sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Pra você, minha número 1

Mais uma vez venho escrever da forma torta que sei à minha leitora favorita. Você disse que estava sentindo falta de ter o que ler, e por ser minha número um, não posso deixar nenhuma saudade tomar conta de você. Já te escrevi tantas vezes, e sigo fazendo, porque sei que isso alimenta nós duas, de certa forma. Mesmo que seja repetindo algumas palavras, não me canso de dividir com você meus pensamentos e meu amor. E olha, que já temos um tempo razoável no passado de nosso calendário. Tempo esse, que me trouxe a presença e a segurança de uma vida inteira, e a certeza renovada, a cada manhã, de que trilhamos um caminho sem volta. Te quero de um jeito novo todo dia. Seu sorriso é minha maior e melhor fuga de todo o restante do mundo, e nada mais importa quando te abraço e sinto aquele cheiro que só você tem. Cheiro de pescoço, de carinho, de corpo. Em toda tempestade que enfrento, minha paz é você. Aprendi a viver ao invés de apenas sobreviver, porque você soube fazer disso uma tarefa tão fácil. Se as vezes sinto tanto medo, é só medo de te perder, porque você agora, é o que as pessoas costumam dizer em resumos breves: tudo. Declaro nosso amor o melhor e maior do mundo, porque ele é, todos os dias. Quando a gente briga, você faz cara feia, eu grito. A gente faz passar e eu te amo mais. Lembra Cazuza? E nem sei se consigo mesmo te odiar por um segundo. É tão forte, que qualquer explicação é irrelevante pra mensurar. Mas o universo e as estrelas estão aí pra tentar nos ajudar. Desejo você - inteira - desde que bati os olhos em você pela primeira vez. É cliché, é repetitivo, é comédia romântica. Mas nem por isso deixa de ser verdade. O que me impressiona em você, e que talvez isso eu nunca tenha te contado de verdade, é o quanto você me conhece. Você sabe meu jeito de dormir, de acordar, sabe quando eu não gostei e até mesmo o por que. Sabe dos meus ciúmes bobos e inseguranças, sabe do meu mau humor, sabe dos meus medos. E pra melhorar, tem um jeito único, só seu, de conseguir me dobrar em tudo isso. A expressão "você me tem nas mãos" parece descrever bem. E isso é só a prova de como eu me entreguei a você, e de como, dia após dia, somos mais "nós" do que "eus". E é tudo que eu quero ser. Quero ser sua felicidade, seu porto seguro, sua novidade, sua melhor noite, seu passado, presente e futuro. Vou te amar pelas próximas vidas, garota. E espero que você me ame de volta. 

