sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Por Último,


Mais um ano que chega ao fim. Outro tempo que chega trazendo novas energias e vibrações com toda positividade do momento. Um fim que traz um novo começo. Me despeço do que ficou pra trás nas datas do calendário que ainda está pendurado. Penso em tudo que esse ano trouxe. Parece que a carga só vai aumentando. As datas vêm, vão e continuam acontecendo em sua seqüência que não pode ser quebrada. Então quero desejar. Quero pedir. Quero esperar.
Desejo que as pessoas tenham hoje a consciência de lembrar tudo que passou e guardar só as coisas boas. De superar os medos e inseguranças e começar com força total, pra mais aventuras. Que saibam entender e aceitar o outro. Que deixem de lado as mágoas e pensem na felicidade como objetivo maior. Que sejam mais humildes e menos orgulhosas. Que aprendam a aceitar a vida e saibam vivê-la sem que ela seja vista como inimiga. Não tenham arrependimentos. Se desprendam do passado para conseguir alcançar o futuro. Percebam o mundo inteiro como uma possibilidade. Que deixem de olhar para amanhã como a única esperança. Hoje, já é tempo.
Que o amor não seja temido pelo possível sofrimento. O amor é. Simplesmente é. Então, precisamos deixá-lo ser. Que a esperança, a força de vontade e a alegria sempre vençam a dor e a tristeza. Que as expectativas sejam correspondidas e a hesitação seja colocada de lado.
Desejo paz. Amor. Saúde. Felicidade.
E principalmente, renovação.
Bem vindo, 2011.

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Nada Pela Metade


Buscamos todo dia um novo motivo para acordar e abrir um sorriso. Tentamos projetar nos outros fantasias nossas, criamos expectativas de como poderia ser lindo se as reações a nossa volta decorressem com a exatidão do nosso pensamento.
Tenho aprendido tanto. Acordei por dias sorrindo e por outros séria, as vezes com lágrimas engasgadas. Com isso me fiz diferente, cresci. Acho que é isso que querem dizer quando falam sobre amadurecimento.
A evolução chega pra gente uma hora. Com tudo que se vive, molda-se o novo. Aquilo que antes era o suficiente deixa de ser. As buscas ficam mais apuradas. A certeza aumenta e vai tomando o lugar da insegurança.
As pessoas estão aí, perdidas no mundo como você.
Muitos fogem dos sentimentos. Tem um medo danado de se entregar. Vem sempre dor, decepção. Não, sempre não. Só quando é pra ser assim. O aprendizado precisa disso pra se concretizar.
Então eu digo que hoje não tenho medo de sentir. Mas afirmo que não quero nada pela metade, só pelo fato de ter algo acontecendo. Quero uma tolice inteira, com carga cheia.
Porque nunca foi da minha filosofia de vida aceitar nada só por aceitar.
A diversão está em querer mais. Ir além. E se você estiver lá me esperando, vou te dar as mãos. Se eu for sozinha, vou continuar andando, com a busca do dia seguinte estampada na boa vontade da vida.
É hora de mudar.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

CF


"Porque já não temos mais idade para, dramaticamente, usarmos palavras grandiloqüentes como "sempre" ou "nunca". Ninguém sabe como, mas aos poucos fomos aprendendo sobre a continuidade da vida, das pessoas e das coisas. Já não tentamos o suicidio nem cometemos gestos tresloucados. Alguns, sim - nós, não. Contidamente, continuamos. E substituimos expressões fatais como "não resistirei" por outras mais mansas, como "sei que vai passar". Esse o nosso jeito de continuar, o mais eficiente e também o mais cômodo, porque não implica em decisões, apenas em paciência."

Sobre o (des)caminho


"A vida tem caminhos estranhos, tortuosos às vezes difíceis: um simples gesto involuntário pode desencadear todo um processo. Sim, existir é incompreensível e excitante. As vezes que tentei morrer foi por não poder suportar a maravilha de estar vivo e de ter escolhido ser eu mesmo e fazer aquilio que eu gosto - mesmo que muitos não compreendam ou não aceitem."

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Sobre a falta de novidade


Era uma vez um menino. Ele tinha completado 5 anos não fazia muito tempo, e começava a entender melhor o significado das coisas.
Luca, era como se chamava, sempre fora extremamente observador. Detalhista, curioso e palpiteiro, sempre surpreendia com questões complexas que muitas vezes ficavam ainda sem resposta.
Era dezembro, o verão chegava com tudo. As flores estavam lá no jardim deslumbrando com seu perfume, a praia era muito frequentada e o balanço do parque estava sempre em movimento.
Um dia no carro, Luca perguntou a seu pai se na quinta feira era ano novo mesmo. Quis saber se era por isso que os primos iam vir e encher a casa, e a avó ia chegar cedo lá em casa com toda aquela comida e a mamãe estava tão preocupada com os enfeites e a Lara, irmã mais velha, irritada porque não ia poder ficar trancada no quarto. O pai disse que sim, explicou sobre a celebração, despedida do ano velho para a chegada do novo ano, e disse que com ele viriam muitas mudanças e novas oportunidades.
Bom, ele pensava, se o nome já diz "novo" é porque muito vai mudar! Começou assim uma contagem regressiva, ansioso passou o menino por toda semana, querendo participar e saber mais e mais sobre o que ia acontecer no famoso dia 31. Esperava o novo ano como quem espera a meia noite do natal, esta que inclusive para ele, que esperava um novo game, foi relativamente calma. Dormira antes da meia noite e só desembrulhou tudo na manhã seguinte. Focava toda sua energia para a noite da chegada. O que esperava, ele não sabia. Mas tinha certeza que era algo muito bom! Toda aquela festa, não seria por nada.
O desejado dia chegou. Estouraram a champagne, comeram doces e jogaram confetes. Descarregou todas as suas energias na preparação do dia, na ansiedade que brotava e só ouvia sua mãe gritar,
Luca! Se acalme guri! Pare de correr pela casa, não quero que quebre nada!
E assim, pegou no sono.
Na primeira manhã do novo ano, abriu os olhos, pulou da cama abriu a janela e olhou pra fora. Nada demais.
Talvez lá embaixo as coisas tenham mudado!
Correu escada abaixo e adentrou a cozinha como um furacão. Era cedo demais, toda a casa estava silenciosa e dormindo. Abriu a porta e saiu pro jardim.
Tudo igual. O vizinho. O carro. As flores. O céu. Até mesmo o sol estava lá, dando o ar da graça. Uma onda de decepção tomou conta. Sentou no chão, cruzou as pernas e resolveu descontar na grama verde que contornava a casa.
O pai, de costume acordava quase de madrugada, apareceu e sentou-se ao seu lado.
-O que foi meu filho, não consegue dormir?
-Papai, você mentiu pra mim.
-Menti? Sobre o que Luca?
-Você disse pra mim que era ano novo hoje.
-Ora, mas é! Por que mentiria sobre isso filhote, nunca minto pra você.
-Mas, não pode. Você vê algo novo? Procurei por todo lado, e não achei nada. Que graça tem, esse ano novo? Que chega pra ser nada?

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Sobre a tentativa


"Era uma menina que gostava de inventar uma explicação para cada coisa.

