terça-feira, 29 de maio de 2012

Looping


 Era aquela mesma melodia. Começava com a manhã, e mantinha seu ritmo durante a tarde. Quando a noite chegava ela ficava no automático, tocando sozinha.
É engraçado como ela tinha essa característica, ato falho.
Necessidade. Era isso! Ou, achavam que era. Em sua memória tudo tinha uma relação. Conforme os fatos evaporavam do momento e entravam no pretérito, dentro de sua cabeça já existiam laços correlacionando todos os sentimentos possíveis, e em sua maioria, inventados.
Ela acreditava em todos. Argumentos contrários ou opiniões reversas, nada era capaz de dissolver aquela imaginação meticulosa, que adquiria mais força a cada manhã, quando a melodia começava a soar.
Seus passos já eram desprendidos da razão, desde quando não é mais possível se lembrar.
Essas idas e vindas, incertezas vitalícias que driblamos com palavras fortes, quanta porcaria!, pensava.
Era intrigante. E talvez, esse sintoma só piorasse aquelas repetições.
Se precisar esquecer, dorme que passa - diziam.
Eu durmo. Mas quando acordo, só encontro a manhã. A mesma de ontem, só que um pouco maior.

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Faz tempo. Talvez aqui seja um bom começo. Tempo esse que me fez falta, e só percebi a falta que o tempo fez quando o tempo não tava mais lá. Aquele tempo que a gente tem pra dentro. Tempo de olhar o espelho, o teto e até mesmo as páginas daquele livro velho, favorito, cheio de rabiscos e pensamentos. Tempo de sentir o cheiro da janela, de se esticar na diagonal da cama e fazer um café. Esse tempo de que falo são as minhas madrugadas.
Antes, tão presentes. Todos os dias vinha me visitar.
Não sei se fui eu, que perdi a loucura, ou se ela que cansou de vir me chamar.
Aos poucos me acostumei a não tê-la.
Dela já não sei mais.
O azul do céu é que me recebe, com aquele insuportável vinil transparente, radiando dourado.
Fazia falta que esse tempo não aparecia. Tempo de mim.