terça-feira, 2 de abril de 2013

Distração


Hoje decidi ir bater perna na rua. Concluí que seria bom, pós trabalho, andar por algumas lojas, tomar um café - mocha branco, meu novo vício - e bisbilhotar umas vitrines em busca de distração. Foi uma escolha sábia. Aquelas coincidências ingênuas, pequenas sequências de acontecimentos que te levam a tomar uma decisão boba, mas que faz muito bem pra si.
Comprei supérfulos, observei pessoas - acho que uma das coisas que mais pode satisfazer um virginiano em dias banais como uma terça feira chuvosa são os detalhes - tomei meu vício e, claro, senti saudade.
As pessoas são curiosas, quando observadas de perto.
Entrei na livraria - outro vício incessante - pra comprar mais livros, porque os que ainda não li que estão descansando na prateleira do quarto precisam de companhia. Me rendi ao belíssimo e infinito mundo das palavras que me surpreende mais a cada dia, e tudo que consegui fazer foi me entregar. Por quase duas horas eu perambulei e li diversos prefácios, epílogos e discursos - cada um falando um pouco de paixões e segredos. Saí de lá com dois livros. Porque como disse, um nunca é suficiente.
No meu caminho pra casa, a rua estava cheia de carros, parados, com as luzes vermelhas acesas indicando que não tínhamos pra onde fugir. Mesmo com a chuva, abri a janela e acendi um cigarro. Essa lei chata de que proíbe os fumantes de se matar aos poucos em público incomoda, e vamos ser sinceros, estar perdida em palavras e páginas em preto e branco não tem a mesma graça de quando podemos ter algumas cinzas se debruçando nelas.
Mas aí o maço acabou, e o carro permanecia parado. Apelei pro livro novo, um deles. Acendi a luz do carro, e ali, em meio ao caos urbano, mergulhei em uma nova história.
O nome dela era Emma, ela tinha 22 anos e havia se mudado para Nova Iorque - não é difícil perceber o motivo da minha vontade de lê-la. Ela era escritora, estava prestes a publicar seu primeiro romance, e vivia a vida de ficção que sempre quis viver na minha realidade.
Essa era a beleza da literatura. Conseguir alcançar pensamentos, personagens, lugares sem sequer precisar pisar no acelerador. Eu era feita deles. De cada personagem e história que li, nos meus humildes vinte e três anos de existência. Eles me completavam, de certa forma, me delineavam. A cada dia, a cada parágrafo, eu conseguia me recriar. E eu adoro isso. A estagnação não nos leva a lugar algum, e a graça da vida está em se redescobrir - já dizia minha analista, e eu concordava com ela.


Nenhum comentário:

Postar um comentário