso vezenquando.
Quanta energia depositada em tanta perda de tempo. Coisas prestes a serem alcançadas e concretizadas deixadas de lado por uma falha química que atinge todos nós.
O controle está no peito, no cérebro, no olhar. Na alma.
Vem de dentro. Tem que ser seu. Só seu.
Pode sempre quem quer.
Quem quer sempre pode.
E você, quer o que?


quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Sombreado

Ontem eu voltei pra casa por outro caminho. Atravessei a rua e fui pros lados de lá. A música era boa e contemplava os reflexos do momento. Pensei que devesse deixar aquilo vivo por mais tempo.
Esqueci as horas e fui, pé ante pé em busca de nada.
A vista dos passos estavam sombras perdidas, assim como eu.
Sombras conhecidas.
Umas antigas,
outras nem tanto.
Foi então que tirei os fones pretos e pesados que me ausentavam do espaço e resolvi conversar com elas. É, assim mesmo, em alto som.
Perguntei porque elas existiam ainda. Porque depois de tanto tempo, se prendiam a uma coisa velha, acabada. Ela respondeu:
"Ninguém se prende a nada ou à ninguém sozinho."
Me virei de costas e encarei a outra, que era mais devagar e estava quase sumindo.
Disse a ela que não tinha medo algum, e que ela precisava falar algo que fizesse sentido. Explicar a razão, inventar a ausência ou brincar no sol. Mas não podia simplesmente ficar parada, seguindo as outras.
Ela então continuou quieta, e chegou mais pra trás.
Respirei.
Falei com a terceira sombra, a mais escura de todas elas e a que estava mais próxima, sempre.
"Se pensas que sabe de tudo, me conta então. Conta esse tudo que carregas contigo e que prendes à mim com tamanha indiferença. Se não queres estar aqui peço que suma de uma vez."
Ela deu um sorriso torto. Estranho, nunca a tinha visto assim. Expressiva.
"Me conta você. Você que me trouxe aqui. Você que me deve uma explicação."

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Narrador


Acordei e já era tarde. O dia já tinha escurecido e a penumbra das nuvens havia sumido. A casa fazia silêncio, não parecia que nada se mexia. Me estiquei aos poucos, tentando me soltar da preguiça e das horas perdidas no sono.
Embora fosse quase uma da manhã, preparei um café forte, com aquele cheiro que acorda qualquer um. Me sentei no sofá bordado, peguei meu livro e liguei a tv. Passava um filme antigo, em preto e branco. Aqueles clássicos de cinema que só quem está acordado na madrugada de uma uma quinta feira pode conhecer. De fato, eu conhecia. E lembrava que a última cena era a minha favorita. Todos aqueles diálogos extremamente românticos alimentavam jovens inocentes que buscavam a eternidade no amor. Quanta bobagem.
Me voltei ao livro, havia parado no capítulo sete. Era um livro gordo, desses os quais minha mãe tinha pânico só de ver. Sempre se impressionava pela quantidade de páginas. E era justamente o que me deliciava.
Pensava eu, que quanto maior fosse, mais tempo eu levaria mergulhado em um mundo inventado. E conseqüentemente, mais afastado de toda essa loucura que é o mundo real. Mas isso ela não entendia. Aliás, deixou de entender muitas coisas muito cedo.
A tv ligada apenas desdobrava sombras e raios pela sala, enquanto eu estava mesmo era concentrado na história.
Eu tinha a tranqüilidade ao meu redor. Havia me mudado tinha pouco tempo, para uma casa antiga e de um pavimento só, com uma varanda e umas flores plantadas na entrada.
Finalmente consegui minha liberdade. O trabalho era pouco, em um jornal pequeno da cidade. Mas o suficiente para me deixar satisfeito em voltar a pé para casa e ter meu canto, meu conforto e tudo do meu jeito.
É, do meu jeito. Era leonino. Não sei se você sabe coisas de signo, mas leoninos são ótimos camaradas. São sim. Mas estão sempre querendo aparecer também. E não venha dar ordem. Aqui não vai ter espaço para você.
Então, li meu livro por um tempo, ouvi os diálogos bobos do filme e tomei meu café. Quando entrei no capítulo oito resolvi esticar as pernas e respirar um ar mais frio. Peguei o casaco e saí. Deixei a porta semi-aberta, caso Max resolvesse sair também.
Max é meu pastor. Vive comigo há cinco anos. Está mais acostumado com meu ritmo do que eu mesmo, e me conhece muito bem.
Ao ar livre, baforei minha fumaça para fora e vi ela se desenhar entre a umidade do ar. Sempre admirava isso. Com o cigarro aceso, o único som vinha da brasa, queimando.
Pensei em tudo. É assim. Quando você mora sozinho parece que você tem mais tempo para pensar. O silêncio faz presença em todo lugar. E como eram quase duas da manhã, não passava nem carro nem gente pela rua mal iluminada.
Foi então que lembrei dela. Depois de tanto tempo, me perguntei a tradicional pergunta dos amores apaixonados que terminam sem querer terminar.
Por onde será que ela anda?
Foi tudo tão rápido. Ficamos mais de ano juntos, mas não pareceu nem uma primavera inteira. Estávamos separados há mais de ano também. E eu seguia sem notícias. Será que casou? Que se mudou? Que foi morar fora?
Eram perguntas tão redundantes quanto que horas eu iria acordar amanhã. Estava com um péssimo hábito de trocar a noite pelo dia, coisa de morcego, ou de quem nasceu no Japão, já dizia minha mãe.
E ali, na madrugada fria, eu olhava para o Max e me perguntava. Perguntava o que todo mundo se pergunta um dia. Porque.
Nem eu iria descobrir, nem ele. Acho que na verdade, ninguém.
Foi assim porque tinha que ser.
Minha avó dizia sempre isso. E eu me acostumei a ouvir e a aceitar.
Falar sobre o amor ou se questionar era irrelevante. Assim como eu havia aceitado ter me apaixonado por ela, eu tive que aceitar a sua fuga também. Fuga rápida, medrosa.
Quando disse que ela tinha levado embora um pedaço de mim disseram que eu era exagerado. Só quem já se apaixonou sabe do que falo.
Olhei para o Max e pensei se ele algum dia iria ou poderia se apaixonar. Injusto não poder. Acho que o amor é digno de toda criatura.
E sempre me perguntavam porque. Ora, porque do que?
Porque, eu mesmo sem um pedaço no peito, continuava perdido a buscar incessantemente o amor. Porque eu me apaixonava todos os dias por coisas e pessoas novas. Porque eu não me satisfazia com uma paixão passageira, só me alimentava delas.
E eu dizia, porque?
Porque isso,
isso é que amar de verdade.

