terça-feira, 17 de julho de 2012

Roteiro

A cama ao lado estava vazia. Aquele espaço cheio de ausência refletia o silêncio que fazia no corredor. A semana começou com o céu entorpecido, cheio de nuvens caregadas que pareciam o lado de dentro. Era tanta coisa que a respiração falhava. Tanto você, tanto eu, tanto o mundo todo. Eram cobranças acumuladas, receios intermináveis, o choro preso na retina e a visão embassada. Como é que faz pra andar assim, com esse peso que persegue, esse medo que não some e essa insatisfação que não cansa. São tantas virtudes misturadas com expectativas afogadas. Tanta fé com muralhas de concreto. Coisa demais. São mensagens omitindo palavras, saudade desamparada, pensamento ilimitado e loucura latente. Como é que faz pra fazer tudo isso desaparecer, calar ou padecer. É tanto pesadelo prum inconsciente só, tantas vontades pra pouco tempo, tanta insegurança pruma criança. É tanto cigarro com café, tanto pêlo arrepiado, tanto vento congelado. Como é que faz pra voltar e viver, acordar e se mover, desprender aquele lençol. Tantas imagens em retrospecto, tanta roupa jogada no chão, tanta luz pra pouco porão. Como é que faz pra ser.

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