quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Desabafo Refugiado

As ruas estavam vazias nessa noite de terça feira. Era feriado, e a maioria das pessoas estava em casa, se recuperando da ressaca ou vendo algum programa na tv. Eu resolvi fugir, nessa noite. Não, calma. Não foi nada dramático nem tão hollywoodiano quanto parece - ou até mesmo quanto eu gostaria que tivesse sido. Foi apenas uma fuga necessária, e bastante bem vinda.
Me programei para fugir ainda em casa, sem muitos planos nem muitas falas. Nessa noite, precisava de uma sala escura, com algumas músicas no fundo, Uma cadeira de couro reclinável, os meus óculos no rosto e algumas horas de tranquilidade - identidade - e por isso, tomei um banho e saí.
Saí pelas ruas vazias, esbarrei em algumas outras pessoas perdidas - ou nem tanto. Umas passeavam com seus cães, outras davam as mãos, andando calmamente. Era bom poder sentir a noite dessa forma tranquila. A cidade, sempre em chamas, as vezes faz você esquecer de como é bom sentir a noite assim, sozinha.
É engraçado como muitas vezes as pessoas sentem medo dessa solidão.
- Vou ao cinema.
- Ah. Vai com quem?
- Comigo.
- Ué. Mas por que? Posso ir com você.
Não, obrigada. A companhia que preciso hoje não é física, e muito menos pessoal. Disso, me basto por enquanto.
A sala de cinema estava vazia, assim como as ruas. Tinham duas amigas, um casal, dois idosos e uma outra menina, sozinha, assim como eu.
Prefiro sempre os lugares de canto. São mais isolados, reservados, e se me der a louca, tenho sempre a opção de fugir (fugir da fuga?) sem atrapalhar ninguém. Fileira I, número 1 - meu número na Cabala, dia do nascimento, número da sorte. Sempre me sinto mais acolhida quando o 1 está na jogada.
Durante cento e dezesseis minutos, estive refugiada. Que bons minutos foram aqueles. Redescobri que sou mesmo uma ótima companhia, e que deveria fazer isso mais vezes. O filme - "Entre o Amor e a Paixão" - como um senhor descreveu na fila para seu amigo: "uma dessas comédias românticas" é extremamente simples, mas trata do assunto mais complexo que eu me atrevo a acusar: o amor. E não, não é apenas mais uma comédia romântica. Ele tem senso de humor, e dos bons. Mas não se reduz a um filme água com açúcar com happy ending. Ele traz diversão, conhecimento, questionamento. Embalado por uma trilha sonora peculiar e com a fotografia e iluminação impecáveis, te faz delirar de desejo e sofrer por amor.
Fugas assim, deveriam ser mais frequentes.

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