terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Liby


Enquanto a chuva caía lá fora ela se confortava com a segurança de estar em casa. Era bom ter um espaço seu. Não que não gostasse de pessoas por perto. Gostava muito. Mas desde pequena tinha certas manias. Como andar de meia pela casa, fizesse o calor que fosse. Como comer banana com nescau. Como bochechar três vezes todos os dias. Como beber água sempre após escovar os dentes. Como dormir de bruços agarrada ao travesseiro.
Essa menina era curiosa. Adorava escrever. Tinha um mundo inteiro guardado em sua gaveta e um coração que não cabia dentro de si.
Com o tempo, ela aprendeu coisas da vida. Valores, dúvidas, medos. Tudo aos poucos foi diminuindo. Deixando de ser assustador.
Se ensinou a encantar pessoas como os pássaros faziam com ela. Ela acreditava que era diferente. Mas não diferente excluída. Simplesmente diferente.
Quando podia fugir do mundo real ela pegava todas as músicas e passeava pelo arco íris sem hora pra voltar.
Quando via filmes, ela acreditava que sua vida seria como quisesse. Poderia escolher a trilha sonora.
Essa menina lia muitos livros desde seu tamanho menor. Se perguntava freqüentemente sobre a existência, o tudo, o nada. Ficava impressionada com a intensidade de certas coisas, sentimentos, fatos. E indignada com a ausência e ignorância da maioria das pessoas para tais questões.
Como podiam viver todos os dias sem um sonho ou um pensamento bom? Se conter com a sobrevivência diária como se a selvageria houvesse tomado conta.
Apreciem, ela pensava. Dêem valor a cada sol que brilha, a cada lua que se despede.
Acredita no que quiser. E está tudo bem se depois você quiser desacreditar. Você pode.
Só não se despeça da vida antes da hora. Não dê prioridade a tamanhas discussões e desentendimentos.
Ela mesma, essa menina, as vezes se perdia nesses becos. Tinha uma facilidade grande em se encantar. Cada brilho chamava sua atenção. Cada perfume dominava suas reações.
Ela se apaixonava todos os dias. E desejava que um dia fosse correspondida em suas loucuras matinais.
Mas sempre que aparecia por perto das confusões ela se lembrava que não precisava daquilo. Se isolava.
Naquele espaço que era só dela, onde ela sempre se refugiou do resto do mundo, ela brincava de ser quem quisesse.
Sabia lidar bem com personagens e fantasia. Tão bem, que as vezes se confundia.
Esquecia.
E mesmo no dia seguinte, quando acordava para viver o necessário e não o querido, se despedia com um sorriso no rosto,
como quem diz,
um dia eu volto.
E prometo,
que não demoro.

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