segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Trilhos


Embora vivesse na mesma cidade por anos, ainda não havia conhecido todo canto dela. Em um domingo de tédio, o sol nasceu forte e ela se levantou cedo, pela insistência do relógio.
Troca de roupa, pega a câmera, bateria fraca, chocolate aberto e tranca a porta. Coisa rápida, sem precisar pensar muito. Isso, chegou a conclusão, é o que faz dos dias imprevisíveis e belos. A falta do plano, o esquecimento da preocupação.
Subiu pelos trilhos desconhecidos. Ia ao encontro de pessoas, amigos, personagens, paisagens. O dia passou voando, foi embora sem ao menos se despedir.
Dia não pensado, realizado. Dia novo.
Ao voltar pra casa, cansaço e felicidade. Agora só se permitia pensar em algo pouco, apertado.
Quero dias de insônia cobertos por manhãs claras assim,
domingos entediantes recheados de momentos brilhantes,
e uma vida sem rota certa,
dessa forma eu chego bem, lá no fim.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Faz um bom tempo que a vontade de escrever e de poetizar se resume a você

Eram músicas perdidas, textos copiados, esmaltes novos. O lençol da cama nunca se endireitava, não dava tempo. A gente naquela correria da vida, com pressa de fazer tudo antes do final de semana. Os cafés que tomaram nossas tardes, os filmes que você trouxe, o medo que você levou embora e a novidade que eu te dei.
Trazia todo dia a vontade de você. Dormi mal ontem, tive um sonho, depois te conto.
É, era com você. Sempre é,

Sabe, aquele trigo que você tem, aquela cor diferente que mudou aos poucos, me encanta quando fica meio preso, com aquele brilhante no cabelo. A mancha do seu olho tá gravada e o gosto da tua boca também.
Romance chato, faz falar. É que eu não canso, é que é bom demais acordar pra dar bom dia pra você. Tantos textos eu escrevo pra você. As vezes coisa boba, as vezes conversas, as vezes saudade.

Se você não vem as cores se recusam a sair.
Vem que eu te cuido. Se o sol sair hoje, te prometo tudo.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Sem querer

" E assim, aos poucos, ela se esquece dos socos, pontapés, golpes baixos que a vida lhe deu, lhe dará. A moça - que não era Capitu, mas também tem olhos de ressaca - levanta e segue em frente. Não por ser forte, e sim pelo contrário...por saber que é fraca o bastante para não conseguir ter ódio no seu coração, na sua alma, na sua essência.
E ama, sabendo que vai chorar muitas vezes ainda. Afinal, foi chorando que ela, você e todos os outros, vieram ao mundo.
Ela é mais que um sorriso tímido de canto de boca, dos que você sabe que ela soube o que você quis dizer. Ela fala com o coração e sabe que o amor, não é qualquer um que consegue ter. Ela é a sensibilidade de alguém que não entende o que veio fazer nessa vida, mas vive..."

domingo, 22 de agosto de 2010

Evidência

Toda noite terminava assim. Eram músicas, fotografias antigas, saudades. A transparência nítida de um tempo que foi embora pra não mais voltar. Aquelas lembranças que traziam força pra continuar na vida estranha, na adequação precisa da vontade de ser sempre mais. A gente não sabe do amanhã e talvez eu não queira mesmo saber. Acordo acreditando na diferença, esperando a mudança, sinto frio e respiro o vento. Questões demais atrapalham o andar das coisas e as respostas quase sempre incertas tremem no vazio do peito. Fica em inércia o desejo da noite, perdido na coberta quente e imparcial. Ausência é sempre a fuga que não traz solução pro medo.

Meu bem, fica bem


"Mergulho no cheiro que não defino, você me embala dentro dos seus braços e você me beija e você me aperta e você me aquieta repetindo que está tudo bem, tudo, tudo bem..."

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Interrogação Descartável


"Descobririas que as coisas e as pessoas só o são em totalidade quando não existem perguntas, ou quando as perguntas não são feitas. Que a maneira mais absoluta de aceitar alguém ou alguma coisa seria justamente não falar, não perguntar - mas ver. Em silêncio. (...) O que faz nascer as perguntas não é uma necessidade de conhecimento, mas de ser conhecido."

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Sexto Sentido


Quando ela chegou em casa, não acendeu a luz. Seguiu as sombras e jogou as chaves na mesa. Entrando no quarto tirou a roupa pesada que vestia desde as sete da manhã. Já era tarde e a vizinhança toda era silêncio. Lembrou de coisas que precisava fazer no dia seguinte enquanto arrumava a cama pra deitar. Passavam coisas pela sua cabeça que eram estranhas, reflexos do destino controverso que persistia em ser. Então começou,

-É que eu sinto tanta saudade. Se as pessoas soubessem como você me dói de vez em quando. Se você soubesse. Essa insegurança diária atormenta até os sonhos. Eu quero tanto ir embora. Quero poder mudar, e se você estivesse aqui tudo seria diferente. Um dia ouvi que o "se" não existe, que quando pensamos em hipóteses na verdade deveríamos pensar no que poderíamos ter feito de diferente, mas com a mesma motivação. Mas sabe, é confuso. Lá fora é tudo tão grande, tão assustador. Mas se você estivesse aqui...