Explicação é uma frase que se acha mais importante do que a palavra.
As pessoas até se irritavam, irritação é um alarme de carro que dispara bem no meio de seu peito, com aquela menina explicando o tempo todo o que a população inteira já sabia. Quando ela se dava conta, todo mundo tinha ido embora. Então ela ficava lá, explicando, sozinha.
Solidão é uma ilha com saudade de barco.
Saudade é quando o momento tenta fugir da lembrança pra acontecer de novo e não consegue.
Lembrança é quando, mesmo sem autorização, seu pensamento reapresenta um capítulo.
Autorização é quando a coisa é tão importante que só dizer "eu deixo" é pouco.
Pouco é menos da metade.
Muito é quando os dedos da mão não são suficientes.
Desespero são dez milhões de fogareiros acesos dentro de sua cabeça.
Angústia é um nó muito apertado bem no meio do sossego.
Agonia é quando o maestro de você se perde completamente. Preocupação é uma cola que não deixa o que não aconteceu ainda sair de seu pensamento.
Indecisão é quando você sabe muito bem o que quer mas acha que devia querer outra coisa.
Certeza é quando a idéia cansa de procurar e pára.
Intuição é quando seu coração dá um pulinho no futuro e volta rápido.
Pressentimento é quando passa em você o trailer de um filme que pode ser que nem exista.
Renúncia é um não que não queria ser ele.
Sucesso é quando você faz o que sempre fez só que todo mundo percebe.
Vaidade é um espelho onisciente, onipotente e onipresente. Vergonha é um pano preto que você quer pra se cobrir naquela hora.
Orgulho é uma guarita entre você e o da frente.
Ansiedade é quando faltam cinco minutos sempre para o que quer que seja.
Indiferença é quando os minutos não se interessam por nada especialmente.
Interesse é um ponto de exclamação ou de interrogação no final do sentimento.
Sentimento é a língua que o coração usa quando precisa mandar algum recado.
Raiva é quando o cachorro que mora em você mostra os dentes.
Tristeza é uma mão gigante que aperta seu coração.
Alegria é um bloco de Carnaval que não liga se não é fevereiro.
Felicidade é um agora que não tem pressa nenhuma.
Amizade é quando você não faz questão de você e se empresta pros outros.
Decepção é quando você risca em algo ou em alguém um xis preto ou vermelho.
Desilusão é quando anoitece em você contra a vontade do dia.
Culpa é quando você cisma que podia ter feito diferente, mas, geralmente, não podia.
Perdão é quando o Natal acontece em maio, por exemplo.
Desculpa é uma frase que pretende ser um beijo.
Excitação é quando os beijos estão desatinados pra sair de sua boca depressa.
Desatino é um desataque de prudência.
Prudência é um buraco de fechadura na porta do tempo.
Lucidez é um acesso de loucura ao contrário.
Razão é quando o cuidado aproveita que a emoção está dormindo e assume o mandato.
Emoção é um tango que ainda não foi feito.
Ainda é quando a vontade está no meio do caminho.
Vontade é um desejo que cisma que você é a casa dele.
Desejo é uma boca com sede.
Paixão é quando apesar da placa "perigo" o desejo vai e entra.
Amor é quando a paixão não tem outro compromisso marcado. Não. Amor é um exagero... Também não. É um desadoro... Uma batelada? Um enxame, um dilúvio, um mundaréu, uma insanidade, um destempero, um despropósito, um descontrole, uma necessidade, um desapego? Talvez porque não tivesse sentido, talvez porque não houvesse explicação, esse negócio de amor ela não sabia explicar, a menina."


Adriana Falcão

- Indicado pela escritora: Paulinha Moritz (L)

Aprende


"Vai menina, fecha os olhos. Solta os cabelos. Joga a vida. Como quem não tem o que perder. Como quem não aposta. Como quem brinca somente."

Sobre o que você não sabe. Ainda.

Te escrevo agora porque preciso. Já foram tantos rabiscos jogados fora. Mas dessa vez deixo assim, como for. Se você estivesse perto e eu sentisse seu cheiro suave talvez não tivesse a coragem de dizer tudo o que as palavras podem explicar. Mas como você já sabe, tenho certa intimidade com a escrita, e pelo silêncio vou me guiando e as coisas parecem sempre um pouco mais claras e óbvias.
Preciso. O que é exposto aqui talvez não chegue a você, nem amanhã nem na semana que vem. A questão é da necessidade quase física de colocar pra fora o que tormenta meu corpo, mente, coração. Coisa de sentimento, sabe? Leio tantas coisas que combinam com a gente. Tenho pensado em você quase sempre. Quando me sinto uma criança fantasiando sobre castelos e cavalos brancos tento então me segurar. Ninguém quer acabar encontrando outro desencontro da vida.
A vontade de você chega a ser tão forte, vezenquando. Sinto que isso pode crescer rápido. Disse a você outro dia, exalando inocência, que me apaixono perdidamente dentro do tempo do desabrochar da rosa. Coisa que raramente se nota. A falta que fica quando eu vou embora sem ter o que eu queria é meio repentina, grita, e quase nunca se vai.
Você não imagina. Sabe coisa de consciência limpa? Queria ser capaz de te dar a certeza da vontade que existe aqui dentro, seria mais fácil.
Entenda, de prontidão, que apareceste de repente tão quanto eu pra você.
Que meu medo e sentimento cresceram de mãos dadas com os teus. E se hoje se separam é só por desejo de liberdade e apreensão de sofrimento.
Minha tentativa é a torcida escondida que tenho pra te ver quando o sol vai embora. De atender tua ligação nervosa no meio da madrugada, e de te sentir perto, com aquele seu jeito engraçado e desajeitado que me faz pequena de novo.
São palavras ao vento, jogadas em um rascunho velho que esperava por palavras novas como eu esperava por me apaixonar de novo.
O rascunho mantém as palavras.
Mas, eu. Ainda tenho você?

sábado, 4 de dezembro de 2010

Receita 1

-Quero desejar um dia belo. Uma manhã calma ensolarada e azul. Sábado. Tudo hoje vai começar a mudar. Quero ver um grande sorriso no rosto assim que sair da cama. Busque a praia, a natureza. Aceite o carinho dos seus queridos, que mesmo sem saber se preocupam com você. Põe uma roupa leve, arruma sua bolsa e sai por aí, mesmo que não tenha destino, mesmo que não tenha ninguém. Repara no céu, na cor dos olhos de quem atravessar o seu caminho. Se alimenta de coisas diferentes e gostosas. Tira esse dia pra se recompor, reencontrar o equilíbrio que você perdeu, e volta pra você. Quando sair de casa, leva sua máquina de fotos. É, usa pra retratar momentos, coisas, pessoas desconhecidas. Estranhos. Mas que de certa forma estarão compondo você, um novo você. Deixa pra trás toda dor. Não abandone o pensamento de que vai ser difícil, porque ainda é. Mas dribla ele, enfeita, dá um pouco de cor. Esquece um pouco das pessoas. Da sua dependência. Não queira controlar as coisas, muito menos as pessoas. Saiba que elas vão e vêm, mas nem por isso deixam de gostar de você. Não exagere no esforço nem no reconhecimento. Acredite que você é especial para quem deve ser pra você. Mantenha as preocupações longe, por hoje. Escute músicas calmas, que te tragam tranquilidade. Medite. Reze. Agradeça. Beba água, ajuda a purificar. E respira, sempre bem fundo. Evita esses cigarros nos quais se afoga constantemente. Declare seu amor pelas pessoas próximas, nunca sabemos da última vez. Leia seu horóscopo, olha a lua nova, leva seu all star pra passear. Lembra de quem te dá saudade. Valoriza o que é teu. Levanta o rosto e olha no espelho. O que você vê é maior do que qualquer medo. Você forte desse jeito, se deixando levar? Não aceito. Deixo essa receita pronta, esperando que siga cada passo dela. E que aproveite. E ao final do dia, quando for pra cama, eu estarei com você. E farei com que se lembre, que quem desiste, é porque não tem pelo que lutar. E você tem.
Até lá.