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Terapia de Espelho

Estalo os dedos, com calma. Respirando devagar, tiro o cigarro do bolso, coloco na boca e acendo. Na primeira tragada, penso a respeito do que está prestes a ser dito. A sessão deve começar.
- Durante a semana, percebi que ando completamente vulnerável. Isso me irritou um pouco. Como você sabe, sou uma pessoa que tem sede de controle, e quando ele parece não estar por perto, fico desestabilizada. Não ter controle de mim, significa, em poucas palavras, não ter controle de nada. Me sinto insegura constantemente, com medo. "De que?", você vai perguntar. E a verdade é que ainda não consegui responder isso, nem mesmo pra mim. Todas as noites, quando coloco a cabeça quieta no travesseiro, meus pensamentos desandam e disparam, confabulando inúmeras teorias sobre o "por que" de tal situação em que me encontro. É tanta coisa, separada, ao mesmo tempo. É o trabalho, a família, os traumas de infância, o amor, o relacionamento, o ciúme, os sonhos. Dá vontade de desistir, parar. E o que mais me preocupa, é que não tenho esse histórico. Digo, que me vejo sendo assim, ou melhor, me tornando uma pessoa árida, não faz muito tempo, porque sempre fui uma criança muito saudável e feliz, assim como adolescente também. É bem verdade que esquecemos as dores, fingimos superação, para de tal forma, estarmos preparados para o que tiver que vir em seguida. Mas, se não lembro, não acredito mesmo que meu inconsciente guarde tamanha mágoa sozinho. Sendo assim, consegui concluir o primeiro passo da minha teoria, onde alego e parto da hipótese de que, o tempo me fez assim, e as situações duras da vida - digo aqui sem vitmização, apenas constatando fatos - contribuíram para que eu criasse essa carapaça contra a vida, e acho que foi aqui que comecei a endurecer. "Aqui onde?", você vai retrucar. Aqui, onde comecei a me perder, e por conta disso, não consigo estipular data ou hora precisa pro ocorrido. Mas posso tentar um palpite, e ele fica em torno de uns 3 ou 4 anos atrás. Foi então, que comecei a ter conhecimento do que era sentir preguiça da vida, como um todo, e buscar escapatória de nosso querido e perturbador cotidiano, que tanto me entediava. Ficamos reféns da vida às vezes antes mesmo de percebê-la, e talvez eu fosse apenas uma adolescente rebelde e sem causas justas para tamanha preguiça, talvez. Mas o que eu sentia, dizia ser um pouco maior que isso. O tempo, já ouvi falar tanto dele, sempre age e reage, e graças a isso, vamos levando nosso barquinho, às vezes até mesmo contra a correnteza, remamos. Eu remei. Remo, até hoje. Não quero me entregar e aceitar, ser dura, ranzinza, e usar a carapaça que a vida me deu contra ela mesma. Escudos são bem vindos, pois nos protegem. Mas sem perceber, montamos um exército e uma muralha de pedras secas, empilhadas, e ao invés de escudos temos uma barricada, que nada nos serve de proteção. A barricada me afasta do que mais preciso ter contato, que é a vida, em si. Simples, em sua maior e melhor forma. Tudo, além dela, nos parece amedrontar. Uma bolha que afaste tudo e todos, e nos deixe quietos e calmos, sem maiores problemas ou preocupações. Um ideal recheado de inércia, um nada cheio de ausências. Nos entregamos, aos poucos. E por isso tô aqui. Porque não quero me entregar. E além de não querer, quero sim, derrubar e desconstruir essa barricada que me afasta e me aprisiona em mim mesma. Não quero ter medo de nada ou ninguém, sempre confiei muito em mim. Tenho personalidade forte, e transpareço como água viva, simples e clara. Não quero suar frio, não quero pesadelos, não quero pensamentos desmedidos em forma de lágrimas. Pra isso tudo é preciso controle, auto-controle. Como já dizia Caio, você sabe, "o caminho é in, e não off". Preciso colocar isso em prática todo dia, toda hora. Lembrar a mim mesma que não tenho nada a temer, nem por que. Preciso olhar em volta, agradecer. Ter calma, paciência, reaprender a viver. Encontrar, no fundo, o que se deixou perder. A graça de acordar todo dia, abrir a janela, ouvir uma música e se sentir bem, leve, apenas pelo "ser". Nem sei há quanto tempo isso não me acontece. Por isso resolvi vir aqui. Eu preciso muito desabafar, cuspir, desmontar todo esse quebra cabeça insano que deixei crescer dentro de mim, criando raízes podres que me sufocam todos os dias. Quero voltar a mim e ser eu, pelo simples fato de ser. Sem medo, desconfiança ou qualquer coisa que contemple a insegurança. Eu quero a liberdade. Liberdade de mim.

terça-feira, 24 de setembro de 2013

'Sentir sede, faz parte. E atormenta.'


