terça-feira, 30 de novembro de 2010

Ela sou Eu.


"Lá está ela, mais uma vez. Não sei, não vou saber, não dá pra entender como ela não se cansa disso. Sabe que tudo acontece como um jogo, se é de azar ou de sorte, não dá pra prever. Ou melhor, até se pode prever, mas ela dispensa.
Acredito que essa moça, no fundo gosta dessas coisas. De se apaixonar, de se jogar num rio onde ela não sabe se consegue nadar. Ela não desiste e leva bóias. E se ela se afogar, se recupera.
Estranho e que ela já apanhou demais da vida. Essa moça tem relacionamentos estranhos, acho que ela está condicionada a ser uma pessoa substituta. E quem não é?
A gente sempre acha que é especial na vida de alguém, mas o que te garante que você não está somente servindo pra tapar buracos, servindo de curativo pras feridas antigas?
A moça…ela muito amou, ama, amará, e muito se machuca também. Porque amar também é isso, não? Dar o seu melhor pra curar outra pessoa de todos os golpes, até que ela fique bem e te deixe pra trás, fraco e sangrando. Daí você espera por alguém que venha te curar.
As vezes esse alguém aparece, outras vezes, não. E pra ela? Por quem ela espera?
E assim, aos poucos, ela se esquece dos socos, pontapés, golpes baixos que a vida lhe deu, lhe dará. A moça [..] levanta e segue em frente. Não por ser forte, e sim pelo contrário…por saber que é fraca o bastante para não conseguir ter ódio no seu coração, na sua alma, na sua essência. E ama, sabendo que vai chorar muitas vezes ainda. Afinal, foi chorando que ela, você e todos os outros, vieram ao mundo."

sábado, 27 de novembro de 2010

Free


Outro dia, aconteceu assim. Uma menina, de pele clara e grandes olhos verdes me perguntou o que queria dizer a tinta da minha pele. Então eu respondi a ela:
-Isso é "liberdade" em latim.
Uma tatuagem que eu tinha feito nos meus 18 anos. Ela riu baixinho, olhou pra mim atenta e disse: -De que tanto você foge? Medo eu sei que não é. Sabes exatamente o que fazer. Afinal, isso é parte de você. Não esquece do que você escreveu aí, ela é sua.
E desde então eu não parei de pensar naquela menina. No que ela havia dito. Eu buscava de novo a minha liberdade. Mas agora, aquilo tinha uma amplitude que eu não conhecia. Me assustava. Mas eu segui repetindo o que a menina falou pra mim. E todos os dias, quando acordo, o que me mantém é essa certeza. Eu sei pra onde vou, e ela vem comigo. Ela. A liberdade. Minha.

Lost at sea

Meu mundo agora era composto de retalhos. Pequenas lembranças de mãos dadas se mantinham unidas formando um passado lustroso cheio de sorrisos e cores. É assim comigo, meu baú reserva apenas os bons. Deixo lágrimas e dores para os boêmios chorarem por mim. Busco em cada esquina mundana a coragem de erguer os braços e encher o peito, olhando pra frente, com ar de satisfação. Descobri por meio da vida que vezenquando fica difícil continuar. A gente sofre, passa por poucas e boas. É o coração, a família, a profissão. Quantos assuntos que formaram meu passado ilustrado e hoje são os motivos da minha tristeza. Dá uma saudade daqueles tempos.. Onde era tudo feito do perfeito encaixe, corria com o tempo na certeza do concreto. Hoje, dei de cara com a independência. Afinal, ela não é tão doce quanto imaginada. Ela requer força, integração, estabilidade. Tudo que me faltava! É o limbo das incertezas.

domingo, 21 de novembro de 2010

Sobre a força da saudade


-Às vezes sinto falta de mim.
-Eu também, menina.
-Sente falta de si?
-Não, de você. E dói.
[Silêncio]
-Me abraça?
-Sempre.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Sobre o desejo da vontade


Os dias se precipitavam. O sol acordava antes que eu dormisse trazendo toda necessidade de despertar que eu desprezava toda noite. Uso a primeira pessoa aqui como desabafo egoísta por sentir uma suficiência estranha no pronome "eu" pelos últimos dias. Era curioso como isso acontecia e eu não conseguia me reconhecer na maior parte do tempo. Uma saturação familiar daqueles velhos problemas e preocupações que eu torcia pelo esquecimento mas insistiam em vingar. Quando tudo escurecia eu costumava me encontrar. Agora na noite, eu procuro esconderijo como uma criança debaixo das cobertas tentando achar um porto seguro sem retaliações. O que acontecia comigo sempre naquela roda gigante que fica chata depois de um tempo, com aquela velocidade entediante sem trazer nenhuma gota de adrenalina. Eu dormia desejando tantas coisas e acordava submersa em devaneios de noites mal dormidas e esfumaçadas. Ainda tinha você, ás vezes me esquecia. O tanto de vontade que tinha de você era o que perdia com nossos pré-confrontos já estagnados antes de um começo oficial. Recebia uns conselhos de bar, escutando a liberdade e a falta de paciência que sempre me dominou. Vim escrever aqui depois de tanta ausência. Ausência perdida em mim. Que antes era fuga, antes era achado. Agora parece que tanto faz. A garganta arranha e reclama dos cigarros que me consomem. E nada disso no fundo tem importância. Me surpreendo com tantas exclamações que dão continuidade à reticências. São frases interminadas que vão se agrupando aqui dentro. Tanta fome, tanta sede. Enfim não consumo nada. Sigo remando contra a correnteza e isso basta. Hoje o outro lado da cama tá vazio. E é engraçado pensar que não era o que eu queria. Mas que também, ele tá assim porque eu deixei estar. Aqueles paradoxos que assustam. Que revelam a nossa evolução, mudança ou simples estado momentâneo. Fico me afogando em músicas, cigarros, café, no cliché das escritas bonitas e dos sentimentos feridos que nem mesmo existem. As vezes viver e ser você pode ser cansativo.