Perdi-me


Eu nem queria começar. De dentro vinham pensamentos, palavras. Uma angústia que não tinha fim. Daquelas que faz você querer sumir. Hoje, pessoa nenhuma foi suficiente pra mim. Nem eu mesma. Fazia uma semana que eu tentava recuperar a minha energia e encarar as coisas com o jeito positivo e extrovertido de sempre. Mas dessa vez era difícil. Uma frieza completa tomou conta, como em uma avalanche. Me sinto paralisada por dentro, quer dizer, não sinto. São tantas emoções ao mesmo tempo batendo de frente que no final não consigo dar um sorriso forte nem fazer escorrer uma lágrima densa. Um estado de ódio externo, que até o que não deveria, me incomoda. Talvez fosse insatisfação. Drama. Vitimização. Mas como, eu não suportava me fazer de vítima. Pedir ajuda, gritar ao mundo que me sinto um pequeno ser vulnerável até mesmo ao vento, e que só busca um colo aconchegante pra passar a noite. Um lugar seguro, quente, que me acalme e faça essa dor que me esmaga todo dia ir embora, pelo menos um pouquinho. Dar uma folga. Pro coração respirar melhor, os olhos se abrirem e aquele brilho que sempre morou lá poder voltar. E veja que ironia, até mesmo quando gritei aos ventos e pedi socorro parece que cortaram a linha ao meio e as coisas ficaram meio mal entendidas. Tenho eu plena consciência de que ninguém tem a obrigação de cuidar de mim. Mas sabe, é maior que obrigação, é expectativa. E uma vez que você foca de uma forma, e espera que aquilo aconteça como você quer, já era. A decepção? Devastadora. E aí descobre que as coisas tem que mudar nisso também. Suas perspectivas de vida profissional, amorosa, familiar. Tudo, de uma vez só. Como um rascunho que você deixou pela metade. O único jeito de consertar é amassar a folha e começar de novo. Respira. Pensa. Acende o cigarro. E o peso que eu carrego desse mundo, que eu carrego por mim, por você. Ninguém vê? As rezas de todo dia, a proteção que eu peço, os agradecimentos que eu faço, a força que eu preciso para não desabar no meio da rua. Tudo isso, não parece ter muito sentido. Paro e observo. O mundo lá fora, fora de mim é todo diferente. As pessoas tem um senso de não-vida. Eu acho. Todas elas parecem seguir um roteiro de filme, lentamente caminhando ao sol, fazendo seus exercícios, dirigindo atrasados. Mas o que sinto disso tudo, é um grande vazio. Uma ocupação de tempo e de mente, enquanto tudo acontece sem ser realmente percebido ou sequer visto. Talvez eu devesse tentar. Todo dia, quando eu levanto da minha cama, eu não peço um novo amor. Não peço pra esquecer você, nem pra fazer sol. Me quero de volta. Devolve, moço. Preciso de mim. Entendo agora que quando não me tenho, todos os outros vão embora. E não é possível ficar sozinha se nem eu estou por perto. É além de sozinha. Essa sensação funda, fria. Tenho medo e não consigo parar. Senti hoje tanta vontade de chorar. É. De manhã, de tarde e de noite. Mas não consigo. Nem mesmo agora de madrugada. Vou esperar as lágrimas. Me forçar talvez a colocar pra fora essa pressão do peito. Como eu faço? Me ensina? Nunca precisei de ajuda pra chorar. Nunca estive assim, sem mim. Sem cuidado. Eu me cuidava antes. Agora até ela foi embora. E eu, não sei mais até onde consigo ir, perdida nessa calçada olhando pro mar, achando que é mais confortável o mar escuro do que qualquer outro lugar. Ou abraço.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Partido

Fantasias completam o realismo de todo dia. Como poder transformar o desejado em fato consumado sem o toque das mãos. Como tragar o cigarro sem expelir a fumaça. Sobreviver diariamente com suposições desconhecidas. Um poço de sentimentos embrulhados e brilhantes que insistimos em carregar como uma bagagem sem destino. Talvez. Querer o seu beijo de novo, buscar um outro que seja novo. Se estragar sabendo do fim e querendo o agora.

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Ela sou Eu.


"Lá está ela, mais uma vez. Não sei, não vou saber, não dá pra entender como ela não se cansa disso. Sabe que tudo acontece como um jogo, se é de azar ou de sorte, não dá pra prever. Ou melhor, até se pode prever, mas ela dispensa.
Acredito que essa moça, no fundo gosta dessas coisas. De se apaixonar, de se jogar num rio onde ela não sabe se consegue nadar. Ela não desiste e leva bóias. E se ela se afogar, se recupera.
Estranho e que ela já apanhou demais da vida. Essa moça tem relacionamentos estranhos, acho que ela está condicionada a ser uma pessoa substituta. E quem não é?
A gente sempre acha que é especial na vida de alguém, mas o que te garante que você não está somente servindo pra tapar buracos, servindo de curativo pras feridas antigas?
A moça…ela muito amou, ama, amará, e muito se machuca também. Porque amar também é isso, não? Dar o seu melhor pra curar outra pessoa de todos os golpes, até que ela fique bem e te deixe pra trás, fraco e sangrando. Daí você espera por alguém que venha te curar.
As vezes esse alguém aparece, outras vezes, não. E pra ela? Por quem ela espera?
E assim, aos poucos, ela se esquece dos socos, pontapés, golpes baixos que a vida lhe deu, lhe dará. A moça [..] levanta e segue em frente. Não por ser forte, e sim pelo contrário…por saber que é fraca o bastante para não conseguir ter ódio no seu coração, na sua alma, na sua essência. E ama, sabendo que vai chorar muitas vezes ainda. Afinal, foi chorando que ela, você e todos os outros, vieram ao mundo."

sábado, 27 de novembro de 2010

Free


Outro dia, aconteceu assim. Uma menina, de pele clara e grandes olhos verdes me perguntou o que queria dizer a tinta da minha pele. Então eu respondi a ela:
-Isso é "liberdade" em latim.
Uma tatuagem que eu tinha feito nos meus 18 anos. Ela riu baixinho, olhou pra mim atenta e disse: -De que tanto você foge? Medo eu sei que não é. Sabes exatamente o que fazer. Afinal, isso é parte de você. Não esquece do que você escreveu aí, ela é sua.
E desde então eu não parei de pensar naquela menina. No que ela havia dito. Eu buscava de novo a minha liberdade. Mas agora, aquilo tinha uma amplitude que eu não conhecia. Me assustava. Mas eu segui repetindo o que a menina falou pra mim. E todos os dias, quando acordo, o que me mantém é essa certeza. Eu sei pra onde vou, e ela vem comigo. Ela. A liberdade. Minha.

