terça-feira, 30 de abril de 2013

Chega de meias-solas e paliativos

Escreveria à você tarde da noite, para pedir, ou dizer que eu esperava que entendesse meus becos e poços escuros - os quais, muitas vezes, me fazem mergulhar em silêncios ás vezes longos.
Dentro deles eu me perdia, ás vezes sem psicologia, ás vezes com certa ou pequena motivação. A de hoje, não chegou a ser especial, só mais uma terça-feira entediante de trabalho, mais um dia bonito que passou e que não pude ir sentir a areia, nem embarcar no vôo das quinze horas e fugir pra qualquer outro lugar - que não aqui.
Então é o que tenho agora, tarde da noite enquanto escrevo ainda pensando em você, para te tranquilizar de certa forma, e tentar responder à sua doce preocupação pelo meu olhar melancólico que durou uma eternidade, presa dentro de vinte e quatro horas que vêm se arrastando pelos ponteiros desde que pisamos fora da cama.
Durante esse dia gasto, busquei certas referências que pudessem explicar, ou ao menos me fazer aceitar - mesmo que sem entender - qualquer que fosse a origem dessa instabilidade que me deixa anti-social, anti-comida, anti-pessoal, anti-solitude. São os silêncios, aqueles dos quais falei antes. Longos, por sua vez, me tornam, como mamãe mesma me definiu: "insuportável".
São dias assim que me fazem ouvir e re-ouvir a mesma música dezenas de vezes em sequência. Algo como Caetano, Cazuza, Cássia. Ler e re-ler amores como Caio, Clarice. Talvez seja muito "se" pra uma pessoa.
Agora tento adivinhar quantos maços ainda serão necessários para que os longos se tornem curtos, e possam finalmente se dissipar.
É um sentimento de estagnação e perda de tempo. Quando se quer tanto ás vezes se perde o pouco que se tem. E como uma boa virginiana com lua também em virgem, eu quero o estrago, o amor, as aventuras e o mundo. O mesmo de sempre cansa rápido, me disseram hoje, e claro, me vi em cada letra.
Então, em meio a palavras também longas - assim como esses meus silêncios - tento te responder de uma maneira torta, assim como eu - que o que queria era pegar sua mão e fugir, pra bem, bem longe daqui.

terça-feira, 2 de abril de 2013

Distração


Hoje decidi ir bater perna na rua. Concluí que seria bom, pós trabalho, andar por algumas lojas, tomar um café - mocha branco, meu novo vício - e bisbilhotar umas vitrines em busca de distração. Foi uma escolha sábia. Aquelas coincidências ingênuas, pequenas sequências de acontecimentos que te levam a tomar uma decisão boba, mas que faz muito bem pra si.
Comprei supérfulos, observei pessoas - acho que uma das coisas que mais pode satisfazer um virginiano em dias banais como uma terça feira chuvosa são os detalhes - tomei meu vício e, claro, senti saudade.
As pessoas são curiosas, quando observadas de perto.
Entrei na livraria - outro vício incessante - pra comprar mais livros, porque os que ainda não li que estão descansando na prateleira do quarto precisam de companhia. Me rendi ao belíssimo e infinito mundo das palavras que me surpreende mais a cada dia, e tudo que consegui fazer foi me entregar. Por quase duas horas eu perambulei e li diversos prefácios, epílogos e discursos - cada um falando um pouco de paixões e segredos. Saí de lá com dois livros. Porque como disse, um nunca é suficiente.
No meu caminho pra casa, a rua estava cheia de carros, parados, com as luzes vermelhas acesas indicando que não tínhamos pra onde fugir. Mesmo com a chuva, abri a janela e acendi um cigarro. Essa lei chata de que proíbe os fumantes de se matar aos poucos em público incomoda, e vamos ser sinceros, estar perdida em palavras e páginas em preto e branco não tem a mesma graça de quando podemos ter algumas cinzas se debruçando nelas.
Mas aí o maço acabou, e o carro permanecia parado. Apelei pro livro novo, um deles. Acendi a luz do carro, e ali, em meio ao caos urbano, mergulhei em uma nova história.
O nome dela era Emma, ela tinha 22 anos e havia se mudado para Nova Iorque - não é difícil perceber o motivo da minha vontade de lê-la. Ela era escritora, estava prestes a publicar seu primeiro romance, e vivia a vida de ficção que sempre quis viver na minha realidade.
Essa era a beleza da literatura. Conseguir alcançar pensamentos, personagens, lugares sem sequer precisar pisar no acelerador. Eu era feita deles. De cada personagem e história que li, nos meus humildes vinte e três anos de existência. Eles me completavam, de certa forma, me delineavam. A cada dia, a cada parágrafo, eu conseguia me recriar. E eu adoro isso. A estagnação não nos leva a lugar algum, e a graça da vida está em se redescobrir - já dizia minha analista, e eu concordava com ela.