segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Metade luz, metade treva


Tudo seu é muita dor, vive. Deixa o tempo resolver, o que tem que acontecer, livre. - Dizia Bethânia. Pelo menos eu encontrava em algumas palavras perdidas, sonoras, um colo necessário pra desprender do sofrimento, ou pelo menos pra ter aquilo que já me via sem - aquela esperança. Inútil chorar. Mas às vezes, era só o que conseguia fazer.
- Você chora muito frequentemente?
Minha terapeuta perguntou, dia desses.
E fui sincera, disse - só quando sinto vontade, e não me ocorre tantas vezes essa necessidade.
Parecia irônico, que depois daquela pergunta, dia desses, me ocorreu diversas vezes, essa necessidade. E chorei. Incontrolavelmente, como uma criança que não vê depois, apenas a dor daquela hora, daquela vida.
Desencana, meu amor. Tudo seu é muita dor.
Ela continuava a soar como soundtrack, insistindo.
Como é que é possível viver assim, Maria, me diz.
Quando o passado é tudo que resta, e a memória é a única fonte de saudade que se preza. O amanhã não tá aí com certeza nenhuma. O dia de hoje toma conta de agora, e depois, o que virá?
É uma angústia inusitada e constante, que amorna o peito e faz da dor um prazer masoquista, reprimido nas lágrimas que não param de correr.
Essa coisa de brincar de viver me consome, desgasta.
Em busca de falsas esperanças - sim, porque no agora não existe mais crença, só dor - a gente brinca, se perde no labirinto de todo dia, se engana e finge que as coisas não acabam, que amanhã o porta-retrato vai estar lá, empoeirado e no mesmo lugar, ao lado do maço vazio, do cinzeiro transbordando e daquele copo pela metade.
Desenflama, meu amor.
E vive.

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