Foi quando ela parou pra respirar, e ouviu a porta bater.

Sentiu um arrepio, e depois lembrou, eu tranquei sim, a porta.

Com pouca coragem foi à sala de novo. Escuro. Em cima da mesa, ao lado das chaves, um papel amassado.

'Nunca fui embora. Não vá você também.'

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Pensado Cansaço



"Em luta, meu ser se parte em dois. Um que foge, outro que aceita. O que aceita diz: não. Eu não quero pensar no que virá: quero pensar no que é. Agora. No que está sendo. Pensar no que ainda não veio é fugir, buscar apoio em coisas externas a mim, de cuja consistência não posso duvidar porque não a conheço. Pensar no que está sendo, ou antes, não, não pensar, mas enfrentar e penetrar no que está sendo é coragem. Pensar é ainda fuga: aprender subjetivamente a realidade de maneira a não assustar. Entrar nela significa viver."

Caio.

Ever after


segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Extremo de Lucidez

Não, você não sabe. É que eu me escondo de vez em quando, saio por aí sem destino certo, ando só pra fazer o tempo passar e penso com medo de enlouquecer. Muito aconteceu dentro do período curto que se prolongou. Dias intermináveis culminavam em pesadelos que eram reais demais para se esperar a brisa do sol e abrir os olhos, respirando fundo e sentindo o alívio de tudo ter chegado ao fim. Mas o tempo não rouba de você só os momentos de felicidade com sua maneira expressa de fugir do ponteiro. Por mais demorado que pareça, ele leva com ele também as tempestades e tormentas que te destroem aos poucos. E assim, ele levou. Aquela nuvem carregada que me surpreendeu por tantas semanas, aquele medo que trouxe insegurança e me tirou de mim, aquela ventania fria que me deixou arrepiada e sem saber pra onde ir. Agora, a música me traz leveza, e nada mais parece impossível. A montanha ficou baixa, os degraus diminuíram e o peso desapareceu. Fácil não é. Nunca será. Mas agora, o teu tamanho não me assusta mais. O sol vai acordar de manhã e com ele eu vou levantar e começar de novo. Fazendo tudo diferente de novo. Sentindo isso que me equilibra, que não tem nome, mas que me faz bem. É preciso chegar ao centro, sem partir-se em mil fragmentos pelo caminho. Completo, total. Sem deixar pedaço algum para trás. Porque
desistir não é nobre. E arduamente, não desistimos. É só saber voar.

domingo, 15 de agosto de 2010

Uma Constante


"E recomeçar é doloroso. Faz-se necessário investigar novas verdades, adequar novos valores e conceitos. Não cabe reconstruir duas vezes a mesma vida numa só existência. É por isso que me esquivo e deslizo por entre as chamas do pequeno fogo, porque elas queimam - e queimar também destrói.
Só quero ir indo junto com as coisas, ir sendo junto com elas, ao mesmo tempo, até um lugar que não sei onde fica, e que você até pode chamar de morte, mas eu chamo apenas de porto."

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Menina Bonita Bordada de Flor

Era óbvio que isso não era a única lembrança. As flores, eu digo. Na verdade, eram incontáveis as coisas e imagens que traziam ela pra mim. Porém, as flores eram as mais intensas. Quando você consegue transformar visão em memória e concretizar lá dentro o sentimento forte que insiste em te dominar. Como explicar, talvez não saiba direito. Leve, sutil, delicada, suave. Cheia de aroma, aquele perfume exclusivo de pele que tem o poder de te perder nos segundos do tempo. Eu disse segundos.
Que romance bobo, quanto cliché. É, coisa de amor. Quem sabe, sabe bem. E o que eu não sabia, ela me ensinou aos poucos, com as pétalas claras, o toque intenso, e o abraço cheio de vontade. Não quero pensar em explicar, dizer porque ou como. Quero ela. Essa flor do campo que criou raízes fortes, e que eu não quero que vá embora. O que eu quero é a primavera.

domingo, 8 de agosto de 2010

Dream Summer Day


Faz tempo que não apareço. É que eu peguei um avião e vim pra longe de casa, onde as luzes cegam a gente. Onde os meus sonhos todos parecem reais, e por mais que alguns problemas tentem se manter presentes, o vento os desprende da raiz, e eu fico leve. São momentos que vem, que vão, que ficam e outros que mudam.
Então eu vim aqui dizer que tenho saudade. Que mais uma vez eu me reinventei, eu sonhei, e trago de volta coisas diferentes. Termino de contar os pensamentos depois, agora tenho que ir. Aos leitores, e não só a eles, fica a falta. Mas não por muito mais tempo, penduro uma placa de 'be right back' and see you soon.