sábado, 4 de dezembro de 2010

Perdi-me


Eu nem queria começar. De dentro vinham pensamentos, palavras. Uma angústia que não tinha fim. Daquelas que faz você querer sumir. Hoje, pessoa nenhuma foi suficiente pra mim. Nem eu mesma. Fazia uma semana que eu tentava recuperar a minha energia e encarar as coisas com o jeito positivo e extrovertido de sempre. Mas dessa vez era difícil. Uma frieza completa tomou conta, como em uma avalanche. Me sinto paralisada por dentro, quer dizer, não sinto. São tantas emoções ao mesmo tempo batendo de frente que no final não consigo dar um sorriso forte nem fazer escorrer uma lágrima densa. Um estado de ódio externo, que até o que não deveria, me incomoda. Talvez fosse insatisfação. Drama. Vitimização. Mas como, eu não suportava me fazer de vítima. Pedir ajuda, gritar ao mundo que me sinto um pequeno ser vulnerável até mesmo ao vento, e que só busca um colo aconchegante pra passar a noite. Um lugar seguro, quente, que me acalme e faça essa dor que me esmaga todo dia ir embora, pelo menos um pouquinho. Dar uma folga. Pro coração respirar melhor, os olhos se abrirem e aquele brilho que sempre morou lá poder voltar. E veja que ironia, até mesmo quando gritei aos ventos e pedi socorro parece que cortaram a linha ao meio e as coisas ficaram meio mal entendidas. Tenho eu plena consciência de que ninguém tem a obrigação de cuidar de mim. Mas sabe, é maior que obrigação, é expectativa. E uma vez que você foca de uma forma, e espera que aquilo aconteça como você quer, já era. A decepção? Devastadora. E aí descobre que as coisas tem que mudar nisso também. Suas perspectivas de vida profissional, amorosa, familiar. Tudo, de uma vez só. Como um rascunho que você deixou pela metade. O único jeito de consertar é amassar a folha e começar de novo. Respira. Pensa. Acende o cigarro. E o peso que eu carrego desse mundo, que eu carrego por mim, por você. Ninguém vê? As rezas de todo dia, a proteção que eu peço, os agradecimentos que eu faço, a força que eu preciso para não desabar no meio da rua. Tudo isso, não parece ter muito sentido. Paro e observo. O mundo lá fora, fora de mim é todo diferente. As pessoas tem um senso de não-vida. Eu acho. Todas elas parecem seguir um roteiro de filme, lentamente caminhando ao sol, fazendo seus exercícios, dirigindo atrasados. Mas o que sinto disso tudo, é um grande vazio. Uma ocupação de tempo e de mente, enquanto tudo acontece sem ser realmente percebido ou sequer visto. Talvez eu devesse tentar. Todo dia, quando eu levanto da minha cama, eu não peço um novo amor. Não peço pra esquecer você, nem pra fazer sol. Me quero de volta. Devolve, moço. Preciso de mim. Entendo agora que quando não me tenho, todos os outros vão embora. E não é possível ficar sozinha se nem eu estou por perto. É além de sozinha. Essa sensação funda, fria. Tenho medo e não consigo parar. Senti hoje tanta vontade de chorar. É. De manhã, de tarde e de noite. Mas não consigo. Nem mesmo agora de madrugada. Vou esperar as lágrimas. Me forçar talvez a colocar pra fora essa pressão do peito. Como eu faço? Me ensina? Nunca precisei de ajuda pra chorar. Nunca estive assim, sem mim. Sem cuidado. Eu me cuidava antes. Agora até ela foi embora. E eu, não sei mais até onde consigo ir, perdida nessa calçada olhando pro mar, achando que é mais confortável o mar escuro do que qualquer outro lugar. Ou abraço.

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