terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Sinto, e sinto muito


O que acontece é que não consigo escrever. Um tipo de bloqueio me envolve, e simplesmente não consigo expressar tudo que preciso. Se sinto? Sinto, você, o céu, o cheiro da chuva, as pessoas agitadas nas ruas molhadas, a saudade que bate quando viro as costas e dou o primeiro passo em direção a distância, de você. Sinto cada dia na pele, como uma nova marca, uma nova memória, uma nova chance. Sinto cada suspiro como o melhor de todos, sinto o exagero da felicidade dissipada em cada folha que cai das árvores - o outono se aproxima, e não desistimos de varrer o chão - sinto o cheiro do café perdido nas manhãs quentes do Rio, sinto o cansaço que bate no fim da noite mas me engasgo com a energia acumulada que faz o coração acelerar quase que sem ter tempo de respirar. Sinto uma saudade do que está por vir, uma ansiedade fria dentro do estômago, e um sorriso esmagador me acorda todo dia, com vontade de correr por aí. Sinto vontade de te ligar pra desejar boa noite, e bom dia e boa tarde, e ao mesmo tempo, a necessidade de ter você comigo de manhã de tarde e na noite e que ela não termine na manhã seguinte, apenas que siga. Sinto calor nas tardes abafadas, sinto frio na noite fechada, sinto sede de vida e fumaça de aventura. Me perco nas noites que posso, fujo de mim mas me encontro na esquina, abraçada contigo. Quero pegar a sua mão e te levar embora comigo, te dizer que a estrada é torta mas que eu to aqui, com todos esses "sintos" engasgados esperando você me olhar daquele jeito que só você sabe fazer - ou do único jeito que me afeta e que me tira dessa nebulosidade de estado momentâneo - pra dizer que, inacreditavelmente aconteceu de novo, e que eu te amo, e que eu te quero e que só sinto todos os "sintos" porque você tá aqui, comigo.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Temos a eternidade, não temos? A realidade não importa.

A fumaça do meu cigarro ficava mais densa a cada tragada. A garganta arranhava, pedindo mais. Fosse o frio que fazia lá fora, ou o calor que se instalava no pulmão, eu estava viva. A vida segue em uma cascata de clichés repetidos, e o tempo surte o seu efeito maestral de impelir o inevitável em cima de todos nós.
Fosse o meu nome no verso do teu cartão de embarque, a lembrança que queimava junto às turbinas ligadas enquanto você se distanciava, os sonhos que se repetiam, o desejo que não cessava, eu estava esperando.
Os dias passam, aqui ou em Paris. As horas - um pouco adiantadas pra você e retroativas pra mim - brincavam de acelerar os ponteiros para que seu desembarque se fizesse, às pressas.
As cicatrizes apareciam, aos poucos. Regeneração.
O copo suado de vinho permanecia na cabeçeira, a tinta no corpo, também.
Gostava de usar as vírgulas como havia aprendido com você, pausadamente, sem pressa.
Não corro mais. Não tenho muito onde chegar, se não na hora do café.
As fugas mudaram um pouco. Aguardo ansiosa o livro que comprei, chegar pelo correio. Acho que já falei disso pra você, como adoro receber embrulhos pardos endereçados.
E ainda assim, existe tanto que você não sabe.