A primavera chegou trazendo chuva e reflexões. Nada de flores, céu azul ou jardim enfeitado. É uma primavera que começa sendo arisca e dura, exigindo batalhas diárias e travando lutas pessoais - contra mim mesma, é o que quero dizer.
Ir contra si próprio pode parecer fácil, uma vez que não tem mais ninguém ao seu lado - mas engana-se quem pensa assim - uma batalha contra o espelho pode ser mais difícil do que todo um exército na direção oposta.
Já olhou pela janela? Quantos reflexos você encontra?
Dentro de um, se multiplicam outros, e quando tento me encontrar, esqueço.
A chuva que cai traz piedade. Mas não sinto, penso.
Vida constante que se resume em repetições. Amanhã, outra vez, e depois, novamente.
Qualquer coisa que possa submeter uma repentina quebra de paradigmas, pra
fazer nascer uma novidade, porque nada é suficiente quando se espera flores.
Enquanto parágrafos se repetem, o ontem pausa com vírgulas, mas nunca com ponto final.

terça-feira, 17 de setembro de 2013

Carta III

Sabe, Léo
Mais uma vez fiquei tanto tempo sem aparecer. Tempo esse que se desfez nas horas, e passou tão rápido como o inverno, que nem frio fez.
No domingo eu fui à igreja, teve batizado. Rezei por você quando tava lá. Te peço o bem, sempre. E sinto saudades ainda.
Por aqui, não tenho muitas novidades. Tenho sonhado com você, ás vezes. É engraçado como mesmo com o tempo correndo com o vento, eu continuo tendo você aqui, mesmo que só durante a noite.
Sabe, Léo
Meus sentimentos têm me surpreendido. Tive uma semana complicada outro dia. Inteira ela aconteceu, e parecia um ano chato que não queria sair do calendário. Fiquei estagnada sem conseguir me entender, e você sabe como eu fico quando não entendo as coisas. Fiquei apática, com medo. Não tinha confiança nenhuma, me sentia solta, sentada em um balanço que ia muito rápido, sem dar tempo de segurar na corrente. A iminência da queda me perseguia. E ainda não sei como consegui descer de lá.
Sabe, Léo
Esses sentimentos que aparecem de repente - me engano ou compreendo - parecem vir do alinhamento das estrelas. Os planetas brincam comigo e em cada fase de Mercúrio eu aprendo um pouco mais de mim. Quando saturno resolve dançar perto de Urano, eu fico assim, perdida na imensidão utópica da ilusão, e demoro pra me desprender da sensação abstrata da vida.
Sabe, Léo
Difíceis são tempos assim. Quando se perde o controle e é preciso manter o curso, correndo. Imagino que você tenha tido esses momentos, também. E por isso, consigo desabafar com você, e só com você. Porque de resto, parece sempre vitimização, e você sabe o que eu acho sobre sofrimentos exacerbados e penalidade própria.
Sabe, Léo
Te escrever me faz bem. Dividir isso tudo com você, mesmo que sem uma resposta física, sempre parece me deixar leve, e tirar um certo peso dos ombros que preciso carregar todas as manhãs. Por enquanto, vou levando. Espero te escrever logo. E vê se aparece, nos sonhos de mais tarde, quem sabe.

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Trans-Parece

Enquanto a chuva caía lá fora, o vidro tentava segurar algumas lágrimas, mas elas escorriam na transparência. Eram dias assim que faziam a vontade de permanecer quieta vir à tona. Não conseguia desvendar exatamente, mas as coisas paradas pareciam mais confortáveis do que qualquer movimentação. Isolamento, descanso, exílio. Qualquer coisa que desse tempo ao tempo, e que deixasse tudo simplesmente acontecer com calma, devagar - talvez do mesmo jeito que a chuva caía lá fora.

quarta-feira, 26 de junho de 2013

Play

Enquanto o filme passa na tv, você se perde na história confusa de amores, aventuras e traições. Eu, calada, me perco em você, de novo e sem querer. É que outro dia te disse que nosso amor era diferente, e acho que você concordou. É que dormir e acordar com você dia sim e outro também, me faz querer a nossa cozinha vermelha, nossa coleção de dvd's, nosso filhote roendo o sofá e a sua bagunça jogada pelo quarto. É que o meu ciúme na verdade é só medo de te perder. Meu controle é todo pra te manter feliz, e conseguir fazer o sol nascer até no meio das nossas tempestades. É que nada me faz melhor do que te fazer bem. É que ser cafona não se faz suficiente a tudo que sinto e a persistência do amor de te dizer toda noite e toda manhã, que te amo cada vez mais. É que os dias passam e parece que nosso calendário anda pra trás. É que a biologia errou quando comprovou que paixão tem data de validade. É que sou completa e perdida - e muitos outros sufixos "mente" - por você. É que te quero perto mesmo quando digo que não. É que o que tenho aqui dentro não se compara. Mesmo você tendo um péssimo jeito de escolher filmes que tem uma sinopse ótima mas terminam sendo uma porcaria, eu te amo um pouco mais do que amava quando você apertou o play. E agora que acabou posso te dizer olhando pra você: amo você.