Lost at sea

Meu mundo agora era composto de retalhos. Pequenas lembranças de mãos dadas se mantinham unidas formando um passado lustroso cheio de sorrisos e cores. É assim comigo, meu baú reserva apenas os bons. Deixo lágrimas e dores para os boêmios chorarem por mim. Busco em cada esquina mundana a coragem de erguer os braços e encher o peito, olhando pra frente, com ar de satisfação. Descobri por meio da vida que vezenquando fica difícil continuar. A gente sofre, passa por poucas e boas. É o coração, a família, a profissão. Quantos assuntos que formaram meu passado ilustrado e hoje são os motivos da minha tristeza. Dá uma saudade daqueles tempos.. Onde era tudo feito do perfeito encaixe, corria com o tempo na certeza do concreto. Hoje, dei de cara com a independência. Afinal, ela não é tão doce quanto imaginada. Ela requer força, integração, estabilidade. Tudo que me faltava! É o limbo das incertezas.

domingo, 21 de novembro de 2010

Sobre a força da saudade


-Às vezes sinto falta de mim.
-Eu também, menina.
-Sente falta de si?
-Não, de você. E dói.
[Silêncio]
-Me abraça?
-Sempre.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Sobre o desejo da vontade


Os dias se precipitavam. O sol acordava antes que eu dormisse trazendo toda necessidade de despertar que eu desprezava toda noite. Uso a primeira pessoa aqui como desabafo egoísta por sentir uma suficiência estranha no pronome "eu" pelos últimos dias. Era curioso como isso acontecia e eu não conseguia me reconhecer na maior parte do tempo. Uma saturação familiar daqueles velhos problemas e preocupações que eu torcia pelo esquecimento mas insistiam em vingar. Quando tudo escurecia eu costumava me encontrar. Agora na noite, eu procuro esconderijo como uma criança debaixo das cobertas tentando achar um porto seguro sem retaliações. O que acontecia comigo sempre naquela roda gigante que fica chata depois de um tempo, com aquela velocidade entediante sem trazer nenhuma gota de adrenalina. Eu dormia desejando tantas coisas e acordava submersa em devaneios de noites mal dormidas e esfumaçadas. Ainda tinha você, ás vezes me esquecia. O tanto de vontade que tinha de você era o que perdia com nossos pré-confrontos já estagnados antes de um começo oficial. Recebia uns conselhos de bar, escutando a liberdade e a falta de paciência que sempre me dominou. Vim escrever aqui depois de tanta ausência. Ausência perdida em mim. Que antes era fuga, antes era achado. Agora parece que tanto faz. A garganta arranha e reclama dos cigarros que me consomem. E nada disso no fundo tem importância. Me surpreendo com tantas exclamações que dão continuidade à reticências. São frases interminadas que vão se agrupando aqui dentro. Tanta fome, tanta sede. Enfim não consumo nada. Sigo remando contra a correnteza e isso basta. Hoje o outro lado da cama tá vazio. E é engraçado pensar que não era o que eu queria. Mas que também, ele tá assim porque eu deixei estar. Aqueles paradoxos que assustam. Que revelam a nossa evolução, mudança ou simples estado momentâneo. Fico me afogando em músicas, cigarros, café, no cliché das escritas bonitas e dos sentimentos feridos que nem mesmo existem. As vezes viver e ser você pode ser cansativo.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Ao contrário

Liguei o rádio em busca de uma música calma e acendi o cigarro, aquele que ontem te fez reclamar. Com as cinzas caindo no papel, tentei me desfazer da indignação que brotou nessa noite, pela falta de compreensão. Inacreditavelmente, sou fácil assim. Ando desgovernada dizendo que sou dona de mim, quando na verdade é só isso que me falta ser. Em poucas horas eu consegui me perder em um labirinto escuro. Medo do escuro. Você me disse isso, é uma das poucas coisas que sei de você. Pouco tempo, pouca coisa. Explica então, como toda essa falta de coisas pode ter esse tamanho enorme? Eu busco ter calma, ser leve. Sempre tropeço em mim mesma, atropelo tudo e falo demais. Parei de me questionar tanto. Ajuda, aprendi que nem tudo precisa de uma explicação, e tenho vivido bem com isso. O céu as vezes sorri pra mim de graça, e eu dou um sorriso torto de volta. Nesse vôo noturno eu experimentei a insegurança com um gosto doce. E quis estar ali até o amanhecer. Limbo estranho mas conhecido. A minha indignação era comigo, como você podia saber?
Que grande confusão os novos dias de liberdade me trouxe.
É forte, puxa.
E mais uma vez eu não consigo ficar parada.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Fields


- Será possível plantar morangos aqui? Ou se não aqui, procurar algum lugar em outro lugar? Frescos morangos vivos vermelhos.
Achava que sim.
Que sim.
Sim.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

She's losing it


E daí que a gente tinha se separado. Você escolheu ir pro outro lado. Enquanto eu observava você ir embora, senti desespero em pensar que o que eu perdia naquele momento era muito maior do que havia perdido antes. Não adiantava explicar porque, você não ia entender. Eu passei meses tentando convencer você disso, e ainda não tenho certeza de que consegui.
Cada passo que você dava, foi conforme o passar dos dias, um automático ligado em alta velocidade, onde a semana seguinte acabou antes de começar, e eu nem sei por onde ela fugiu. Me escapou como você, assim, de uma hora pra outra. Eu confesso meu despreparo pra ficar sozinha. A solidão nem sempre é bem vinda, e a expressão "sem chão" teve todo sentido do mundo quando você bateu a porta do carro.
A gente não desistiu. Não, nós somos fortes, nós temos uma à outra. E não precisamos de mais nada além disso.
Mas você vê, é que eu sou assim. Eu sinto a flor da pele todas essas coisas bonitas que tento colocar em palavras, textos dramáticos, lágrimas perdidas, vontades caladas. Mas eu não posso me entregar à esses sentimentos fortes e pesados como me entreguei à você. Porque se eu fizer isso e não vou conseguir. E eu não quero, não espero, não preciso dessa derrota baseada em coisas lindas e perfeitas que tive com você. Lembra? A gente combinou um monte de coisas, teve sonhos realizados, coisa nossa. E na minha cabeça, isso nunca ia morrer. O laço, aquela corrente invisível que me liga a você até hoje, você sente ela? É, presa na cintura, quase inquebrável. E eu pedi muito pra ela ser tão imortal quanto os deuses, tão forte quanto Zeus e tão bela quanto Vênus. Ela foi tudo isso pra mim. Mas amor, eu não posso. A minha natureza romântica que tantas vezes te vez rir e chorar um pouquinho com cartas enfeitadas, ela não me deixa cair assim. Nunca deixou.
E aí, eu acabo indo embora aos poucos. Eu vejo teu sofrimento como um espelho do meu, por mais tempo que demore. Eu já disse, pudera eu pegar tua angústia e embrulhá-la, jogar bem longe, e proteger você de toda essa dor que você tá conhecendo agora, e que dói. Como dói.
Sabe teu cheiro de alecrim? Junto com hortelã, eu sinto ele todo dia de manhã. E a primeira coisa que quero fazer é ouvir tua voz me dando bom dia. Mas é como você disse, entende, amor, satisfação agora não é obrigação. Não é dever. E esse desapego que veio pra ficar, arranca de mim um pouco de dor, de angústia, de calafrios.
Digo, não sinto da mesma forma. E acho que nem você.
Sentir o que?
Ah,
você.

