terça-feira, 30 de outubro de 2012

E exigimos o eterno do perecível, loucos

Aquilo que está sujeito a perecer, a extinguir-se.
Uma coisa que tem prazo de validade.
Seria essa a melhor forma de começar o desabafo? Através de um diálogo, talvez, faria-se mais fácil a compreensão. Mas não, não posso, só consigo falar comigo mesmo - pelo menos sobre isso. Pelo menos por enquanto. Loucos aqueles que se atrevem a acreditar no eterno remando fortemente contra a maré do tempo. Loucos os outros, dos quais já fiz parte. Loucos aqueles que acreditam em happy ending nos mundos atuais, ou que justificam o fim do mesmo pela juventude moderna e postituída.
Acho que o quero dizer, aqui, é que não sinto mais. Chega um ponto em que você sente porque está acostumado. Como o café, na manhã. Você sente falta porque ele te encontra todos os dias lá, na mesma xícara, com o mesmo cheiro, com o mesmo gosto, acompanhando seu primeiro cigarro, com a fumaça que te faz abrir os pulmões e fingir, mesmo que por um curto espaço de tempo - o das cinzas dominarem o físico - que sim, está tudo bem. Ou se não está, vai ficar, um dia, uma tarde de primavera quem sabe, uma noite quente de verão - chegará de volta o dia em que tudo se encaixa, tudo volta pro lugar. Volta mesmo? Ou encontra um novo. E se existe um novo, é porque ele deve ser melhor do que o tudo bem que existia antes, mesmo que antes, desse novo, pensasse o contrário de agora. Entendo agora porque não posso tornar isso um diálogo. Digo que loucos são os que exigem o perecível, mas louco de verdade sou eu. Descobri isso ao longo desse perecível tempo, que chega ao final toda tarde, que me devora todo dia, que me consome toda noite e que não sei - agora - o que mais é de mim, o que já foi e principalmente o que vai ser. As palavras machucam conforme ensaiam sair da minha boca e ferir, ferir, ferir. Digo que não sei assumindo uma culpa eterna de exigências pessoais do maior nível de críticas que se pode ter como parâmetro. Sou meu, e de mim preciso saber. Mas e se digo que não sei, que agora nem sei mais se quero saber. E se antes sabia, com que certeza pude acreditar nisso, se essa crença, também perecível, já não existe mais? Então ela concreta em forma e espaço também nunca foi de todo verdade. Só posso esperar, e esperar de novo. Que a loucura, meu Deus, seja também, eterna perecível.

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

21.10.12

A manhã desse domingo começou diferente. Eu ainda não sabia que você tinha ido. Foi um começo de domingo normal, como qualquer outro. Como tantos que você viveu, e tenho certeza que ainda se lembra. Aquela preguiça enrolada no lençol, aquela vontade de ir pegar um sol e ver o mar. Mas nesse domingo, não foi assim pra você. A manhã se tornou noite talvez antes mesmo do sol nascer. O brilho e a luz que você viu, não pertenciam ao sol. Era um farol quebrado, e depois, mais nada. Calmaria. Paz. Silêncio. Uma brancura de doer os olhos, eu imagino.
Essa foi a diferença, a desse domingo, quero dizer. Ele não começou pra você, como o fez por vinte e cinco anos. Um número pequeno, levando em conta a ausência, a presença, a saudade, e o tanto de coisas que sequer tiveram tempo de virar saudade. Aliás, - tempo- você teve? Fico aqui me perguntando se aquele tempo doado a você, pelos tais vinte e cinco anos foram suficientes para completar todos os seus sonhos - além de ir a Califórnia, que você conseguiu - todos aqueles sonhados no escuro da noite, todos aqueles confidenciados em conversas, todos aqueles omitidos de gestos. Tiveste tempo de ser? Não pode ser assim, não, ô senhor tempo. Com quem devo reclamar? Tiram dela a vida, assim, em um estalo, e o que resta dela fica aqui, nesse limbo, querendo entender, buscar uma explicação concreta que fale mais alto do que a dor e do que a indignação do peito, e dos constantes "por quês" que não param de atravessar a nossa mente.
E no final, de que adianta? Chegaremos todos na mesma luz cega que ela chegou, nessa manhã diferente de domingo. Se vai ser no início da semana, no caminho do trabalho, em casa dormindo - isso, ninguém sabe. O tempo, esse nosso mestre senhor, gosta assim, de surpresas. Mas a desse domingo diferente, não foi uma surpresa boa. Não foi porque não parece justo, a nós, meros humanos mortais, que pecam por não ter o conhecimento geral dos fatos e da vida. Ela era boa, sabe. Não cabe dentro da definição de "certo" um acidente desse nível acontecer e assim, em um piscar de olhos, sem dor, ela ser levada embora - ser arrancada daqui, do lado.
De que adianta toda essa depressão que procede o choque. De que adianta toda essa vida, vivida em vinte e cinco anos, toda essa definição de vida, todas essas imposições, todas essas regras se quando tem que ser - é de qualquer jeito.