sexta-feira, 21 de junho de 2013

vinte e um de junho de dois mil e treze

Sabe Léo,

Fiquei um tempo sem te escrever porque o tempo aqui tem andado rápido. Mas hoje sonhei com você, e resolvi matar um pouco a saudade.
Como você tá muito longe, acho que não sabe o que tá havendo. Tá uma confusão, Léo, que você não imagina. As pessoas estão indo às ruas todo dia, de cara pintada e bandeira nas costas. Tão manifestando contra o governo, e dessa vez parece sério. Dá um orgulho de participar do movimento. Não se fala em outra coisa há pelo menos uma semana. Acho que você ia gostar de estar aqui pra ver.
Tirando isso, todo o resto tá igual. O tempo tem passado mais rápido, ainda não sei por que. Essa semana então, foi toda em vinte e quatro horas. Hoje já é sexta feira e não parece, não.
Queria ir a feira. Passear pela rua com calma, de manhã cedo. Lembra quando a gente saía sem rumo, Léo? Tinha sempre um buquê de flores esperando a gente. Tô sentindo falta delas. Das flores.
Mas sabe que tô me achando melhor? Da última carta, te disse que eu tava precisando ficar tranquila. Acho que to conseguindo. Acho que isso se consegue aos poucos, não é, Léo? E é engraçado como sei controlar tanta coisa direito, mas a mim mesma, ás vezes escapa.
A noite de hoje tá fresca. Tem um vento calmo vindo da praia. Quando ele entra aqui em casa, dá até pra sentir o cheiro do mar. Tô sentindo falta dele também. Do mar.
Não sei se vou dormir bem hoje não. Nessas noites que se junta energia e não se tem pr'onde ir, termino me revirando no edredon. Mas aí, qualquer coisa eu escrevo outra carta pra você. Porque mesmo quando eu não tenho o que falar, consigo te escrever.  

segunda-feira, 10 de junho de 2013

dez de junho de dois mil e treze

Sabe Léo, tô ouvindo uma música tão calma agora. Pensei em te escrever pra aproveitar a calmaria. Tô tentando me acalmar, na verdade. Ficar mais tranquila. Usar essa energia que ficou na moda de repente, pra buscar uma evolução. De quê, eu ainda não sei bem. Eu mesma, talvez. Tô precisando muito, sabe. Dessa melhora, dessa energia, da calmaria que lhe falei. É tudo tão confuso, Léo, que ás vezes me vejo perdida no ponto de ônibus sem saber pr'onde volto. As pessoas todas andam tão rápido pelas ruas, ás vezes até se esquecem de olhar o farol, e vão se atropelando pela faixa, ou até mesmo fora dela. Isso não te assusta? E ainda assim, penso que elas são mais achadas do que eu, já que mesmo com tanta pressa e sem muita consciência do que fazem, sabem exatamente pr'onde se vão.
Eu tenho uma teoria, Léo. Acho que já falei dela pra você. Sempre te disse tudo, e uma coisa dessas acho difícil ter escapolido da gente. Acho que toda pessoa nasce com um dom. Pode ser coisa boba ou coisa monstra. E ás vezes, as pessoas demoram pra encontrar, até pra saber, que elas tem esse dom. Acho também que criei essa teoria só pra continuar acreditando que, em algum dia, eu ainda hei de achar esse dom. Porque só ser maluca não pode ser tudo. Deve ter algo mais. Você não acha?
Sabe Léo, eu queria que você tivesse aqui agora. Aí eu não ia precisar escrever essa carta toda e ia poder pegar sua mão e sentir teu cheiro, bem pertinho. Perto é tão melhor.
A distância tem sua beleza. Seja lá o aprendizado ou a paciência que ela traz, acho ela bonita. E tô precisando disso, do aprendizado e da paciência. Além da calmaria, da qual já te contei. Você é calmo, Léo? Que é eu sei, você é libriano e te conheço talvez melhor do que a mim mesma, mas quero dizer, você se acha calmo? Porque tantas foram as vezes que me achei algo e que fui contradita por outr'em. As vezes parece que podemos ser tantas pessoas em uma só. Tenho tentado evitar isso, também. Essas tantas personalidades que vivem em mim. É tanta informação, tanto sentimento, não sei como que um coração dá conta de tudo isso. Se você tivesse aqui ia dizer "Mas ele dá, Laura. Dá conta sim.". Acho que é por isso que sinto tanto essa distância. Porque mesmo que meu dom seja a loucura, você nunca fugiu dela. E isso sempre me fez gostar muito de você.
Sabe, Léo