Oh, no


Era uma vez. É, começa assim porque quer dizer que já aconteceu, ficou pra trás. Um dia existiu uma coisa linda, um sentimento forte e que hoje não é mais assim.
Então,
era uma vez.

sábado, 2 de outubro de 2010

Sobre aceitação


Um dia te fiz prometer a eterna permanência. Tentei arrancar de você certezas que nem mesmo eu tinha. Fui cruel sem perceber e tentei aprisionar um pouco tua liberdade, que tão singular, as vezes roubava meu espaço. Quis ter sob meu controle os meus sentimentos e os seus também. Alinhavar em mim o teu pulso, a tua frequência. Como me doía as vezes que você ia embora sem declarações. Eu precisei tanto da tua palavra, da tua vontade estampada, do teu desejo. Costumo conseguir tudo e quebrar limites e padrões. Eu consegui com você, e fiz nascer um desconhecido afetado, que foi mais forte do que a gente.
Escrevo sobre nós, pelos tantos pensamentos que me cercam dia e noite. Essa inconstância amorosa, presença sedentária, sentimento incubado. Mas escrevo mais para você. Para te dar certeza do que já foi dito. Amor, acabou. Eu mais do que você me entrego à nostalgia pensante dos bons momentos e gargalhadas que tivemos, dos vinhos da serra, das músicas escritas por nós debaixo daquele céu estrelado que sempre nos acompanhou. Aquele sonho de criança, a gente fez verdade. Então, amor, quando a dor falar alto, e o aperto bater, pensa no melhor de nós. Esquece a frieza, o medo e a insegurança do vácuo que dá quando a gente olha pro lado, e percebe que está só. Eu hoje sou sua melhor amiga, e não abro mão desse meu lugar em você. O sentimento não sumiu, evoluiu. E com ele, a gente ainda vai aprender muita coisa. Se eu pudesse, protegeria você de todo sofrimento intrínseco, roubava tua dor e sentia tudo sozinha.
Eu vou embora, mas não de você. Vou daquele nó que criamos, fantasiamos, e não deu certo. Quando digo que me lembro de tudo, todos os dias, não minto. Você ultrapassou expectativas, e sabes muito bem, que chegou a lugares em mim que ninguém conhecia. Te deixei entrar aos poucos, mas a porta sempre esteve escancarada. Falo pra ti, pra que tenha certeza, de que nada vai me tirar de você. Eu fui sua, e continuo sendo. E se na despedida eu choro, é porque a dor é muito forte. Mas nós, somos mais.

Eu te quero bem. Amor.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Hora de Voltar

Hoje o dia estava com a minha cara. Aquelas nuvens carregadas desfilavam no céu, e o vento carregava o que ficasse no meio do caminho. Tive que insistir pra sair da cama, porque a vontade era de ficar lá, jogada, perdida. Mas existe um compromisso chato com o trabalho, e se a gente não dá as caras eles logo reclamam. São até piores do que você, quando demoro pra responder uma mensagem. Não toleram abandono.
Então eu fui, naquele automático enganado, cheio de vontade mas sem força pra dar mais um passo. Isso tudo cansa. Dá vontade de fugir, correr, deixar pra trás. Qualquer coisa que seja obrigatória, esquece.
Fazer da vida um filme com uma incrível trilha sonora. E só viver, pular as cenas desagradáveis, não deixar sentimentos pesados tomarem conta do roteiro, porque você busca um final feliz.
Ficar assim, nesse balanço, cheio de vai e vem, que gera um frio na barriga as vezes bom, as vezes pelo medo da altura. Sabe? Isso não é vida. Nem aqueles dramas chatos que a gente via no cinema são assim. Tudo tem um caminho, um trecho, uma fala. Uma direção, entende?
E eu que adoro um labirinto, me perdi em vários pelos anos. Agora chegou aquele dia que tem que ser você no espelho. Só com a sua imagem, e mais ninguém. Porque a estrada tá aí, olha pra frente. Você vê?

E não, não dá mais tempo de voltar.

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Sobre o que queima com o tempo. Você.


Nas últimas semanas muitas coisas conseguiram me transportar. Não havia um lugar específico onde eu pudesse me encontrar. Pensamentos traziam devaneios. A vontade de exteriorizar tudo era enorme, mas os métodos para fazer isso pareciam restritos. O limite apesar de invisível era bem percebido. Faltavam objetos que fossem descritos de forma concreta. Era só o nada resultando de coisa nenhuma.
Eu, que sempre soube achar uma razão forte, estava mesmo perdida. Aceitar tudo e nunca questionar era tão mais fácil, simplesmente. Os versos que agradavam já eram inventados e precisava de algo brilhante e essencial para descrever a covardia sentimental que me confundia.
Sem muito mistério, foi fácil encher uma página com o esboço preto da cor dos sonhos que eu não conseguia realmente enxergar.
Tudo parecia entreaberto, faltava a certeza, restava a saudade. Quando eu me deixava levar pelo domínio do inconsciente, ás vezes era tranqüila a morte da realidade. O que eu presenciava era a dúvida repleta de metáforas complexas e antíteses inexplicáveis.
Tudo era medo. A mudança. Ninguém fica a vontade quando não sabe o que pode acontecer. Geralmente porque as chances de dor e sofrimento aumentam consideravelmente com o desconhecido.
Agora é um momento adjacente ao passado e ao futuro. E todos conseguem ser tão inexistentes quanto a vida de uma estrela que vemos brilhando.
Como o tempo sabe nos enganar. Você sente, sabe, acha. No final, não era nada do que era.
Ah, mas espera! Eu tinha de certo algo na cabeça quando comecei a escrever isso... Afinal, são tantas palavras.
Elas não deveriam ter algum sentido?

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Sobre um eterno e breve amor

Dessa vez as coisas terminaram sem ter um fim. Foi estranho pra mim, me acostumar com tudo. Confesso mais uma vez, que foste a primeira a me fazer passar por isso, como por tantas outras coisas. Foi uma conversa, uma discussão, um desabafo. Assumir a culpa do que não podia mais dar certo. Nem pra mim, nem pra você. Foi natural, me atrevo a dizer. Tantos medos eu tive, tantas vezes me mantive calada, querendo evitar todo esse desconforto do “break up”. Mas foi inevitável. Sabe? É o curso do rio, mesmo que ele não queira, sempre tem uma queda no meio do caminho.

Não teve dor. Mágoa. Tristeza. Essas coisas grosseiras que preenchem o momento do adeus, cheio de rancor no peito por perder aquilo que mesmo não querendo, a gente ainda quer que seja nosso, somehow.

Aí você bateu a porta do carro, foi embora chorando. Eu me dei conta de que aquilo era o melhor, como você sempre dizia, pra mim e pra você. E que no final tudo ia sim ficar bem. E vai. Eu liguei ontem pra você, pra dar boa noite. Foram 30 minutos de sinceridade, sentimento, confissões. Eu não queria deixar você ir. Eu amo você, e você sabe como o amor pode ser traiçoeiro. A gente esteve em tantos labirintos juntas, passou por tanta coisa nessa vida cheia de músicas que me lembram você. Falando assim, até parece que foi fácil. Vejo, como se fosse um curativo. A gente nunca quer mexer, porque dói, incomoda. E a melhor forma de se livrar dele, é arrancar bem rápido, em um segundo. Doeu? Um pouco. Mas a gente quase não sentiu a separação.

