quinta-feira, 19 de julho de 2012

Fronteira

Aqui é onde a gente percebe a diferença e sente falta do que é nosso. Uma semana foi tempo suficiente pra me fazer sentir falta daquilo que tinha ficado pra trás, mesmo que por tempo determinado, mas soava diferente na prática. A minha rotina de segundas quentes e fumaças no jardim, a minha terça de acordar antes da hora, o latido da minha cachorra à porta e as suas lambidas desesperadas, o cheiro da maresia e o bater das ondas. Aquelas coisas bobas, pequenas e simples que a gente tá acostumado, e que só sabe a falta que faz quando não encontra elas no dia seguinte. Aqui as pessoas são diferentes. O olhar delas é mais calmo e passivo, as roupas são básicas e todos parecem muito satisfeitos e acomodados. A turbulência da cidade grande e aquele agito constante que faz as pessoas não aguentarem ficar estagnadas em um sinal de trânsito é desconhecida, por aqui. As ruas são largas e não falta espaço, os carros são neutros e o asfalto trepidado. O ritmo do lugar é simpático, e apenas cruzei sorrisos no caminho, com exceção de uma rispidez insegura.
Acho que nem sei quando foi a última vez que fiquei assim, sozinha. Quando digo sozinha, significo ausência de pessoas. E apesar da falta, essa aventura teve um resultado positivo, e fundamental. É engraçado como nós tendemos à uma adaptação circular que começa e termina no mesmo lugar. E ter uma quebra nesse ciclo me fez valorizar tanto algumas coisas, mas principalmente, aquelas pessoas, as principais. Que saudade tenho de algumas, que ausência boa foi a de outras. Analisar em linhas tortas o que faz falta nos submete a exercer uma escala de sentimentos e aprender a separar, a reagir e a apreciar. Apenas o que sinto agora, é aquela vontade desmedida de voltar. Seja pra rotina, pra confusão, pr'aquele ritmo acelerado de vida e pr'aquele cheiro de mar aberto, pr'aquele banco branco onde eu sento todo dia e tomo café, pr'aquele céu azul cheio de esperança e cheio de conhecimento. A sorte que a gente não tem, é só aquela que não se percebe. Perder isso, mesmo que por pouco tempo, mesmo que apenas por uma distância passageira, mesmo que sem perder totalmente, faz você saber o que deve ser perdido, e faz você querer ainda mais aquilo que ficou pra trás. Eu quero, e quero demais. Quero o avião pousado, com a poltrona reclinada e os fones nas alturas e quero terra firme, quero a minha cidade maravilhosa de volta, quero o engarrafamento, quero aqueles problemas, quero calendário cheio, quero esquecer de acordar, quero ouvir a porta bater, quero te ver chegar, quero sair de casa, quero a minha calma de volta.
Eu quero a minha casa. E não importa pr'onde se vá,
O importante é pr'onde se quer voltar.

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