terça-feira, 28 de maio de 2013

Calada da Noite

Faço-me promessas bobas todos os dias.
Ontem, ao chegar em casa, cumprimentei o porteiro Zé como de costume. Ele já estava acostumado às madrugadas, assim como eu, e nossos encontros eram tão frequentes que quando via sua ausência, as madrugadas não pareciam completas.
- Boa noite, Zé.
E como em todas aquelas madrugadas perdidas, ele me retribuía com um sorriso meio sonado;
- Bom dia é melhor!
Era engraçado ver em seu rosto gasto e em seus poucos cabelos brancos - os que ainda restavam por ali - uma alegria razoável para uma manhã que ainda não começara, e uma noite que se seguia sem sono, sem descanso. Talvez eu devesse ter aquela alegria estampada, talvez devesse dar mais bom dias, ou talvez devesse apenas subir e me jogar na cama. Mas por acaso, naquela noite, ele resolveu falar um pouco mais do que de costume;
- Sabe, ás vezes as pessoas não entendem porque eu prefiro os turnos da noite.
O elevador estava descendo, em toda sua lentidão, do décimo primeiro andar - onde encontrava-se parado maior parte das vezes que eu precisava dele. Já eram três e quarenta e sete da manhã, e ainda sim eu não me encontrava na companhia do sono. Não custava trocar algumas palavras com alguém, que aparentemente, apreciava-as tanto quanto eu - sem falar das madrugadas.
- As pessoas ficam sempre intrigadas com o que foge do comum.
- É, é verdade. Mas sabe, quando me perguntam eu faço questão de responder; vocês deveriam apreciar mais o silêncio.
- Então é por isso que prefere o turno?
- Da noite? Mas é claro. Já temos tanta agitação correndo solta nas ruas pelo dia inteiro. Precisamos saber o valor que o escuro e o silêncio têm. Precisamos entender o que ele nos diz. E antes de todo aquele barulho, precisamos escutar o que a gente se diz quando estamos sós.
Taí. Confesso a surpresa. Há menos de um minuto eu pensava na alegria daquele rosto antigo, que dava bom dia como se quisesse simplesmente sair por aí, vivendo. E agora ele me diz que na verdade, não era aquilo que havia entendido. Fiquei meio sem resposta. O elevador chegou, ele abriu outro sorriso e eu subi. Subi então, ao encontro do que era mais apreciado pelo Zé. O escuro do quarto e o silêncio me esperavam, quase que de braços abertos.
Naquela madrugada me prometi, de novo, que talvez eu devesse dormir mais cedo do que ontem. Prometi que eu tentaria me ouvir ao invés de simplesmente agradar. E que principalmente, tentaria aceitar as minhas condições naturais - fossem elas relacionadas ao meu ascendente que se tornava cada dia mais forte, e por conseguinte, cada vez mais parecida com meu falecido avô - ou relacionadas à minha estranha pisiqué. Que eu devesse parar de me culpar pela ausência ou falta total de compreensão dos outros - e quando digo outros aqui quero explicitar qualquer outro que não eu mesma - e que dessa forma, talvez, eu conseguisse deixar de lado minha enorme exigência virginiana. Aceitar que dias tortos assim trazem sempre consigo um escuro e um silêncio. E que preciso - prometo - entendê-los e ouvi-los. 