É não se cansar do amor.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Sobre o que desejo, secretamente


"Tomara que a gente não desista de ser quem é por nada nem ninguém deste mundo. Que a gente reconheça o poder do outro sem esquecer do nosso. Que as mentiras alheias não confundam as nossas verdades, mesmo que as mentiras e as verdades sejam impermanentes. Que friagem nenhuma seja capaz de encabular o nosso calor mais bonito. Que, mesmo quando estivermos doendo, não percamos de vista nem de sonho a ideia da alegria. Tomara que apesar dos apesares todos, a gente continue tendo valentia suficiente para não abrir mão de se sentir feliz."

(sempre) Caio.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Liby


Enquanto a chuva caía lá fora ela se confortava com a segurança de estar em casa. Era bom ter um espaço seu. Não que não gostasse de pessoas por perto. Gostava muito. Mas desde pequena tinha certas manias. Como andar de meia pela casa, fizesse o calor que fosse. Como comer banana com nescau. Como bochechar três vezes todos os dias. Como beber água sempre após escovar os dentes. Como dormir de bruços agarrada ao travesseiro.
Essa menina era curiosa. Adorava escrever. Tinha um mundo inteiro guardado em sua gaveta e um coração que não cabia dentro de si.
Com o tempo, ela aprendeu coisas da vida. Valores, dúvidas, medos. Tudo aos poucos foi diminuindo. Deixando de ser assustador.
Se ensinou a encantar pessoas como os pássaros faziam com ela. Ela acreditava que era diferente. Mas não diferente excluída. Simplesmente diferente.
Quando podia fugir do mundo real ela pegava todas as músicas e passeava pelo arco íris sem hora pra voltar.
Quando via filmes, ela acreditava que sua vida seria como quisesse. Poderia escolher a trilha sonora.
Essa menina lia muitos livros desde seu tamanho menor. Se perguntava freqüentemente sobre a existência, o tudo, o nada. Ficava impressionada com a intensidade de certas coisas, sentimentos, fatos. E indignada com a ausência e ignorância da maioria das pessoas para tais questões.
Como podiam viver todos os dias sem um sonho ou um pensamento bom? Se conter com a sobrevivência diária como se a selvageria houvesse tomado conta.
Apreciem, ela pensava. Dêem valor a cada sol que brilha, a cada lua que se despede.
Acredita no que quiser. E está tudo bem se depois você quiser desacreditar. Você pode.
Só não se despeça da vida antes da hora. Não dê prioridade a tamanhas discussões e desentendimentos.
Ela mesma, essa menina, as vezes se perdia nesses becos. Tinha uma facilidade grande em se encantar. Cada brilho chamava sua atenção. Cada perfume dominava suas reações.
Ela se apaixonava todos os dias. E desejava que um dia fosse correspondida em suas loucuras matinais.
Mas sempre que aparecia por perto das confusões ela se lembrava que não precisava daquilo. Se isolava.
Naquele espaço que era só dela, onde ela sempre se refugiou do resto do mundo, ela brincava de ser quem quisesse.
Sabia lidar bem com personagens e fantasia. Tão bem, que as vezes se confundia.
Esquecia.
E mesmo no dia seguinte, quando acordava para viver o necessário e não o querido, se despedia com um sorriso no rosto,
como quem diz,
um dia eu volto.
E prometo,
que não demoro.

sábado, 8 de janeiro de 2011

Tudo Bem


"O verão está aí, haverá sol quase todos os dias, e sempre resta essa coisa chamada 'impulso vital'. Pois esse impulso às vezes cruel, porque não permite que nenhuma dor insista por muito tempo, te empurrará quem sabe para o sol, para o mar, para uma nova estrada qualquer e, de repente, no meio de uma frase ou de um movimento te surpreenderás pensando algo assim como "estou contente outra vez". Ou simplesmente "continuo", porque já não temos mais idade para, dramaticamente, usarmos palavras grandiloqüentes como "sempre" ou "nunca". Ninguém sabe como, mas aos poucos fomos aprendendo sobre a continuidade da vida, das pessoas e das coisas."

Caio.