terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Sobre a falta de novidade


Era uma vez um menino. Ele tinha completado 5 anos não fazia muito tempo, e começava a entender melhor o significado das coisas.
Luca, era como se chamava, sempre fora extremamente observador. Detalhista, curioso e palpiteiro, sempre surpreendia com questões complexas que muitas vezes ficavam ainda sem resposta.
Era dezembro, o verão chegava com tudo. As flores estavam lá no jardim deslumbrando com seu perfume, a praia era muito frequentada e o balanço do parque estava sempre em movimento.
Um dia no carro, Luca perguntou a seu pai se na quinta feira era ano novo mesmo. Quis saber se era por isso que os primos iam vir e encher a casa, e a avó ia chegar cedo lá em casa com toda aquela comida e a mamãe estava tão preocupada com os enfeites e a Lara, irmã mais velha, irritada porque não ia poder ficar trancada no quarto. O pai disse que sim, explicou sobre a celebração, despedida do ano velho para a chegada do novo ano, e disse que com ele viriam muitas mudanças e novas oportunidades.
Bom, ele pensava, se o nome já diz "novo" é porque muito vai mudar! Começou assim uma contagem regressiva, ansioso passou o menino por toda semana, querendo participar e saber mais e mais sobre o que ia acontecer no famoso dia 31. Esperava o novo ano como quem espera a meia noite do natal, esta que inclusive para ele, que esperava um novo game, foi relativamente calma. Dormira antes da meia noite e só desembrulhou tudo na manhã seguinte. Focava toda sua energia para a noite da chegada. O que esperava, ele não sabia. Mas tinha certeza que era algo muito bom! Toda aquela festa, não seria por nada.
O desejado dia chegou. Estouraram a champagne, comeram doces e jogaram confetes. Descarregou todas as suas energias na preparação do dia, na ansiedade que brotava e só ouvia sua mãe gritar,
Luca! Se acalme guri! Pare de correr pela casa, não quero que quebre nada!
E assim, pegou no sono.
Na primeira manhã do novo ano, abriu os olhos, pulou da cama abriu a janela e olhou pra fora. Nada demais.
Talvez lá embaixo as coisas tenham mudado!
Correu escada abaixo e adentrou a cozinha como um furacão. Era cedo demais, toda a casa estava silenciosa e dormindo. Abriu a porta e saiu pro jardim.
Tudo igual. O vizinho. O carro. As flores. O céu. Até mesmo o sol estava lá, dando o ar da graça. Uma onda de decepção tomou conta. Sentou no chão, cruzou as pernas e resolveu descontar na grama verde que contornava a casa.
O pai, de costume acordava quase de madrugada, apareceu e sentou-se ao seu lado.
-O que foi meu filho, não consegue dormir?
-Papai, você mentiu pra mim.
-Menti? Sobre o que Luca?
-Você disse pra mim que era ano novo hoje.
-Ora, mas é! Por que mentiria sobre isso filhote, nunca minto pra você.
-Mas, não pode. Você vê algo novo? Procurei por todo lado, e não achei nada. Que graça tem, esse ano novo? Que chega pra ser nada?

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