Você vê? É que de repente ficou tão claro que tinha que ser assim. Tão claro quanto era de que eu tinha que ser sua. Eu sou. Sempre vou ser. Aquela coisa toda de fechar ciclos pra abrir um novo, eu sei. Você me explicou e eu concordo. Mas eu to aqui, contigo. A vontade de ter você perto, te ver sorrindo e ser a causa e o efeito da sua felicidade relativa, das suas crises temporárias, do seu mau humor, do teu medo e tua insegurança. Eu sou tudo isso. Você também é. Lembra que eu dizia, o que me agrada em nós duas, é que a gente é. E even though Love is not enough, você sempre vai ser enough pra mim. E a gente vai continuar sendo. Eu não terminei de te querer. Te quero pra sempre. Essa jura de amor eterno você tem. Essa força que você ganhou em 8 meses de convivência diária, acordando e dormindo do teu lado. A paciência que você me deu, e a novidade que eu trouxe pra você. Disseram que a gente se encontrava em um ponto, onde eu encontrava a calma e a paz em você, e você encontrava em mim a vontade de viver, alegria. É, foi bem assim mesmo. E foi além disso. Então, meu amor, essa carta não é de despedida, nem de adeus. É um até logo breve. Te vejo em alguns minutos de novo, e a nossa rotina vai cuidar da gente. Se algum dia você perguntar se eu sinto sua falta, você vai saber a resposta. Você já sabe.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Correnteza

"...Tudo isso dói.
Mas eu sei que passa, que se está sendo assim é porque deve ser assim, e virá outro ciclo, depois.
Para me dar força, escrevi no espelho do meu quarto:¨Tá certo que o sonho acabou, mas também não precisa virar pesadelo, não é?¨È o que estou tentando vivenciar.
Certo, muitas ilusões dançaram - mas eu me recuso a descrer absolutamente de tudo, eu faço força para manter algumas esperanças acesas, como velas. Também não quero dramatizar e fazer dos problemas reais monstros insolúveis,becos-sem-saída.
Nada é muito terrível. Só viver,não é?
A barra mesmo é ter que estar vivo e ter que desdobrar, batalhar um jeito qualquer de ficar numa boa. O meu tem sido olhar pra dentro, devagar, ter muito cuidado com cada palavra, com cada movimento, com cada coisa que me ligue ao de fora. Até que os dois ritmos naturalmente se encaixem outra vez e passem a fluir.
Porque não estou fluindo."

Doce que queima

"Quem poderia compreender, por exemplo, que logo ao despertar (e isso pode acontecer em qualquer horário, já que o dia e a noite deles acontecem para dentro) sempre batem a cauda três vezes, como se estivessem furiosos, soltando fogo pelas ventas e carbonizando qualquer coisa próxima num raio de mais de cinco metros? Hoje, pondero: talvez seja a sua maneira desajeitada de dizer: que seja doce."

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Um querer informal

Me deparei com o papel. Um branco ofuscante, me deixava cego. A luz refletia e levava embora tudo que antes pipocava em minha cabeça. Todas aquelas vontades passageiras, que muitas vezes não eram tão passageiras assim. Desperdiçava pouco tempo com elas, porque não podia levá-las adiante. Até podia. Eu era dessas pessoas, que acreditava que vontade era tudo, sabe? Se você quer, você pode. Você é assim também?
E nessa de querer o mundo, em perdições e sonhos, eu cheguei aqui. Encontrei a maior delas todas, que de forma diferente me bateu, me esfolou, e com sua delicadeza me trouxe no colo. Eu passava pela sua rua todo dia, de manhã de tarde, de noite. Fosse pra te ver, ou só pra te querer mesmo. Queria muito.
As pessoas vinham sempre na contra mão, esbarrando em mim e nos conceitos em que eu acreditava, onde tinha a boca cheia do teu nome, que esse eu não esquecia.
Era repetitivo, um labirinto. Uma auto sabotagem das boas. Eu contra eu mesmo, contra você depois. Era gente demais.
Uma vez alguém me trouxe uma rosa, e disse que ela seria pra sempre da cor dos meus lábios. Hoje, a rosa não existe mais, e o vermelho que um dia me deu vida, hoje me traz um coração ensanguentado.
Ah, coração. Não percebes que não importam as palavras, não importa o tempo nem os outros. O que importa é a vontade.
E isso pra mim, não falta.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Chaos of Trouble


Aparentemente o intacto era vulnerável. O líquido cortava a garganta rouca e os lábios rachados de frio aprendiam a pronunciar qualquer coisa que fosse de encontro com a novidade. A transparência era dominante, e dentro, tanta coisa escondida. É que o limite se encontrou branco, chegou a hora de ser a contradição. Parar de gritar, silenciar o tornado que passou e organizar tudo de novo. Mais um ano da vida inteira nivelado à emoções doloridas. Como um tumor, cresceu alimentado pela confusão e pela dúvida, o medo do ponto fraco.

Tudo ao mesmo tempo. Tudo tão rápido. As noites pareceram intermináveis por tantos dias, mas agora não. Busca o controle, que sempre foi o foco. Mas não os outros, deixa de ser assim, dominante por completo. O mundo corre contra ou com você, é uma questão de escolha. Então olha o espelho, mas olha direito. Vê o que ficou embassado. Sem mantras ou redenção, encara a realidade com seu olho da frente. Se abre, encontra a busca motivada por tudo que já foi. E muda. Muda com o mundo, porque quando a gente muda, o mundo muda com a gente.

sábado, 11 de setembro de 2010

Sobre Projeções e Controle


"...Sabe, eu me perguntava até que ponto você era aquilo que eu via em você ou apenas aquilo que eu queria ver em você, eu queria saber até que ponto você não era apenas uma projeção daquilo que eu sentia, e se era assim, até quando eu conseguiria ver em você todas essas coisas que me fascinavam e que no fundo, sempre no fundo, talvez nem fossem suas, mas minhas, e pensava que amar era só conseguir ver, e desamar era não mais conseguir ver, entende? Dolorido-colorido, estou repetindo devagar para que você possa compreender..."

domingo, 5 de setembro de 2010

Veja só


Hoje eu acordei com você. Abri os olhos e ouvi tua voz, baixinha, me dizendo que era hora de despertar. Consequência disso, veio o sorriso, que belo dia pra se apaixonar. Me conquista todos os dias, em momentos despreparados, quando vejo teu reflexo eu desequilibro. Acontece dia e noite e as vezes eu perco a fala. Fico sem saber por em palavras o que tanto passa pela minha cabeça complexa e agora diagnosticada. O medo de ir longe demais, de errar na pontuação e fazer da declaração um motivo pra você ir embora. Isso não sinto mais, confesso. Você me deu confiança e me mostrou que por mais desajeitada que fosse, estaria comigo. Me amando menos, me amando mais. A gente vivia junto, isso que importa. Fica comigo, eu dizia pra você. Terminava o dia desejando boa noite, desejando você, com sede do beijo que me alimentava. Por muito tempo não soube explicar, meu jeito te deixou apressada e o frio me engasgou. Eu ia contra a minha vontade e você me afogava no silêncio. Sabe, eu queria te dizer que não ligo. Eu volto pra casa, te deixo oxigênio limpo. Porque isso não me tira de você. Amor é assim, vento bate e muda tudo. Mas é amor. Ainda. Hoje eu vou dormir sem você. Mas amanhã,
amanhã é outro dia.