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Vai Saber...

Não vá pensando que determinou
Sobre quem só o amor pode saber
Só porque disse quem não me quer
Não quer dizer que não vai querer

Pois tudo que se sabe do amor
É que ele gosta muito de mudar
E pode aparecer onde ninguém ousaria supor

Só porque disse que de mim não pode gostar
Não quer dizer que não tenha do que duvidar
Pensando bem pode mesmo chegar a se arrepender
E pode ser então que seja tarde demais
Vai saber...

Pois tudo que se sabe do amor
É que ele gosta muito de se dar
E pode aparecer onde ninguém ousaria se por.


Vai Saber - Mart'nália

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Que está ligado, atado

- Então, como você se sente hoje?
- Detida.
- O que te impede?
- Não, não é isso. Talvez eu deva me expressar melhor.
- Talvez.
- Veja bem, não é que haja necessariamente algum impedimento que implique na minha detenção.
- Então o que é que há, necessariamente?
- Nada passível de palavras. Existe uma condição. É isso! Isso caracteriza a minha detenção. É nessa condição que me encontro: detida. Não necessariamente por um motivo que faça dessa inércia constante, mas por simplesmente estar assim. O caminho é in, não off. Consegue entender?
- Hum... Acho que vejo uma luz nisso que você me diz, sim. Mas continue. Sobre esse caminho "inn" de que fala, quer dizer que não existe uma influência externa sobre a qual você esteja diretamente relacionada, e que consequentemente implique na sua detenção?
- Estou aprisionada em mim, por causa de outra pessoa. Faz sentido?
- Não estamos aqui para fazer sentido, e sim para entrar em contato, mesmo sem fazê-lo.
- Então é justamente isso. É uma prisão da qual não consigo sair. Ou talvez consiga e não queira. Ou talvez esta já tenha se tornado na verdade, a minha própria fuga, a minha liberdade. O que torna o "off" o aprisionamento em si. De maneira que não quero mais ir embora, digo, quero continuar presa.
- Você sabe a definição de "preso"?
- Não, exatamente.
- É do latim, prehensu, que quer dizer tomado, agarrado, seguro.
- Definir algo é limitar algo. Apesar de aprisionada, acho que aqui dentro existe um infinito. E alguns infinitos são maiores do que outros.

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Só pra saber, nesse tal filme de romance


Leio e releio você sem pressa. Aos poucos, absorvendo cada palavra - inúmeras vezes - que vão se multiplicando e ecoando no peito, ganhando ritmo e pressão. As vezes parece que me alimento de você. Quando sinto frio, a sua ausência é o que me envolve, e conforme a minha pele reage ficando completamente arrepiada, é porque fechei os olhos e imaginei seu toque. Eu não quero ser igual à ninguém. Não suportaria essa ideia, que as vezes me ocorre e já me deixa insuportável. Ser um de novo, um outra vez. Nada repetido. Nada mais uma vez.

O coração quando resolve ser capitão, não sabe das tempestades. Ou talvez saiba - mas o que me encanta, e só - é a completa ausência do medo pelo total e incontrolado sentimento que é gerado a partir de - que?. Eu lembro da primeira vez que te vi. Lembro da segunda. Mas não consigo olhar pra trás e definir o momento em que eu - inteiramente - estava entregue. Penso que, talvez, não exista de fato essa divisão. Talvez tenha sido assim desde antes, desde sempre.