segunda-feira, 20 de maio de 2013

Só sei dormir com você

Talvez a insônia seja por causa da falta do seu corpo. Faz frio na cama, e o único calor é a brasa do cigarro que ilumina a penumbra do quarto. Me embrulho no cobertor, engulo duas cápsulas, mas nada parece fazer efeito. São tantos pensamentos que percorrem as veias - pulsando. O maço tá quase no fim, mas a madrugada tá só começando.  Arrepios me arranham como a adrenalina que corre solta com sede de vida que não pode ser vivida agora. Quero fugir, pegar uma roupa no armário, sair por aí. Te encontrar na esquina e sentar pra ver o mar, dissipar. Dentre palavras fica tão mais fácil. Te desejo incessantemente, até quando é noite e você dorme com sua respiração pesada. Durmo tranquila quando tá aqui, porque sei que a primeira coisa que vou fazer quando acordar é te ter, de novo. E quando tem ausência do corpo sinto falta, e fico me corroendo de saudade, extasiada, me perguntando se algum dia essa febre de flores vai sarar. Só sei dormir com você. Isso é o que o amor faz.

terça-feira, 30 de abril de 2013

Chega de meias-solas e paliativos

Escreveria à você tarde da noite, para pedir, ou dizer que eu esperava que entendesse meus becos e poços escuros - os quais, muitas vezes, me fazem mergulhar em silêncios ás vezes longos.
Dentro deles eu me perdia, ás vezes sem psicologia, ás vezes com certa ou pequena motivação. A de hoje, não chegou a ser especial, só mais uma terça-feira entediante de trabalho, mais um dia bonito que passou e que não pude ir sentir a areia, nem embarcar no vôo das quinze horas e fugir pra qualquer outro lugar - que não aqui.
Então é o que tenho agora, tarde da noite enquanto escrevo ainda pensando em você, para te tranquilizar de certa forma, e tentar responder à sua doce preocupação pelo meu olhar melancólico que durou uma eternidade, presa dentro de vinte e quatro horas que vêm se arrastando pelos ponteiros desde que pisamos fora da cama.
Durante esse dia gasto, busquei certas referências que pudessem explicar, ou ao menos me fazer aceitar - mesmo que sem entender - qualquer que fosse a origem dessa instabilidade que me deixa anti-social, anti-comida, anti-pessoal, anti-solitude. São os silêncios, aqueles dos quais falei antes. Longos, por sua vez, me tornam, como mamãe mesma me definiu: "insuportável".
São dias assim que me fazem ouvir e re-ouvir a mesma música dezenas de vezes em sequência. Algo como Caetano, Cazuza, Cássia. Ler e re-ler amores como Caio, Clarice. Talvez seja muito "se" pra uma pessoa.
Agora tento adivinhar quantos maços ainda serão necessários para que os longos se tornem curtos, e possam finalmente se dissipar.
É um sentimento de estagnação e perda de tempo. Quando se quer tanto ás vezes se perde o pouco que se tem. E como uma boa virginiana com lua também em virgem, eu quero o estrago, o amor, as aventuras e o mundo. O mesmo de sempre cansa rápido, me disseram hoje, e claro, me vi em cada letra.
Então, em meio a palavras também longas - assim como esses meus silêncios - tento te responder de uma maneira torta, assim como eu - que o que queria era pegar sua mão e fugir, pra bem, bem longe daqui.