E você, você é o amor.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Trilhos


Embora vivesse na mesma cidade por anos, ainda não havia conhecido todo canto dela. Em um domingo de tédio, o sol nasceu forte e ela se levantou cedo, pela insistência do relógio.
Troca de roupa, pega a câmera, bateria fraca, chocolate aberto e tranca a porta. Coisa rápida, sem precisar pensar muito. Isso, chegou a conclusão, é o que faz dos dias imprevisíveis e belos. A falta do plano, o esquecimento da preocupação.
Subiu pelos trilhos desconhecidos. Ia ao encontro de pessoas, amigos, personagens, paisagens. O dia passou voando, foi embora sem ao menos se despedir.
Dia não pensado, realizado. Dia novo.
Ao voltar pra casa, cansaço e felicidade. Agora só se permitia pensar em algo pouco, apertado.
Quero dias de insônia cobertos por manhãs claras assim,
domingos entediantes recheados de momentos brilhantes,
e uma vida sem rota certa,
dessa forma eu chego bem, lá no fim.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Faz um bom tempo que a vontade de escrever e de poetizar se resume a você

Eram músicas perdidas, textos copiados, esmaltes novos. O lençol da cama nunca se endireitava, não dava tempo. A gente naquela correria da vida, com pressa de fazer tudo antes do final de semana. Os cafés que tomaram nossas tardes, os filmes que você trouxe, o medo que você levou embora e a novidade que eu te dei.
Trazia todo dia a vontade de você. Dormi mal ontem, tive um sonho, depois te conto.
É, era com você. Sempre é,

Sabe, aquele trigo que você tem, aquela cor diferente que mudou aos poucos, me encanta quando fica meio preso, com aquele brilhante no cabelo. A mancha do seu olho tá gravada e o gosto da tua boca também.
Romance chato, faz falar. É que eu não canso, é que é bom demais acordar pra dar bom dia pra você. Tantos textos eu escrevo pra você. As vezes coisa boba, as vezes conversas, as vezes saudade.

Se você não vem as cores se recusam a sair.
Vem que eu te cuido. Se o sol sair hoje, te prometo tudo.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Sem querer

" E assim, aos poucos, ela se esquece dos socos, pontapés, golpes baixos que a vida lhe deu, lhe dará. A moça - que não era Capitu, mas também tem olhos de ressaca - levanta e segue em frente. Não por ser forte, e sim pelo contrário...por saber que é fraca o bastante para não conseguir ter ódio no seu coração, na sua alma, na sua essência.
E ama, sabendo que vai chorar muitas vezes ainda. Afinal, foi chorando que ela, você e todos os outros, vieram ao mundo.
Ela é mais que um sorriso tímido de canto de boca, dos que você sabe que ela soube o que você quis dizer. Ela fala com o coração e sabe que o amor, não é qualquer um que consegue ter. Ela é a sensibilidade de alguém que não entende o que veio fazer nessa vida, mas vive..."

domingo, 22 de agosto de 2010

Evidência

Toda noite terminava assim. Eram músicas, fotografias antigas, saudades. A transparência nítida de um tempo que foi embora pra não mais voltar. Aquelas lembranças que traziam força pra continuar na vida estranha, na adequação precisa da vontade de ser sempre mais. A gente não sabe do amanhã e talvez eu não queira mesmo saber. Acordo acreditando na diferença, esperando a mudança, sinto frio e respiro o vento. Questões demais atrapalham o andar das coisas e as respostas quase sempre incertas tremem no vazio do peito. Fica em inércia o desejo da noite, perdido na coberta quente e imparcial. Ausência é sempre a fuga que não traz solução pro medo.

Meu bem, fica bem


"Mergulho no cheiro que não defino, você me embala dentro dos seus braços e você me beija e você me aperta e você me aquieta repetindo que está tudo bem, tudo, tudo bem..."

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Interrogação Descartável


"Descobririas que as coisas e as pessoas só o são em totalidade quando não existem perguntas, ou quando as perguntas não são feitas. Que a maneira mais absoluta de aceitar alguém ou alguma coisa seria justamente não falar, não perguntar - mas ver. Em silêncio. (...) O que faz nascer as perguntas não é uma necessidade de conhecimento, mas de ser conhecido."

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Sexto Sentido


Quando ela chegou em casa, não acendeu a luz. Seguiu as sombras e jogou as chaves na mesa. Entrando no quarto tirou a roupa pesada que vestia desde as sete da manhã. Já era tarde e a vizinhança toda era silêncio. Lembrou de coisas que precisava fazer no dia seguinte enquanto arrumava a cama pra deitar. Passavam coisas pela sua cabeça que eram estranhas, reflexos do destino controverso que persistia em ser. Então começou,

-É que eu sinto tanta saudade. Se as pessoas soubessem como você me dói de vez em quando. Se você soubesse. Essa insegurança diária atormenta até os sonhos. Eu quero tanto ir embora. Quero poder mudar, e se você estivesse aqui tudo seria diferente. Um dia ouvi que o "se" não existe, que quando pensamos em hipóteses na verdade deveríamos pensar no que poderíamos ter feito de diferente, mas com a mesma motivação. Mas sabe, é confuso. Lá fora é tudo tão grande, tão assustador. Mas se você estivesse aqui...

Foi quando ela parou pra respirar, e ouviu a porta bater.

Sentiu um arrepio, e depois lembrou, eu tranquei sim, a porta.

Com pouca coragem foi à sala de novo. Escuro. Em cima da mesa, ao lado das chaves, um papel amassado.

'Nunca fui embora. Não vá você também.'

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Pensado Cansaço



"Em luta, meu ser se parte em dois. Um que foge, outro que aceita. O que aceita diz: não. Eu não quero pensar no que virá: quero pensar no que é. Agora. No que está sendo. Pensar no que ainda não veio é fugir, buscar apoio em coisas externas a mim, de cuja consistência não posso duvidar porque não a conheço. Pensar no que está sendo, ou antes, não, não pensar, mas enfrentar e penetrar no que está sendo é coragem. Pensar é ainda fuga: aprender subjetivamente a realidade de maneira a não assustar. Entrar nela significa viver."

Caio.

Ever after


segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Extremo de Lucidez

Não, você não sabe. É que eu me escondo de vez em quando, saio por aí sem destino certo, ando só pra fazer o tempo passar e penso com medo de enlouquecer. Muito aconteceu dentro do período curto que se prolongou. Dias intermináveis culminavam em pesadelos que eram reais demais para se esperar a brisa do sol e abrir os olhos, respirando fundo e sentindo o alívio de tudo ter chegado ao fim. Mas o tempo não rouba de você só os momentos de felicidade com sua maneira expressa de fugir do ponteiro. Por mais demorado que pareça, ele leva com ele também as tempestades e tormentas que te destroem aos poucos. E assim, ele levou. Aquela nuvem carregada que me surpreendeu por tantas semanas, aquele medo que trouxe insegurança e me tirou de mim, aquela ventania fria que me deixou arrepiada e sem saber pra onde ir. Agora, a música me traz leveza, e nada mais parece impossível. A montanha ficou baixa, os degraus diminuíram e o peso desapareceu. Fácil não é. Nunca será. Mas agora, o teu tamanho não me assusta mais. O sol vai acordar de manhã e com ele eu vou levantar e começar de novo. Fazendo tudo diferente de novo. Sentindo isso que me equilibra, que não tem nome, mas que me faz bem. É preciso chegar ao centro, sem partir-se em mil fragmentos pelo caminho. Completo, total. Sem deixar pedaço algum para trás. Porque
desistir não é nobre. E arduamente, não desistimos. É só saber voar.

domingo, 15 de agosto de 2010

Uma Constante


"E recomeçar é doloroso. Faz-se necessário investigar novas verdades, adequar novos valores e conceitos. Não cabe reconstruir duas vezes a mesma vida numa só existência. É por isso que me esquivo e deslizo por entre as chamas do pequeno fogo, porque elas queimam - e queimar também destrói.
Só quero ir indo junto com as coisas, ir sendo junto com elas, ao mesmo tempo, até um lugar que não sei onde fica, e que você até pode chamar de morte, mas eu chamo apenas de porto."

