segunda-feira, 19 de julho de 2010

Ponto G

Não espero que entenda. Não espero nada, na verdade. Talvez, meia aceitação. De você eu aprendi a lealdade, a forma da palavra confiança. O tempo brincou com você, e o destino te fez perder a noção. Aquilo, que eu aprendi com você, te deixou pra trás. Te deixou e você nem percebeu. Não venha falar de confiança comigo. Não vê o que passou? Não vê quanta coisa aconteceu? Você tá certo, não tem obrigação de aguentar calado. Mas se lembra, que eu também não. Eu que sou criança, eu que sou pequena. Eu sei melhor o meu caminho do que você o seu. Eu tive nojo e raiva de você como eu não sabia que era capaz de ter. Você conseguiu despertar o leão do seu signo aqui dentro, e ele quis avançar em você. Fazer de tudo, pedaços. O direito que você sempre teve de fazer o que fosse comigo, sumiu. Eu não levo mais você tão a sério, e menos ainda sofro com suas ameaças baratas. Quando quiser gritar, eu grito também. Entendo seu medo e seu desespero como ninguém, mesmo sabendo que você não entende o meu. Recupera o amigo que me deu vida, que me fez feliz, que me protegeu do mal. Apaga a última noite, escorre as tuas palavras sujas e lava o rosto. Veste esse paletó molhado e não joga ele pra cá, porque eu não deixo mais. Eu volto pra casa a hora que eu quero, com quem eu quero. E dessa vez, não quero voltar com você. E se você não quiser eu não chamo mais a sua casa de minha casa, mas ela deixou de ser sua antes de deixar de ser minha. E por mais que você queira, ela nunca foi sua mesmo. Só não quero que você me perca, como perdeu a noção das coisas. Porque mesmo depois de tudo, eu só consigo falar uma coisa,
-Pai?

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Wicked


So if you care to find me
Look to the western sky
As someone told me lately:
"Ev'ryone deserves the chance to fly!"
And if I'm flying solo
At least I'm flying free
To those who'd ground me
Take a message back from me
Tell them how I am
Defying gravity
I'm flying high
Defying gravity .

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Vai Passar


"Vai passar, tu sabes que vai passar. Talvez não amanhã, mas dentro de uma semana, um mês ou dois, quem sabe? O verão está ai, haverá sol quase todos os dias, e sempre resta essa coisa chamada “impulso vital”. Pois esse impulso às vezes cruel, porque não permite que nenhuma dor insista por muito tempo, te empurrará quem sabe para o sol, para o mar, para uma nova estrada qualquer e, de repente, no meio de uma frase ou de um movimento te supreenderás pensando algo como “estou contente outra vez”. Ou simplesmente “continuo”, porque já não temos mais idade para, dramaticamente, usarmos palavras grandiloqüentes como “sempre” ou “nunca”. Ninguém sabe como, mas aos poucos fomos aprendendo sobre a continuidade da vida, das pessoas e das coisas. Já não tentamos o suicidio nem cometemos gestos tresloucados. Alguns, sim - nós, não. Contidamente, continuamos. E substituimos expressões fatais como “não resistirei” por outras mais mansas, como “sei que vai passar”. Esse o nosso jeito de continuar, o mais eficiente e também o mais cômodo, porque não implica em decisões, apenas em paciência. Claro que no começo não terás sono ou dormirás demais. Fumarás muito, também, e talvez até mesmo te permitas tomar alguns desses comprimidos para disfarçar a dor. Claro que no começo, pouco depois de acordar, olhando à tua volta a paisagem de todo dia, sentirás atravessada não sabes se na garganta ou no peito ou na mente - e não importa - essa coisa que chamarás com cuidado, de “uma ausência”. E haverá momentos em que esse osso duro se transformará numa espécie de coroa de arame farpado sobre tua cabeça, em garras, ratoeira e tenazes no teu coração. Atravessarás o dia fazendo coisas como tirar a poeira de livros antigos e velhos discos, como se não houvesse nada mais importante a fazer. E caminharás devagar pela casa, molhando as plantas e abrindo janelas para que sopre esse vento que deve levar embora memórias e cansaços. Contarás nos dedos os dias que faltam para que termine o ano, não são muitos, pensarás com alívio. E morbidamente talvez enumeres todas as vezes que a loucura, a morte, a fome, a doença, a violência e o desespero roçaram teus ombros e os de teus amigos. Serão tantas que desistirás de contar. Então fingirás - aplicadamente, fingirás acreditar que no próximo ano tudo será diferente, que as coisas sempre se renovam. Embora saibas que há perdas realmente irreparáveis e que um braço amputado jamais se reconstituirá sozinho. Achando graça, pensarás com inveja na largatixa, regenerando sua própria cauda cortada. Mas no espelho cru, os teus olhos já não acham graça. Tão longe ficou o tempo, esse, e pensarás, no tempo, naquele, e sentirás uma vontade absurda de tomar atitudes como voltar para a casa de teus avós ou teus pais ou tomar um trem para um lugar desconhecido ou telefonar para um número qualquer (e contar, contar, contar) ou escrever uma carta tão desesperada que alguém se compadeça de ti e corra a te socorrer com chás e bolos, ajeitando as cobertas à tua volta e limpando o suor frio de tua testa. Já não é tempo de desesperos. Refreias quase seguro as vontades impossíveis. Depois repetes, muitas vezes, como quem masca, ruminas uma frase escrita faz algum tempo. Qualquer coisa assim: - … mastiga a ameixa frouxa. Mastiga , mastiga, mastiga: inventa o gosto insípido na boca seca."

Caio.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Da hipótese de ser


'-E que uma palavra ou um gesto, seu ou meu, seria suficiente para modificar nossos roteiros.

(Silêncio)

-Mas não seria natural.
-Natural é as pessoas se encontrarem e se perderem.
-Natural é encontrar. Natural é perder.'

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Abrace a tua loucura,


Me chamavam de louca. Louca, maluca, insana, subversiva. Eram muitos adjetivos para uma menina assim, do meu tamanho. Ora, vá viver tua vida, cuide do que é seu. Me deixe aqui perdida nas cores, nas letras, nas imagens que guardo em mim. Que implicância mais chata, essa. Se quero ser criança tenho todo direito. Já cresci o suficiente para aprender o que posso, mas quando eu não me importo. Sente essa leveza, é ela que me guia. Essa falta de amanhã, estruturada pelas expectativas do novo bom. Pra que explicar, limitar, caracterizar. Não quero ser quem fui hoje todos os dia. Seria monótono demais. Mas ninguém entende quando digo que louco é quem se entrega à rotina, essa vida pacata de dias iguais e repetidos. O medo da diferença afasta o original. Sinto apenas, pelos que não aproveitam. E deixam passar a maior oportunidade que a vida traz, dar voz à sua loucura.



antes que seja tarde demais.