terça-feira, 2 de abril de 2013

Distração


Hoje decidi ir bater perna na rua. Concluí que seria bom, pós trabalho, andar por algumas lojas, tomar um café - mocha branco, meu novo vício - e bisbilhotar umas vitrines em busca de distração. Foi uma escolha sábia. Aquelas coincidências ingênuas, pequenas sequências de acontecimentos que te levam a tomar uma decisão boba, mas que faz muito bem pra si.
Comprei supérfulos, observei pessoas - acho que uma das coisas que mais pode satisfazer um virginiano em dias banais como uma terça feira chuvosa são os detalhes - tomei meu vício e, claro, senti saudade.
As pessoas são curiosas, quando observadas de perto.
Entrei na livraria - outro vício incessante - pra comprar mais livros, porque os que ainda não li que estão descansando na prateleira do quarto precisam de companhia. Me rendi ao belíssimo e infinito mundo das palavras que me surpreende mais a cada dia, e tudo que consegui fazer foi me entregar. Por quase duas horas eu perambulei e li diversos prefácios, epílogos e discursos - cada um falando um pouco de paixões e segredos. Saí de lá com dois livros. Porque como disse, um nunca é suficiente.
No meu caminho pra casa, a rua estava cheia de carros, parados, com as luzes vermelhas acesas indicando que não tínhamos pra onde fugir. Mesmo com a chuva, abri a janela e acendi um cigarro. Essa lei chata de que proíbe os fumantes de se matar aos poucos em público incomoda, e vamos ser sinceros, estar perdida em palavras e páginas em preto e branco não tem a mesma graça de quando podemos ter algumas cinzas se debruçando nelas.
Mas aí o maço acabou, e o carro permanecia parado. Apelei pro livro novo, um deles. Acendi a luz do carro, e ali, em meio ao caos urbano, mergulhei em uma nova história.
O nome dela era Emma, ela tinha 22 anos e havia se mudado para Nova Iorque - não é difícil perceber o motivo da minha vontade de lê-la. Ela era escritora, estava prestes a publicar seu primeiro romance, e vivia a vida de ficção que sempre quis viver na minha realidade.
Essa era a beleza da literatura. Conseguir alcançar pensamentos, personagens, lugares sem sequer precisar pisar no acelerador. Eu era feita deles. De cada personagem e história que li, nos meus humildes vinte e três anos de existência. Eles me completavam, de certa forma, me delineavam. A cada dia, a cada parágrafo, eu conseguia me recriar. E eu adoro isso. A estagnação não nos leva a lugar algum, e a graça da vida está em se redescobrir - já dizia minha analista, e eu concordava com ela.


segunda-feira, 18 de março de 2013

E repito que te amo, porque por amor nunca é demais

Há mais ou menos três meses eu escrevi uma carta pra você, quase nas mesmas circunstâncias. Era madrugada, também, e eu - incansável apaixonada - repetia com calma palavras que tentavam descrever o quê, precisamente, passava pela minha cabeça naquele momento de saudade.
Confesso que se tornou um hábito, sentir sua falta. E me acostumei com essa saudade latente assim como me acostumei com seu sorriso bobo nas manhãs cinzentas, com seu ciúme disfarçado e com seu escudo de nuvens.
As bolhas de sabão que você fez na feira, duas semanas atrás, me perseguem até hoje. Toda noite que passo acompanhada da saudade, elas me embalam em um sono profundo, um apagão profano, pra fazer o encontro chegar às pressas e a noite longa se encerra, quando acordo antes mesmo do despertador se aventurar.
Se soubesse a paz que tenho ao encostar na tua pele e ao sentir teu cheiro, talvez não se atrevesse a se distanciar mais do que o suficiente pra meus olhos acompanharem as tuas curvas ou encostar na tua sombra.
Isso tudo é um desabafo apaixonado, de que já perdi as contas dos tantos que tenho jogados pelo quarto, nas gavetas ou na cama. Espalhados aqui como você, em cada canto, tem um novo encontro.
Não é mais suficiente o dia todo, as madrugadas se acabam e percebo que não dormi porque estava esperando a noite acabar pra te ver e te ter e te tocar e te lembrar que te quero um pouco mais do que queria ontem, e te dizer que descobri, que é sim possível essa desventura em série ser ainda maior no dia seguinte do que era nos meses passados, ou no ano passado ou.
É que faz tanto tempo, e tanto ainda por vir, que preciso te dizer e repetir e falar de novo, que o que sinto aqui dentro me faz completa, me faz sorrir. Da forma mais pura do que é o amor, você me fez parar de questionar o que vai ser ou qualquer possibilidade de amanhã, porque na verdade, no fundo, prometendo mesmo - eu digo com gosto - o amanhã chega quando você chega, com a xícara na mão e o cigarro na outra, de cabelo molhado do banho quente e senta do meu lado, me olha e diz,
Bom dia.
Aí, eu volto a respirar. O dia começa.
Mas ainda assim, não sei sequer se terminou desde a última noite que sonhei com você.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Sinto, e sinto muito