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Menina Bonita Bordada de Flor

Era óbvio que isso não era a única lembrança. As flores, eu digo. Na verdade, eram incontáveis as coisas e imagens que traziam ela pra mim. Porém, as flores eram as mais intensas. Quando você consegue transformar visão em memória e concretizar lá dentro o sentimento forte que insiste em te dominar. Como explicar, talvez não saiba direito. Leve, sutil, delicada, suave. Cheia de aroma, aquele perfume exclusivo de pele que tem o poder de te perder nos segundos do tempo. Eu disse segundos.
Que romance bobo, quanto cliché. É, coisa de amor. Quem sabe, sabe bem. E o que eu não sabia, ela me ensinou aos poucos, com as pétalas claras, o toque intenso, e o abraço cheio de vontade. Não quero pensar em explicar, dizer porque ou como. Quero ela. Essa flor do campo que criou raízes fortes, e que eu não quero que vá embora. O que eu quero é a primavera.

domingo, 8 de agosto de 2010

Dream Summer Day


Faz tempo que não apareço. É que eu peguei um avião e vim pra longe de casa, onde as luzes cegam a gente. Onde os meus sonhos todos parecem reais, e por mais que alguns problemas tentem se manter presentes, o vento os desprende da raiz, e eu fico leve. São momentos que vem, que vão, que ficam e outros que mudam.
Então eu vim aqui dizer que tenho saudade. Que mais uma vez eu me reinventei, eu sonhei, e trago de volta coisas diferentes. Termino de contar os pensamentos depois, agora tenho que ir. Aos leitores, e não só a eles, fica a falta. Mas não por muito mais tempo, penduro uma placa de 'be right back' and see you soon.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Ponto G

Não espero que entenda. Não espero nada, na verdade. Talvez, meia aceitação. De você eu aprendi a lealdade, a forma da palavra confiança. O tempo brincou com você, e o destino te fez perder a noção. Aquilo, que eu aprendi com você, te deixou pra trás. Te deixou e você nem percebeu. Não venha falar de confiança comigo. Não vê o que passou? Não vê quanta coisa aconteceu? Você tá certo, não tem obrigação de aguentar calado. Mas se lembra, que eu também não. Eu que sou criança, eu que sou pequena. Eu sei melhor o meu caminho do que você o seu. Eu tive nojo e raiva de você como eu não sabia que era capaz de ter. Você conseguiu despertar o leão do seu signo aqui dentro, e ele quis avançar em você. Fazer de tudo, pedaços. O direito que você sempre teve de fazer o que fosse comigo, sumiu. Eu não levo mais você tão a sério, e menos ainda sofro com suas ameaças baratas. Quando quiser gritar, eu grito também. Entendo seu medo e seu desespero como ninguém, mesmo sabendo que você não entende o meu. Recupera o amigo que me deu vida, que me fez feliz, que me protegeu do mal. Apaga a última noite, escorre as tuas palavras sujas e lava o rosto. Veste esse paletó molhado e não joga ele pra cá, porque eu não deixo mais. Eu volto pra casa a hora que eu quero, com quem eu quero. E dessa vez, não quero voltar com você. E se você não quiser eu não chamo mais a sua casa de minha casa, mas ela deixou de ser sua antes de deixar de ser minha. E por mais que você queira, ela nunca foi sua mesmo. Só não quero que você me perca, como perdeu a noção das coisas. Porque mesmo depois de tudo, eu só consigo falar uma coisa,
-Pai?

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Wicked


So if you care to find me
Look to the western sky
As someone told me lately:
"Ev'ryone deserves the chance to fly!"
And if I'm flying solo
At least I'm flying free
To those who'd ground me
Take a message back from me
Tell them how I am
Defying gravity
I'm flying high
Defying gravity .

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Vai Passar


"Vai passar, tu sabes que vai passar. Talvez não amanhã, mas dentro de uma semana, um mês ou dois, quem sabe? O verão está ai, haverá sol quase todos os dias, e sempre resta essa coisa chamada “impulso vital”. Pois esse impulso às vezes cruel, porque não permite que nenhuma dor insista por muito tempo, te empurrará quem sabe para o sol, para o mar, para uma nova estrada qualquer e, de repente, no meio de uma frase ou de um movimento te supreenderás pensando algo como “estou contente outra vez”. Ou simplesmente “continuo”, porque já não temos mais idade para, dramaticamente, usarmos palavras grandiloqüentes como “sempre” ou “nunca”. Ninguém sabe como, mas aos poucos fomos aprendendo sobre a continuidade da vida, das pessoas e das coisas. Já não tentamos o suicidio nem cometemos gestos tresloucados. Alguns, sim - nós, não. Contidamente, continuamos. E substituimos expressões fatais como “não resistirei” por outras mais mansas, como “sei que vai passar”. Esse o nosso jeito de continuar, o mais eficiente e também o mais cômodo, porque não implica em decisões, apenas em paciência. Claro que no começo não terás sono ou dormirás demais. Fumarás muito, também, e talvez até mesmo te permitas tomar alguns desses comprimidos para disfarçar a dor. Claro que no começo, pouco depois de acordar, olhando à tua volta a paisagem de todo dia, sentirás atravessada não sabes se na garganta ou no peito ou na mente - e não importa - essa coisa que chamarás com cuidado, de “uma ausência”. E haverá momentos em que esse osso duro se transformará numa espécie de coroa de arame farpado sobre tua cabeça, em garras, ratoeira e tenazes no teu coração. Atravessarás o dia fazendo coisas como tirar a poeira de livros antigos e velhos discos, como se não houvesse nada mais importante a fazer. E caminharás devagar pela casa, molhando as plantas e abrindo janelas para que sopre esse vento que deve levar embora memórias e cansaços. Contarás nos dedos os dias que faltam para que termine o ano, não são muitos, pensarás com alívio. E morbidamente talvez enumeres todas as vezes que a loucura, a morte, a fome, a doença, a violência e o desespero roçaram teus ombros e os de teus amigos. Serão tantas que desistirás de contar. Então fingirás - aplicadamente, fingirás acreditar que no próximo ano tudo será diferente, que as coisas sempre se renovam. Embora saibas que há perdas realmente irreparáveis e que um braço amputado jamais se reconstituirá sozinho. Achando graça, pensarás com inveja na largatixa, regenerando sua própria cauda cortada. Mas no espelho cru, os teus olhos já não acham graça. Tão longe ficou o tempo, esse, e pensarás, no tempo, naquele, e sentirás uma vontade absurda de tomar atitudes como voltar para a casa de teus avós ou teus pais ou tomar um trem para um lugar desconhecido ou telefonar para um número qualquer (e contar, contar, contar) ou escrever uma carta tão desesperada que alguém se compadeça de ti e corra a te socorrer com chás e bolos, ajeitando as cobertas à tua volta e limpando o suor frio de tua testa. Já não é tempo de desesperos. Refreias quase seguro as vontades impossíveis. Depois repetes, muitas vezes, como quem masca, ruminas uma frase escrita faz algum tempo. Qualquer coisa assim: - … mastiga a ameixa frouxa. Mastiga , mastiga, mastiga: inventa o gosto insípido na boca seca."

Caio.