O que acontece é que não consigo escrever. Um tipo de bloqueio me envolve, e simplesmente não consigo expressar tudo que preciso. Se sinto? Sinto, você, o céu, o cheiro da chuva, as pessoas agitadas nas ruas molhadas, a saudade que bate quando viro as costas e dou o primeiro passo em direção a distância, de você. Sinto cada dia na pele, como uma nova marca, uma nova memória, uma nova chance. Sinto cada suspiro como o melhor de todos, sinto o exagero da felicidade dissipada em cada folha que cai das árvores - o outono se aproxima, e não desistimos de varrer o chão - sinto o cheiro do café perdido nas manhãs quentes do Rio, sinto o cansaço que bate no fim da noite mas me engasgo com a energia acumulada que faz o coração acelerar quase que sem ter tempo de respirar. Sinto uma saudade do que está por vir, uma ansiedade fria dentro do estômago, e um sorriso esmagador me acorda todo dia, com vontade de correr por aí. Sinto vontade de te ligar pra desejar boa noite, e bom dia e boa tarde, e ao mesmo tempo, a necessidade de ter você comigo de manhã de tarde e na noite e que ela não termine na manhã seguinte, apenas que siga. Sinto calor nas tardes abafadas, sinto frio na noite fechada, sinto sede de vida e fumaça de aventura. Me perco nas noites que posso, fujo de mim mas me encontro na esquina, abraçada contigo. Quero pegar a sua mão e te levar embora comigo, te dizer que a estrada é torta mas que eu to aqui, com todos esses "sintos" engasgados esperando você me olhar daquele jeito que só você sabe fazer - ou do único jeito que me afeta e que me tira dessa nebulosidade de estado momentâneo - pra dizer que, inacreditavelmente aconteceu de novo, e que eu te amo, e que eu te quero e que só sinto todos os "sintos" porque você tá aqui, comigo.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Temos a eternidade, não temos? A realidade não importa.

A fumaça do meu cigarro ficava mais densa a cada tragada. A garganta arranhava, pedindo mais. Fosse o frio que fazia lá fora, ou o calor que se instalava no pulmão, eu estava viva. A vida segue em uma cascata de clichés repetidos, e o tempo surte o seu efeito maestral de impelir o inevitável em cima de todos nós.
Fosse o meu nome no verso do teu cartão de embarque, a lembrança que queimava junto às turbinas ligadas enquanto você se distanciava, os sonhos que se repetiam, o desejo que não cessava, eu estava esperando.
Os dias passam, aqui ou em Paris. As horas - um pouco adiantadas pra você e retroativas pra mim - brincavam de acelerar os ponteiros para que seu desembarque se fizesse, às pressas.
As cicatrizes apareciam, aos poucos. Regeneração.
O copo suado de vinho permanecia na cabeçeira, a tinta no corpo, também.
Gostava de usar as vírgulas como havia aprendido com você, pausadamente, sem pressa.
Não corro mais. Não tenho muito onde chegar, se não na hora do café.
As fugas mudaram um pouco. Aguardo ansiosa o livro que comprei, chegar pelo correio. Acho que já falei disso pra você, como adoro receber embrulhos pardos endereçados.
E ainda assim, existe tanto que você não sabe.